Economia

Comitê de Política Monetária mantém taxa a 8,75% ao ano, mas retira expressão que ameniza situação produtiva

postado em 28/01/2010 09:04
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central seguiu à risca o roteiro traçado pelo mercado financeiro e manteve a taxa básica de juros (Selic) em 8,75% ao ano. Também como esperado, com o comunicado pós-reunião, o BC desvencilhou-se de mais uma amarra para dar início ao processo de alta da Selic, muito provavelmente a partir de abril próximo. A instituição optou por um texto lacônico para justificar a decisão unânime do Copom, deixando de fora a expressão ;ociosidade remanescente dos fatores produtivos;, observada em dezembro passado. Ou seja, o Comitê já vê a economia operando quase no seu limite máximo, um problema para a inflação.

Presidente do BC, Meirelles também votou pela manutenção da taxaCom a estabilidade da Selic, o Brasil voltou a ostentar o título de campeão mundial de juros. Pelas contas da Consultoria UpTrend, o país retornou ao topo do ranking com taxa real (descontada a inflação projetada para os próximos 12 meses) de 4% ao ano. Até o mês passado, o posto era ocupado pela China, onde os juros reais caíram para 3,6% devido ao aumento da inflação. Foi por causa da disparada dos preços que o governo chinês baixou medidas ; entre elas, o aperto no crédito ; para conter o consumo doméstico e o crescimento.

;Muito provavelmente, na reunião de março, o Copom será ainda mais claro sobre os rumos da política monetária, pois terá um quadro mais claro tanto da inflação quanto do nível de atividade. Mas não acredito que a Selic subirá naquele mês, como falam alguns;, afirmou o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves. Para ele, um problema a mais entrou no radar no BC, que pode resultar em inflação mais adiante: o câmbio. Desde o início do ano, os preços do dólar subiram quase 7%, resultado das incertezas que tomaram conta do mundo sobre a real capacidade de reação das economias dos Estados Unidos e da Europa e sobre as políticas contracionistas da China.

Riscos
Para Tatiana Pinheiro, economista do Banco Santander, o balanço de riscos para a inflação aumentou muito entre as duas últimas reuniões do Copom. A previsão de inflação do mercado para este ano passou de 4,43% para 4,60%, superando o centro da meta (4,5%) perseguida pelo BC. Os núcleos da inflação, que descontam fatores atípicos, pularam, no acumulado de 12 meses, de 4,53% e 4,78% para 5,54%. Já o preço do barril do petróleo avançou de US$ 73,8 para US$ 78,1. Isso, com o nível de atividade crescendo a taxas de dois dígitos. ;Mas, apesar de toda essa piora, só vejo a Selic subindo a partir de julho, pois o objetivo do BC será o controle da inflação de 2011 e não a deste ano.;

No entender de Gustavo Gazaneo, gestor de recursos da SLW Asset Management, a Selic avançará a partir de abril dos atuais 8,75% para 11,25% ao ano. Mas, a seu ver, esse movimento será necessário mais para controlar as expectativas do que propriamente a inflação. ;O governo não permitirá que a inflação fuja da meta. Há mecanismos, como a redução de impostos sobre os combustíveis, que podem segurar o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo);, frisou. Os analistas vão acompanhar também, com lupa, os passos políticos do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que pode deixar o cargo até o fim de março para ser vice na chapa presidencial liderada pela ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, ou disputar o governo de Goiás. ;Com certeza, a saída de Meirelles está sendo precificada pelo mercado nas projeções para os juros;, disse um operador.

"O governo não permitirá que a inflação fuja da meta"
Gustavo Gazaneo, gestor de recursos da SLW Asset Management

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação