DAVOS - O ministro da Fazenda Guido Mantega descartou nesta sexta-feira em Davos que existam pressões inflacionárias no Brasil, como ocorre na China, e assegurou que o país está em processo de crescimento sustentável com controle fiscal e monetário.
Enquanto a China combate pressões inflacionárias e o temor de bolhas especulativas - e enfrenta críticas da comunidade internacional por sua política econômica -, o Brasil afirma ter engatilhado um crescimento sustentável para os próximos anos, o que demonstra que não é possível colocar no mesmo saco todos os mercados emergentes, e sequer os Brics (Brasil, Índia, Rússia e China).
"O Brasil está tendo um processo de crescimento sustentável, porque são mantidos os fundamentos, cuidamos muito da questão monetária e da questão fiscal", afirmou Mantega em Davos, onde participa do Fórum Econômico Mundial.
"Não temos maiores preocupações" a respeito da inflação, disse o ministro, lembrando que a alta do índice de preços ao consumidor foi de 4,31% em 2009, e que a projeção para 2010 é de 4,5%.
A questão da inflação está se tornando um problema para outros grandes países emergentes, particularmente a China.
A economia chinesa vem crescendo a ritmo fenomenal (10,9% do PIB no quarto trimestre de 2009), mas o aumento dos preços imobiliários e dos títulos financeiros despertou temores inflacionários que já forçaram o governo a cortar o crédito bancário para frear o consumo excessivo.
No caso do Brasil, estima-se que a economia tenha registrado crescimento nulo em 2009, e que poderá crescer entre 5 e 6% este ano.
"Nós temos um crescimento equilibrado entre demanda e investimentos. Por isso chegamos à conclusão de que o crescimento é sustentável e que terá continuidade nos próximos anos", indicou Mantega, que participou nesta sexta-feira junto com outros membros da delegação brasileira de um almoço organizado para discutir perspectivas econômicas do Brasil.
Os países emergentes continuam na vanguarda da recuperação econômica mundial, já que saíram relativamente ilesos da crise. No entanto, não estão isentos de riscos, como demonstra a atual situação da China.
Mas, assim como há diferenças entre os mercados emergentes, também há semelhanças, que incluem os riscos que cercam o crescimento sustentável destes países.
"Seria um erro pensar que o crescimento será mantido se a economia mundial como um todo não conseguir superar completamente a crise e restaurar a confiança", estimou o ex-presidente mexicano Ernesto Zedillo, falando em um "grande sinal de interrogação" no que se refere ao futuro próximo.
"O maior risco é que não haja uma recuperação suficiente da economia mundial para estimular o comércio", concordou Guido Mantega.
No caso das grandes economias da América Latina, hé dois pontos a favor importantes: a regulação financeira aplicada após as crises dos anos 90 no Brasil, no México e na Argentina, e as boas reservas em moeda de varios países da região.
"O Brasil tomou medidas para mitigar o problema do dólar subvalorizado. Está comprando mais reservas, criou uma taxa de transações financeiras que acalmou o ingresso de capitais", explicou Mantega, para quem o problema não está resolvido, embora esteja mais controlado do que em épocas passadas.