Vânia Cristino/ Especial Estado de Minas
postado em 17/01/2010 09:38
Os alvos principais dos que compram o segundo imóvel ; financiado ou à vista ; são empreendimentos de dois e três quartos, avaliados em até R$ 500 mil, que se encaixam perfeitamente dentro das regras do Sistema Financeiro da Habitação (SFH), no qual as taxas de juros são mais atrativas. A opção por imóveis desse tamanho tem uma série de razões: pode significar uma melhora da moradia, pois a pessoa aumentou a renda e quer viver em um lugar mais espaçoso ; o antigo passa a ser alugado, o que voltou a ser um bom negócio devido à nova Lei do Inquilinato; pode ser uma opção de investimento, porque a valorização é maior, assim como a facilidade de venda.O consultor de empresas Valdemar de Figueiredo Lima Neto não pensou duas vezes em arrematar o segundo imóvel. ;E não me arrependi;, afirma. Ele financiou um apartamento de 60 metros quadrados, com dois quartos, em Samambaia. ;Quando comprei, o imóvel valia R$ 90 mil. Um ano e meio depois, está valendo R$ 135 mil, ou seja, 50% a mais. E olha que o prédio ainda nem está pronto;, diz. Lima Neto pretende ficar com o apartamento só até receber as chaves, quando o venderá com lucro e partirá para um novo investimento, muito provavelmente um outro imóvel.
Na avaliação de Fabrício Aroeira, diretor-comercial da Apex Engenharia, casos como o de Lima Neto são cada vez mais comuns em Brasília, onde a renda per capita é a maior do país e parcela importante dos empregos é estável, graças à forte presença do governo na economia. ;Nesse contexto, a valorização dos imóveis na capital do país tem variado entre 20% e 25% ao ano. Não se consegue esse retorno em nenhum outro tipo de investimento com risco tão baixo;, assegura. A demanda, porém, está disseminada por todo o Brasil, inclusive em centros urbanos próximos de regiões produtoras agrícolas, já que famílias estão comprando o segundo imóvel para filhos que vão estudar em universidades.
;Na média, as pessoas que estão comprando o segundo imóvel têm mais de 30 anos, conseguiram quitar o financiamento da primeira moradia, têm estabilidade de emprego e renda suficiente para absorver uma prestação um pouco mais salgada;, ressalta Aroeira. É o caso do advogado Antônio Lisboa Cardoso. Ele adquiriu um apartamento de quatro quartos no Plano Piloto, avaliado em R$ 800 mil. ;Fiz as contas e vi que dava para arcar com a prestação do novo imóvel, alugando o anterior, de três quartos, também localizado no Plano Piloto;, conta. ;Foi um ótimo negócio;, assegura.
Chaves caras
Para tornar a compra do segundo imóvel mais palatável, a opção tem
sido arrematar o empreendimento na planta, pois as condições oferecidas pelas construtoras são melhores: o valor do sinal é dividido em até seis parcelas e as prestações acompanham a variação do Índice Nacional da Construção Civil (INCC). Depois da entrega das chaves, porém, o melhor é recorrer a um financiamento bancário, pois os juros são menores, reconhece o gerente da Carteira Imobiliária da PauloOctávio Investimentos, Marco Lopes. Enquanto, na média, as taxas bancárias ficam em 9% ao ano além da Taxa Referencial (TR), as construtoras cobram 12% anuais mais a variação do Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M).
;Depois das chaves, o financiamento das construtoras fica bem mais caro. Por isso, recomendamos à clientela que procure uma instituição financeira em busca de um empréstimo para arcar com o saldo devedor;, frisa Lopes. Essa dica se tornará ainda mais importante no decorrer dos próximos anos, quando se espera uma nova rodada de redução dos juros da casa própria. ;Crédito imobiliário é o nosso negócio. Trata-se do segmento em que os bancos mais podem crescer;, diz Antonio Barbosa, diretor de Crédito Imobiliário do HSBC. Ele lembra que, no Brasil, o financiamento imobiliário representa apenas 3% do Produto Interno Bruto (PIB), contra 10% do México e 17% do Chile.
No caso dos que compram o segundo imóvel para investimento, o financiamento bancário não é prioridade. O que se observa é uma disposição de dar uma entrada maior no valor fixado pelas construtoras. Com isso, acabam pagando o empreendimento entre 24 e 36 meses, período da construção, tempo suficiente para garantir uma boa valorização.
BB tem R$ 7 bi para emprestar
O Banco do Brasil decidiu pisar fundo no financiamento da casa própria. Segundo o vice-presidente de Novos Negócios da instituição, Paulo Rogério Caffarelli, o BB tem hoje capacidade para liberar até R$ 7 bilhões, incluindo os recursos captados pela Nossa Caixa por meio da caderneta de poupança. Desse total, R$ 2,1 bilhões deverão ser emprestados em 2010, elevando a carteira habitacional do atual R$ 1,6 bilhão para R$ 3,7 bilhões ; um salto de 131%. ;Com exceção da Caixa Econômica Federal, não há nenhum outro banco no mercado com tantos recursos disponíveis para o financiamento da casa própria;, diz.
A meta do BB é chegar a 2012 entre os três maiores bancos com atuação no sistema imobiliário. ;Queremos ter entre 6% e 7% do mercado. Esse é o percentual compatível com o tamanho do BB;, afirma Caffarelli. Hoje, a participação do banco no estoque total de financiamento de moradias é de apenas 1,6%. ;É pouco, perto do que é o Banco do Brasil. Mas não podemos esquecer que começamos a operar nesse mercado somente no fim de 2008, no auge da crise mundial;, assinala.
Na estratégia para crescer, o BB fechou acordo com as 16 maiores construtoras do país para financiar diretamente os empreendimentos imobiliários. Agora, está finalizando a parceria com uma promotora de crédito imobiliário a fim de comprar toda a carteira de crédito que ela vier a gerar. ;Não se pode esquecer ainda que temos, em nossos cadastros, mais de 2,4 mil construtoras, a maior parte delas com crédito pré-aprovado;, destaca. ;Sabemos que o financiamento da casa própria é o principal produto para o crescimento dos bancos. É uma forma de manter um cliente fidelizado por 15, 20, 30 anos;, acrescenta.
Caffarelli ressalta que o banco vai partir para cima de todo tipo de cliente, inclusive os de renda mais baixa, público-alvo da Caixa. Tanto é que, entre projetos aprovados e em análise, o BB já disponibilizou R$ 1,5 bilhão para a construção de 23 mil unidades dentro do programa Minha Casa, Minha Vida. ;A nossa expectativa é de, até 2012, liberar R$ 5 bilhões para o financiamento de 88 mil imóveis dentro desse programa;, assinala.
Ele chama ainda a atenção para o foco do BB sobre os servidores públicos, aos quais estão sendo oferecidas condições especiais de financiamento. No geral, o banco está cobrando nos empréstimos juros entre 8,4% e 12% ao ano além da variação da Taxa Referencial (TR) para imóveis avaliados em até R$ 500 mil. (VN)