postado em 06/02/2010 17:08
Brasília - As incertezas sobre o processo de recuperação da economia mundial não deverão afetar as contas externas do Brasil, avaliou o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa. Em entrevista exclusiva à Agência Brasil, ele afirmou que o atual nível das reservas internacionais e o sistema de câmbio flutuante preservarão o país de problemas no balanço de transações correntes.
No regime de câmbio flutuante, explicou o secretário, o câmbio se deprecia e o balanço de pagamentos se ajusta automaticamente num cenário de escassez de recursos externos. %u201CO próprio câmbio ajusta o balanço de conta-corrente. Se o déficit de conta corrente for muito superior à entrada de capitais, duas coisas podem ocorrer: perda de reservas ou alta no câmbio%u201D, disse Nelson Barbosa.
Quando o país não tinha câmbio flutuante, os impactos dos ajustes cambiais ocorriam sobre a dívida pública e os juros. %u201CSe porventura isso acontecer [retração de recursos externos], não vai desestabilizar as contas públicas e o sistema financeiro brasileiro%u201D, afirmou.
O secretário descartou o uso da taxa de câmbio como instrumento de política comercial. "É uma política que administra as reservas internacionais para reduzir a volatilidade do câmbio e manter uma baixa vulnerabilidade externa da economia. O câmbio tem obviamente impactos indiretos sobre a competitividade das nossas exportações, mas não é guiado por esse motivo", declarou.
Nos últimos dias, o temor sobre o endividamento público de alguns países da União Europeia provocou queda nas bolsas e temor para os investidores estrangeiros. Para Barbosa, a situação fiscal de alguns países europeus desperta incertezas, mas a equipe econômica está certa quanto à recuperação americana. %u201CA gente sabe que os Estados Unidos estão se recuperando, mas não há velocidade desse processo. Tudo indica que é mais lenta do que se esperava antes%u201D.
Barbosa considera o atual cenário melhor que o do final do ano passado, porém pior que as expectativas que se tinham há alguns meses. "O mercado fez uma onda de otimismo no meio do ano passado. Agora parece que está havendo uma correção de expectativas", comentou.
Neste ano, o Ministério da Fazenda projetou crescimento de 5,2% no Produto Interno Bruto (PIB) levando em consideração que as compras do exterior crescerão mais que as vendas externas. No médio prazo, no entanto, Barbosa acredita que as exportações e importações cresçam no mesmo ritmo e afirma que o governo está estudando medidas para melhorar a competitividade dos produtos brasileiros no mercado internacional.
Segundo Barbosa, as ações envolvem a simplificação de processos e ampliação de benefícios fiscais. "Elas envolvem, desde questões pontuais, como uma expansão do regime de drawback [isenção tributária para insumos de mercadorias produzidas para exportação] como questões mais pontuais, como registros de exportações e de administração de informações de exportação. Mas a questão que é recorrente, que aparece, são os créditos acumulados pelos exportadores", disse.