Economia

Taxas de financiamentos bancários sobem em janeiro

Banco Central avalia que movimento é atípico

Vânia Cristino/ Especial Estado de Minas
postado em 25/02/2010 07:03
O consumidor que foi às compras em janeiro pagou mais caro pelo financiamento bancário. Segundo dados do Banco Central para o primeiro mês do ano, o crédito continuou farto, mas várias modalidades de empréstimo ; tanto para pessoas físicas, como para empresas ; apresentaram elevação da taxa de juros. O aumento pode não ter sido ainda percebido pelos consumidores, pois veio com o alongamento do prazo para o pagamento do empréstimo, o que faz com que a prestação se acomode melhor dentro do orçamento doméstico. A inadimplência, índice que mede o atraso no pagamento das prestações, também caiu.

Para o chefe adjunto do Departamento Econômico do BC (Depec), Túlio Maciel, o aumento dos juros em janeiro pode ser um ponto fora da curva. ;Isso aconteceu em outubro passado e não mudou a tendência de queda das taxas no ano;, argumentou. Maciel acredita que a alta verificada em janeiro pode ser pontual. As informações captadas pelo BC para os primeiros 10 dias de fevereiro também indicam aumento, mas Maciel garante que a expectativa para o ano é de recuo das taxas de juros. ;A amostra de fevereiro é curta porque foi prejudicada pelo carnaval;, explicou.

Pelos dados do BC, as taxas que mais subiram para o consumidor foram as do cheque especial, que passou de 159,1% ao ano em dezembro para 161,1% ao ano em janeiro e a do crédito pessoal, que variou 0,4 ponto percentual de um mês para o outro, saindo de 44,4% ao ano em dezembro para 44,8% ao ano no mês passado. Para as empresas, o maior aumento também foi na conta garantida, uma espécie de cheque especial das pessoas jurídicas. A taxa dessa operação, usada para honrar compromissos de curto prazo, saltou de 76,9% ao ano em dezembro de 2009 para 80,9% ao ano em janeiro de 2010. Também subiu 0,8 ponto de percentagem a taxa para o desconto de duplicatas.

Mesmo sabendo que o preço a pagar é caro, a cozinheira Ducilene Maria de Lima, de 39 anos, acredita que a vida hoje é mais fácil do que há 10, 20 anos atrás. Ela conta que sua situação financeira melhorou e que, com um rendimento de pouco mais de R$ 1,2 mil por mês, consegue manter a casa, pagar o aluguel e fazer passeios. Ducilene comemora a compra da televisão e diz que, se tiver a opção de pagar a longo prazo, pode adquirir outros bens duráveis. ;Melhorou demais. As coisas ainda são caras, mas hoje em dia dá para fazermos muitas coisas, dá para comprar mais;, garante. A cozinheira faz bico em buffets para complementar a renda. ;Em Brasília, as coisas são um pouco mais caras que em outros lugares, mas com pesquisa e paciência, encontra-se de tudo a um bom preço e com facilidades para pagar;, afirma.

Razões

A explicação do Banco Central para a elevação dos juros é a mudança verificada na composição do crédito. ;Houve um crescimento das modalidades com taxas mais elevadas, em detrimento das modalidades com taxas mais baixas;, disse o chefe adjunto do Depec. De acordo com Maciel, esse movimento é notado com mais facilidade no crédito concedido às empresas. Em janeiro, a inadimplência total caiu de 5,6% para 5,5%,enquanto os prazos dos financiamentos foram alongados. Para as pessoas físicas o prazo chegou a 523 dias e é o mais longo da série iniciada em junho de 2000.

Com relação ao volume de crédito, a expansão foi pouco expressiva, de apenas 0,7 % no mês, com o crédito total atingindo R$ 1,422 trilhão em janeiro. Na relação com o produto Interno Bruto do país (PIB), o volume de crédito até caiu, passando de 45% do PIB para 44,6% do PIB. ;É que o PIB cresceu mais do que o crédito nesse período;, explicou Maciel. Para 2010, no entanto, a previsão do BC é que a relação crédito/PIB chegue a 48%.

Expansão

Em 2010, segundo o BC, o crescimento do crédito será via bancos privados e estrangeiros. ;Os bancos públicos cresceram muito no ano passado e, em 2010, devem desacelerar;, observou Maciel. Em 12 meses (de janeiro de 2009 a janeiro de 2010), o crescimento do crédito nos bancos públicos foi de 31,8%, enquanto que nos bancos privados foi de 9,3% e de apenas 0,5% nos bancos estrangeiros. Pela estimativa do BC o crédito nos bancos públicos vai crescer 20% em 2010. Como essa taxa é menor do que a verificada no passado recente, eles vão perder participação no volume total, enquanto os bancos privados e estrangeiros vão ganhar espaço. Para eles o BC estima um percentual de crescimento no crédito de 19%.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação