postado em 13/02/2010 11:45
A economia global deve se recuperar num ritmo mais lento do que o imaginado. O anúncio de indicadores ruins nos países desenvolvidos, a crise nas contas públicas na Europa e a estagnação no crédito, no consumo, no emprego e nos investimentos começam a gerar uma reversão de expectativas. Quando os governos derramaram US$ 5 trilhões em incentivos fiscais e monetários, a esperança era de retomada da atividade numa velocidade que chegou a causar euforia entre os investidores. Agora, embora ainda no terreno positivo, alguns analistas já projetam um desempenho pior para Estados Unidos e União Europeia (UE), jogando a consolidação da melhora no cenário para 2011 e 2012.;Os pacotes fiscais e monetários deram uma falsa impressão de que a recuperação seria razoavelmente rápida. Mas as coisas estão andando mais devagar do que se imaginava há alguns meses. Os dados da economia real nos Estados Unidos e na Europa estão muito anêmicos;, afirma o chefe da Divisão Econômica da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas Gomes. Ontem, a Zona do Euro (bloco de 16 países que adotam a moeda) divulgou seu desempenho no último trimestre de 2009, quando houve um crescimento de apenas 0,1%, um ritmo três vezes menor do que o estimado pela média dos consultores. No ano, o Produto Interno Bruto (PIB) do grupo encolheu 4%.
A contração foi de 5% na Alemanha, que ficou estável no quarto trimestre, e de 2,2% na França, com expansão de 0,6% entre outubro e dezembro. ;O motor do crescimento da Zona do Euro fez uma pausa no quarto trimestre, mas deve voltar a funcionar em breve. Os números de hoje, no entanto, são um bom lembrete de que a recuperação pode ser não só irregular como também caprichosa;, afirma o economista Carsten Brzeski, do banco ING. ;Seria ingênuo achar que a Europa teria um desempenho razoável neste ano. Mas esses números, de fato, jogam uma sombra maior nas expectativas de recuperação europeia em 2010;, diz a economista Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria.
Sem confiança
Nos seus cálculos, o continente vai crescer só 0,9%, muito pouco diante do buraco em que se meteu. Na avaliação de Freitas Gomes, a recuperação europeia, que já seria fraca, será ainda mais lenta com a crise fiscal dos países pejorativamente chamados de Piigs (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha) ; o acrônimo lembra a palavra porcos em inglês. ;A estabilidade do euro está em risco. A quebra da Grécia pode levar a uma crise de confiança no euro, contaminando os outros membros. Alguns países podem chegar ao caso extremo de decretar moratória;, teme o economista da CNC.
A demora dos executivos da UE em fechar um plano de socorro à Grécia piora o cenário. Independentemente da solução a ser encontrada na semana que vem, Freitas Gomes e Alessandra acreditam que a crise fiscal europeia vai gerar muita oscilação nos investimentos financeiros. ;As expectativas exageradas sobre a recuperação vieram mais do mercado, que pirou o cabeção no fim do ano passado. Esse entusiasmo se refletiu nos preços das ações, gerando euforia entre os investidores;, atesta a analista da Tendências.
Outro sinal ruim emitido ontem foi a decisão do governo chinês de, pela segunda vez, aumentar o percentual de recursos que os bancos são obrigados a depositar no Banco Central, o que enxuga o volume de dinheiro na praça. O objetivo é domar a inflação, que já começa a subir como resultado do crescimento do PIB de 10,7% em dezembro. As autoridades querem reduzir a expansão para 9,5%, o que pode prejudicar a recuperação nas cotações de produtos agrícolas e minérios. Isso afeta as exportações dos emergentes, como o Brasil. O valor desses itens caiu 33% em 2009 e só subiu 8% neste ano até agora.
;A China surpreendeu porque está fazendo um aperto monetário antes do previsto;, diz Alessandra. O BC chinês emite sinais de que vai elevar os juros, iniciativa que pode ser adiada para o ano que vem pelo Federal Reserve (Fed, o BC norte-americano). Nos EUA, a taxa básica precisa continuar entre zero e 0,25% por mais algum tempo para incentivar investimentos e consumo. Freitas Gomes reduziu a expectativa de expansão máxima nos EUA neste ano de 3% para 2% e a da Europa de 2% para 1%. O presidente norte-americano, Barack Obama, vai criar uma comissão para supervisionar os desafios fiscais de longo prazo. O objetivo é frear gastos, seguindo regra óbvia que o Brasil já tenta cumprir: para se aprovar um gasto tem-se que indicar como os recursos serão disponibilizados.