Economia

Obama confronta lobistas do mercado e os pregões reagem em todo o mundo

postado em 22/01/2010 07:01
Cansado de negociar com os banqueiros e preocupado com sua vertiginosa perda de popularidade, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, entrou em confronto direto com o sistema financeiro. Ele apresentou ontem um programa dificultando operações especulativas no mercado futuro e limitando o tamanho dos bancos. A notícia causou nervosismo entre os investidores. As principais bolsas do mundo, que já estavam recuando com as preocupações sobre o ritmo de crescimento da China (veja abaixo), fecharam no vermelho (veja quadro). As ações bancárias despencaram. A Bolsa de São Paulo (Bovespa) registrou forte baixa de 2,83%, aos 66.270 pontos. E o dólar(1) foi valorizado.

Obama divulgou as novas diretrizes num duro discurso na Casa Branca em que sobraram críticas aos banqueiros. ;Minha mensagem para os líderes do setor financeiro é para trabalhar conosco, e não contra nós, nas reformas necessárias. O que tenho visto nas últimas semanas é um exército de lobistas de Wall Street se dirigindo ao Congresso para tentar bloquear regras básicas e de bom senso que protegeriam nossa economia e o povo americano;, reclamou. ;Se esse pessoal quer briga, essa é uma briga que eu estou pronto para encarar.; Os projetos de lei precisam de aprovação parlamentar.

O primeiro, apelidado de ;Regra de Volcker;, em alusão ao ex-presidente do Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos EUA) e hoje assessor econômico de Obama, proíbe bancos comerciais de possuir fundos de hedge (proteção contra movimentos bruscos em juros ou câmbio) ou mesmo investir neles ou patrociná-los. Os bancos também não poderão se relacionar com os fundos de private equity, que financiam a criação de empresas de alto risco. Esse projeto impede ainda o uso do capital próprio do banco na ciranda financeira no mercado futuro. Essas operações são muito arriscadas e, se derem errado, podem prejudicar os correntistas.

Tamanho
A segunda proposta limita o tamanho dos grandes bancos a um percentual do volume de depósitos em todo o sistema financeiro. Hoje, esse teto é de 10%. O novo nível vai ser negociado no Congresso. ;Nunca mais o contribuinte americano será tomado como refém de um banco que é muito grande para quebrar;, disse Obama. Por temer os efeitos em cascata da falência de gigantes como o Bank of America, o Citigroup e o Wells Fargo, o governo foi obrigado a despejar até US$ 700 bilhões para salvar as instituições com problemas. ;Embora o sistema financeiro esteja mais forte do que um ano atrás, ele ainda opera sob as mesmas regras que o levou perto do colapso;, justificou a reforma.

Riscos
O objetivo das medidas é diminuir os riscos sobre os depósitos dos clientes, separando as operações de um banco comercial das de um banco de investimentos. Atualmente, mesmo as operações no mercado futuro gozam dos privilégios de transações de uma instituição que lida com clientes, como um teto garantido pelo Tesouro. O consultor Carlos Eduardo de Freitas, ex-diretor da área internacional do Banco Central, criticou o pacote. ;O desenvolvimento de técnicas financeiras nas chamadas operações especulativas permite o aumento dos lucros que financiam os empréstimos. Obama parece um presidente populista latino-americano;, atacou.

Para Freitas, em vez de proibir as operações, o Fed e o Tesouro deveriam aumentar a supervisão, impondo limites para evitar que o volume de recursos aplicados no mercado de derivativos afetasse o dinheiro dos depositantes. Na sua avaliação, Obama parece arrependido de ter socorrido os bancos, mantendo o controle das instituições nas mãos dos mesmos acionistas.

Depois do discurso presidencial, as principais bolsas do mundo atingiram seus pontos mínimos ontem, no segundo dia de quedas generalizadas. ;Isso vai ter um impacto tremendo sobre instituições de grande porte. Se elas pararem de operar em benefício próprio, isso não só vai secar a liquidez do mercado, como vai mudar toda a estrutura de Wall Street;, disse Ralph Fogel, estrategista da Fogel Neale Partners. ;Não se sabe se as instituições vão conseguir separar as atividades comerciais das de investimento;, avaliou John Spinello, analista da Jefferies & Co.

Em Nova York, o índice Dow Jones caiu 2,01%, na pior sessão desde outubro. Os principais destaques negativos foram as ações de bancos. Ontem foi um dia de protesto em Wall Street, onde ativistas manifestaram contra a decisão dos bancos de pagar bônus milionários a executivos.

1 - Barreira de R$ 1,80
A piora nas condições dos mercados financeiros e uma nova compra de dólar feita pelo Banco Central foram ontem os ingredientes que faltavam para a moeda americana ultrapassar a barreira de R$ 1,80. Ao fim da quinta-feira, a divisa fechou cotada a R$ 1,802, com valorização de 0,73% sobre a quarta-feira, o maior nível desde setembro de 2009. Com a alta de ontem, o dólar acumula alta de 3,43% em janeiro.

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