postado em 23/02/2010 07:00
As incertezas no mercado externo e a retomada do primeiro lugar no ranking de juros altos têm transformado o Brasil num porto seguro para o investidor estrangeiro. Em janeiro, a participação desse tipo de credor na composição da dívida pública federal foi recorde. Chegou a 8,7% de tudo o que o Tesouro colocou à venda, número que só foi possível devido à queda no endividamento público no primeiro mês do ano, para R$ 1,457 trilhão, ante R$ 1,497 trilhões em dezembro.A participação do investidor estrangeiro no percentual de dívida ofertada no país atingiu, em janeiro, R$ 114,45 bilhões. Ante dezembro de 2009, houve alta nominal (não descontada a inflação no período) de 4,3%, o que serviu para elevar o percentual desse tipo de credor no endividamento em 0,6 ponto percentual.
Dois eventos explicam esse número. O primeiro diz respeito ao aumento nominal de R$ 5 bilhões na participação desse tipo de investidor na dívida, devido a incertezas no âmbito externo, e à remuneração elevada (sobretudo da taxa Selic) paga pelo governo a seus credores. O segundo, à queda da dívida mobiliária interna, de 3,05%, em razão do vencimento, em 1; de janeiro, de R$ 100 bilhões em títulos federais.
Normalmente, a remuneração paga por um papel de dívida soberana leva em conta o risco de o país emissor dar o calote e as condições da economia do país, com destaque para a taxa de juros oficial. Atualmente, a taxa Selic está em 8,75% ao ano, os maiores juros reais (descontada a inflação) em todo o mundo. ;Os juros (só) são um atrativo se acompanhados das condições macroeconômicas;, explica o coordenador-geral de operações da Dívida Pública, Fernando Garrido. Segundo ele, além desses fundamentos, a perspectiva de continuidade do bom desempenho do país emissor é o que mais conta para o estrangeiro comprar um papel de dívida soberana.
Essa é a mesma relação para a oferta de dívida mobiliária externa. No primeiro mês do ano, a parcela desses papéis cresceu 3,05% no estoque da dívida mobiliária federal, em razão da valorização do dólar no período e da apropriação de juros (correção de remunerações pagas a esses papéis). No mesmo sentido vieram os resultados do programa Tesouro Direto, que são aplicações voltadas ao investidor pessoa física. Em janeiro, o montante financeiro vendido pelo Tesouro Direto chegou a R$ 212,69 milhões. O resultado de janeiro ficou 68,47% maior ante dezembro e 12% acima do desempenho de igual mês de 2009.