postado em 16/02/2010 10:44
A chuva torrencial que cai em diversos pontos do país traz prejuízos não só para as áreas urbanas. O homem do campo, que há alguns meses celebrava a irrigação natural, já contabiliza prejuízos nas lavouras com o excesso de água. A soja foi o produto mais afetado e esta pode ser a safra com o mais severo ataque de ferrugem asiática(1) , praga que impede a formação completa dos grãos. Segundo a divisão de soja da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a doença já contaminou praticamente todas as plantações do país.No Mato Grosso, maior produtor brasileiro e responsável por 28,7% da safra nacional da oleaginosa, houve um impacto entre R$ 60 e R$ 80 no custo por hectare somente com o uso de defensivos agrícolas. ;Este ano vai ficar mais caro para produzir porque antes fazíamos duas aplicações do fungicida por hectare. Agora, passou para quatro ou cinco;, relatou o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Mato Grosso (Aprosoja), Glauber Silveira. ;Por mais que tenhamos produtividade grande, a eficiência do defensivo cai. Temos áreas colhendo em torno de 10% menos que ano passado. Quanto vai dar a média da safra inteira, eu ainda não sei. A situação é mais grave do que esperávamos;, ponderou.
Segundo a pesquisadora da Embrapa Soja responsável por acompanhar a disseminação da ferrugem asiática no Brasil, Cláudia Godoy, as perdas de produtividade foram maiores onde não foi possível aplicar o defensivo por conta da chuva ininterrupta ou por outros problemas. ;Onde houve erro de controle, haverá prejuízos. É difícil encontrar lavoura sem ferrugem. Recomendamos ao produtor ficar alerta para os focos da região, não só os que ocorrem na própria lavoura. A ferrugem se dissemina pelo vento e é preciso fazer um controle preventivo;, aconselhou a pesquisadora.
Recomendações essas que não foram seguidas por todos os produtores. No Programa de Assentamento Dirigido do Distrito Federal (PAD-DF), alguns agricultores deixaram de fazer a prevenção e perderam tudo o que haviam plantado. Um dos casos mais alarmantes foi de uma área de 300 hectares na qual não foi colhida uma única saca de soja. ;O produtor não tinha mais recursos para comprar o fungicida e perdeu tudo. A lavoura toda morreu;, contou o secretário-geral da cooperativa de produtores do PAD-DF, Derci Cenci. A situação das plantações brasilienses de soja é semelhante ao que ocorre no Mato Grosso: perda de produtividade e aumento nos custos de produção.
;A ferrugem está violenta neste ano. Já estamos na quarta aplicação do veneno. Essa praga é pior do que câncer;, comparou Cenci. De acordo com os produtores, a expectativa é de que os preços da oleaginosa subam para que a elevação do custo de produção tenha menor impacto nas receitas obtidas com a lavoura. Os produtores, tanto os do DF como os de Mato Grosso e do Paraná, informaram que um dos problemas dessa safra é que, com a antecipação das chuvas, muitas plantações começaram antes do encerramento do vazio sanitário ; período em que não pode haver nenhuma plantação de soja para minimizar a contaminação da ferrugem asiática.
1 - Efeito devastador
Dependendo da intensidade, a ferrugem pode devastar de 10% a 80% de uma lavoura. A praga se espalha com facilidade e os sintomas aparecem primeiro nas folhas. A planta infectada apresenta nas partes de baixo pequenos pontos escuros. Tambem é possível verificar saliências, que, conforme o clima, podem ser grandes ou pequenas.
O número
28,7%
Participação de Mato Grosso, maior produtor nacional, na safra brasileira da oleaginosa