postado em 07/02/2010 09:20
Chegou a hora de a União Europeia mostrar a que veio. Alguns países que usam o euro como moeda ; Grécia, Espanha e Portugal, principalmente ; dão mostras claras de irresponsabilidade fiscal (gastam mais do que arrecadam e têm dívidas crescendo velozmente) e podem contaminar a seriedade do projeto de moeda única.Enfrentando as maiores tensões econômicas desde a sua criação, há 11 anos, parece provável que a zona do euro se mantenha unida por enquanto, mas a possibilidade de saída de alguns dos seus membros mais fracos não pode ser excluída em longo prazo. Derrubando os preços das ações e dos bônus na Grécia, na Espanha e em Portugal, a semana passada ressaltou os temores dos investidores de que os países altamente endividados da Europa mediterrânea podem ser incapazes de lidar com as exigências fiscais e monetárias da zona do euro.
Muitos analistas esperam que a União Europeia ; ou o Fundo Monetário Internacional (FMI), que deve ajudar a Grécia se for requisitado ; intervenha com algum tipo de auxílio para países enfraquecidos se isso se mostrar necessário para manter a zona do euro intacta. Estima-se que um pacote convincente de ajuda à Grécia ficaria entre US$ 20 bilhões e US$ 25 bilhões. Contudo, as economias têm tantas incongruências que, mesmo se os membros fracos forem resgatados, os seus problemas ainda podem prejudicar o crescimento no bloco durante anos e possivelmente levá-los a abandonar o euro em algum momento nesta década se os custos forem muito altos.
;Por um momento, pareceu que as coisas estavam bem, mas agora estamos vendo divergências;, disse o economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard. ;Estamos vendo Espanha e Portugal de um lado, e Alemanha do outro. Não existem ajustes fáceis.; As fraquezas dos membros do sul da Europa foram mascaradas no início por um ambiente global benigno, pelo crédito barato e pela expansão do setor imobiliário.
Na crise financeira de 2007 a 2009, o fato de ser membro da zona do euro protegeu os países da turbulência dos mercados. Nos últimos meses, porém, os custos e benefícios da zona do euro mudaram. A dívida pública se acumula e o desemprego subiu tanto que os países precisam de um crescimento repentino para reduzi-lo, mas, como parte do bloco, os países não podem cortar as taxas de juros nem depreciar suas moedas.
A saia justa monetária só deve apertar ainda mais à medida que a recuperação econômica de membros mais fortes, como a Alemanha, aumenta a pressão para que o Banco Central Europeu (BCE) encerre a sua política monetária ultra-afrouxada. Assim, começa a ser desenhada uma segunda década de união monetária oposta à primeira, com a política de juros centrada nas grandes economias da zona do euro, alertou Daniel Gros, chefe do Centro para Estudos de Políticas Europeias.
;O BCE vai fazer políticas para o cerne (da zona do euro). A periferia será deixada de fora;, disse Gros, que, apesar de acreditar na sobrevivência da união monetária, acha que a saída de um país pequeno não é mais inimaginável. As especulações sobre a saída de um país provavelmente são inapropriadas. Os países continuam a alguma distância do momento em que participar da zona do euro seria intolerável; apesar de a taxa de desemprego da Espanha (1)estar perto de 20%, o país viveu com uma taxa igual ou maior que essa na metade dos anos 1980 e 1990.
O processo de abandonar o euro seria tão doloroso e difícil, também no espectro político, que os governos devem eliminar quase todas as outras opções antes dessa. Entre os muitos desafios, os países teriam de encontrar maneiras de tirar os depósitos dos bancos domésticos do sistema monetário do euro para prevenir a fuga de capital e pagar empréstimos imobiliários denominados pelo euro que poderiam subitamente se tornar mais caros. Além disso, a zona do euro é uma conquista política histórica que os seus membros mais ricos, como a Alemanha e a França, devem tentar defender.
1 - Retração
A economia espanhola se contraiu em 3,6% em 2009, a maior retração em décadas, por causa da forte queda no consumo doméstico. No último trimestre, a retração se desacelerou, com taxa negativa de 0,1% ante o período imediatamente anterior, de acordo com o Banco Central. No terceiro trimestre, o resultado foi de queda de 0,3%.