Marinella Castro/Encontro BH
postado em 24/01/2010 09:46
O setor supermercadista vive um desafio tentador em este ano: desenvolver produtos alimentícios específicos para aplacar o apetite crescente de 130 milhões de brasileiros das classes C, D e E que passaram a consumir mais, incluindo itens importados. O setor, que movimenta R$ 170 bilhões por ano, aposta no crescimento da renda das famílias. A expectativa é de que o carrinho de compras do consumidor fique cada vez mais cheio e a conta do caixa, mais polpuda. O otimismo levou a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) a estimar um crescimento de 9% nas vendas deste ano sobre 2009, que obteve desempenho positivo de 6% sobre 2008, apesar da crise mundial.
"Os dados de 2009 ainda não estão fechados, mas estimamos crescimento de 6%, o que é muito bom em um ano que o Produto Interno Bruto (PIB) não deve crescer", ressaltou Sussumu Honda, presidente da Abras. "Nosso desafio é atender a um mercado de massa", definiu, como meta de 2010. Segundo ele, para continuar crescendo, e em patamares ainda mais robustos, é necessário atender ao novo mercado que está se formando no país. Além de representar fatia considerável de consumidores, as classes de menor renda são também a maioria da população: 70% do total.
Espaço
O maior contingente está "esquecido" nas regiões Norte e Nordeste, onde as grandes redes começam a se instalar. Contudo, há espaço para expansão onde o consumo tradicionalmente é mais forte. "No geral, o varejo tem muito caminho a ser percorrido. Tem espaço para ser ocupado em todas as regiões", diz Honda. Segundo ele, nem mesmo o recente processo de concentração no setor de eletroeletrônicos, como o anunciado pela rede Pão de Açúcar e Casas Bahia, deverão inibir a expansão e a disputa pelo setor de alimentos. "No caso do varejo alimentar, é muito difícil haver um processo de concentração. No Brasil, não existe uma cadeia nacional presente em todos os estados. O varejo ainda está se consolidando", afirmou. As diferenças regionais impedem a concentração nas mãos de poucos gigantes.
Segundo o representante da Abras, os hábitos de consumo são muito diferentes em um país de grandes dimensões, o que dificulta aplicar um sistema de forma nacional, com um único padrão. Honda destaca também a existência do sistema de redes de compras como alternativa para as pequenas empresas fazerem frente aos grandes grupos. "Não dá para brigar com os grandes tentando vender arroz e feijão. O caminho para os menores é fazer o que os grandes têm dificuldade para colocar em prática."
A preocupação da Abras é com um possível e exagerado aquecimento da demanda sem o necessário acompanhamento por parte da oferta. "O desafio é termos produção suficiente para não enfrentarmos o chamado gap, provocado por um forte aquecimento, o que pode elevar os preços. Isso sem falar na pouca mão de obra qualificada. O problema que afetou a construção civil tende a chegar ao varejo", alerta o representante do setor.
O número
9%
Expectativa de crescimento das vendas dos supermercados em 2010 em relação a 2009
Importados influenciam
A crescente oferta de produtos ao consumidor brasileiro, especialmente a de importados, é vista como algo positivo pela Abras. O país é um grande importador não só de brinquedos e de eletroeletrônicos, mas de produtos alimentícios. No segmento gourmet, a presença dos importados é grande.
No varejo alimentar, eles representam 3% do mix dos produtos. A expectativa é que a participação suba para 4% este ano. "A tendência é que, quanto mais a renda do brasileiro melhore, mais os importados sejam apresentados às classes C e D, o que vai contribuir para a oferta desses produtos", avalia o presidente da Abras, Sussumu Honda.
Mas, para melhorar a "cesta alimentar" oferecida ao consumidor, o setor supermecadista brasileiro precisa também padronizar essa cadeia produtiva, especialmente as etapas que envolvem o setor de alimentos in natura e frios.
"A falta de padronização é um desafio. A perda no setor de hortaliças e frutas chega a 25%. O índice também é alto na cadeia fria. As perdas chegam a ser superiores ao lucro, que é de 2% - é um absurdo. Estamos trabalhando para mudar esses números", avisa Honda.
Sacolas
O trabalho da Abras para promover seus associados é abrangente. Os cuidados chegam a detalhes como o das sacolas plásticas utilizadas para embalar as compras. Segundo Honda, há uma atenção ao seu uso, cada vez mais reduzido.
"O consumidor está mais consciente e parou de gastar uma sacolinha para levar dois sabonetes. A indústria também está investindo em produtos reciclados e reutilizados. As soluções vão surgindo", afirma.
Entre elas, há pelo menos dois estudos: um para produzir sacolas biodegradáveis a partir do milho, o que teria um custo de importação, e outro, a partir da da cana-de-acúcar.