Paola Carvalho
postado em 21/02/2010 09:09
Em ano de eleição para a Presidência da República, qualquer declaração no sentido de alterar a política econômica tem potencial para influenciar os pregões da Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros (BM) e mudar as intenções do investidor em ações.
A análise dessa sensível relação entre o comportamento dos presidenciáveis em relação à macroeconomia e o mercado financeiro é feita pelo sócio-diretor da Tendências Consultoria, Nathan Blanche, que, nesse período, recomenda cautela aos aplicadores.
Para o economista-chefe da Ativa Corretora, Arthur Carvalho, a despeito do cenário positivo para a economia, a volatilidade deve persistir. %u201CDiante das incertezas, os agentes financeiros ficam mais cautelosos. Os investidores têm menos disposição para tomar riscos%u201D, diz. Em termos conjunturais, o nível de utilização da capacidade instalada da indústria está em 83,8%, as vendas do varejo estão em um nível superior ao período pré-crise e o consumo das famílias avança há 24 trimestres consecutivos.
Essa combinação possibilitou a valorização de mais de 80% do Ibovespa em 2009. %u201CAcredito que as condições são positivas para o país, independentemente da corrida às urnas. Na prática, a política não interfere tanto mais na bolsa em função do amadurecimento do mercado. As empresas estão mais fortes e o investidor, com visão mais clara do processo%u201D, pondera o analista de mercado Paulo Ângelo de Souza.
Quebradeira nos EUA
A grande questão continua sendo o ritmo da recuperação americana, cuja economia cresceu 5,7% no último trimestre de 2009, acima do esperado. Ainda assim, no acumulado de 2009, teve o pior resultado em mais de 60 anos. Autoridades dos EUA anunciaram quatro novas falências de bancos, o que eleva a 20 o total de instituições falidas desde o início de 2010. As 10 agências do La Jolla Bank serão absorvidas pelo OneWest Bank. As quatro do George Washington Bank passarão ao FirstMerit. O pequeno Marco Community Bank também fechou as portas. E a única agência do Coste National Bank ficará com o Community National Bank. Na lista de preocupações, ainda está a insolvência de países europeus (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha).
Nathan Blanche diz que o nível de volatilidade dependerá do debate político, principalmente no eixo inflação/câmbio flutuante/responsabilidade fiscal. O economista-chefe da DLM Invista, Alberto Rocha, destaca que as incertezas são inerentes à renda variável. %u201CMesmo assim, não enxergamos riscos maiores às aplicações em bolsa. Nossa visão para 2010 permanece sendo de alta.%u201D
Banco Central
Quando a desaceleração começou no Brasil, no fim de 2008 e início de 2009, os investidores quase ignoraram a decisão do governo de reduzir a meta do superávit primário (economia para pagar juros da dívida) de 2009 de 3,3% para 2,5% do PIB. Isso serviu para que o governo arriscasse mais nos gastos. Essa decisão, contudo, não só aumenta a necessidade de um ajuste fiscal depois das eleições como também faz crescer a pressão para que o Banco Central (BC) eleve as taxas de juros em um momento em que a composição da diretoria do banco pode estar em transição. O presidente Henrique Meirelles pode deixar o cargo para se candidatar ao governo de Goiás.
Também pode azedar o humor dos aplicadores os discursos em torno da independência do BC, em um ano de alta nos juros. Carvalho destaca as incertezas quanto ao câmbio. %u201CJosé Serra (PSDB-SP) tem falado que prefere juros baixos, mas com câmbio alto, para estimular as exportações. Ou seja, a tendência é de volatilidade do dólar. Isso afeta empresas com dívida indexada em câmbio e exportadoras, que fazem parte, inclusive, do Ibovespa (principal índice da Bovespa). Por isso, os preços dos ativos são afetados%u201D, conclui.