Economia

Europa promete ajudar Grécia, mas não divulga nenhuma medida prática

postado em 12/02/2010 08:08
Os líderes da União Europeia (UE) garantiram ontem que vão ajudar a Grécia a sair da sua grave crise fiscal, evitando o contágio na Zona do Euro, mas decepcionaram os investidores ao não anunciar nenhuma medida concreta. Enquanto ainda havia a expectativa sobre o socorro, as três principais bolsas de valores europeias estavam levemente no terreno positivo. Como o pacote não veio, duas acabaram fechando no vermelho: Frankfurt (-1,08%) e Paris (-0,52%). Londres andou de lado, com alta de 0,1%. O auxílio deve ser dado pelos governos da Alemanha e da França, que exigirão das autoridades gregas a adoção de um forte plano de ajuste nas contas públicas. [SAIBAMAIS]Adotando o tom diplomático de praxe, o presidente da UE, Herman Van Rompuy, assegurou que o primeiro-ministro grego, Georges Papandreou, não pediu socorro. Ontem, os representantes dos 27 países do bloco, reunidos em Bruxelas (Bélgica), fizeram um gesto político e de solidariedade. O pacote econômico só sairá pelo temor de que a crise grega contamine o euro, moeda adotada por 16 países europeus. "Os Estados-membros da Zona do Euro vão tomar ações determinadas e coordenadas se necessário para proteger a estabilidade do bloco como um todo", assinalava o comunicado da reunião. Os detalhes devem ser anunciados na semana que vem, quando as equipes econômicas dos membros se encontrarão. A Grécia tem uma dívida equivalente a 120,8% do Produto Interno Bruto (PIB) e registrou um deficit de 12,7% do PIB em 2009, número mais de quatro vezes superior ao teto de 3% permitido pela UE. Os analistas veem o caso como apenas o primeiro da fila na Europa. Também enfrentam sérios problemas fiscais Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha, cujos nomes em inglês formam o acrônimo depreciativo Piigs, que lembra a palavra pig (porco). "Concordamos com o princípio de ajudar", afirmou ontem o presidente francês, Nicolas Sarkozy. A primeira-ministra alemã, Angela Merkel, deixou claro que o governo grego vai ter que se enquadrar. "A Grécia faz parte da União Europeia e não será deixada sozinha, mas há regras e essas regras precisam ser respeitadas", disse. Papandreou já se comprometeu a reduzir o deficit em 4% do PIB neste ano, cortando aposentadorias e salários do funcionalismo, além de aumentar o Imposto de Renda sobre altos rendimentos. O ajuste fiscal será feito com o auxílio técnico do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Central Europeu (BCE). Pagamento Na avaliação do estrategista-chefe do banco WestLB no Brasil, Roberto Padovani, o mecanismo deverá ser uma troca de bônus da dívida externa grega por papéis alemães e franceses, garantindo o pagamento aos credores. No início, os governos da Alemanha e da França resistiam a promover qualquer tipo de resgate, o que soaria como um prêmio a quem desrespeitou as regras do bloco. Mas acabaram cedendo por temer o contágio. "A situação fiscal é muito ruim. Uma contaminação pode vir pelos bancos dos principais países, que estão muito expostos na Grécia, em Portugal e na Espanha", diz. A curto prazo, o efeito negativo da crise grega deve ser mais nervosismo nas bolsas de valores, com mais variação nos preços das ações, fuga para o dólar e a consequente desvalorização do euro e de outras moedas. A médio prazo, a exposição dos principais bancos europeus à dívida de países trôpegos vai piorar a concessão de crédito. O corte de gastos para ajustar as contas será recessivo. Tudo isso vai resultar em menor crescimento econômico. Hoje, os analistas esperam uma expansão de, no máximo, 1,2% neste ano. Mas a realidade pode ser bem pior. "Isso traz as coisas mais para a realidade. Nos últimos 11 meses, ouvimos cenários exageradamente positivos no mundo", diz Padovani. Ele não acredita que a Grécia e os demais Piigs tenham potencial para detonar "o segundo mergulho" da crise global, temido por muitos, pois não têm força para derrubar os Estados Unidos e a China. Apesar da dificuldade de decisão dos líderes europeus, as medidas a serem detalhadas devem "contribuir para restaurar a confiança", avalia.

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