Economia

Alta do álcool pune motorista mais pobre

postado em 08/03/2010 08:48
De opção barata a vilão dos postos de combustíveis, o etanol vendido no Brasil já custa mais caro do que a gasolina comercializada em países como Estados Unidos e Canadá. Os preços quase proibitivos espantaram o consumidor. Donos de carros flex, acostumados a economizar durante quase todo o ano passado, desistiram de encher o tanque com álcool. Há quase três meses, o derivado da cana-de-açúcar deixou de ser competitivo na maioria dos estados e também no Distrito Federal. [SAIBAMAIS]A alta do etanol nas bombas é atribuída pela indústria sucroalcooleira ao excesso de chuvas e ao crescimento desenfreado das vendas de automóveis bicombustíveis. A queda na produção e o aumento da demanda tiveram efeitos sobre os preços ao consumidor final. Esse fenômeno desalinhou o mercado. Dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) indicam que o preço médio nacional do álcool está em torno de R$ 1,98 o litro - o valor mínimo, em R$ 1,44 e o máximo, em R$ 2,99. Os postos do DF, que há duas semanas fizeram megapromoções para atrair o público, voltaram a vender o litro a R$ 2,35. Com os preços nas alturas, os mais prejudicados são os motoristas que não têm outra opção. José Pedro Ferreira da Silva, dono de um Santana Quantum ano 1986 movido exclusivamente a etanol, duplicou os gastos com combustível. "Não dou mais conta de encher o tanque", resume. Morador de Águas Lindas (GO), Pedro trabalha no Guará e mesmo deixando o automóvel na garagem alguns dias da semana viu o orçamento estourar. "Coloco R$ 50. Dá para ir e voltar umas duas vezes de Águas Lindas. Abasteço de dois em dois dias e voltei a andar de ônibus", completa. Se o mercado não se estabilizar, Pedro pensa até mesmo em converter o motor para gasolina. "O problema é que custa muito caro", adverte. Assim como Pedro, muitos brasileiros que não podem abastecer com gasolina decidiram pendurar as chaves por enquanto. A frota movida a etanol no Brasil é de aproximadamente 3 milhões de carros. Fazer com que esses veículos ganhem as ruas novamente depende da melhoria da oferta e da redução dos preços, cenário que os produtores vislumbram para breve. A colheita da atual safra de cana pode ajudar. Oficialmente, ela só deveria começar em abril ou maio. Mas, por causa do colapso do mercado, foi antecipada para este mês na Região Sudeste. As grandes usinas planejam despejar no mercado o quanto antes o maior volume possível de etanol. Com a regularização do abastecimento, a tendência é de que em três ou quatro semanas o consumidor comece a sentir os resultados no bolso. Desabastecimento Apesar de contar com generosos subsídios oficiais - o governo dos EUA estimula o uso do produto até no aquecimento de residências -, o mercado americano da gasolina é estável e joga a favor do motorista. O preço médio do combustível nas cidades americanas é de apenas R$ 1,34 por litro. No Canadá, onde também há estímulos públicos para usos diversos da gasolina, o litro custa R$ 1,81. Os dados constam de relatórios da Agência Internacional de Energia (IEA), órgão especializado em estatísticas e análises do setor, disponibilizados na internet. A escalada do etanol no Brasil teve início em outubro de 2009 - com a entressafra da cana - e de forma instantânea contaminou distribuidoras e o varejo. A instabilidade motivou a intervenção do governo - que reduziu a mistura do álcool anidro na gasolina - e mobilizou parte da indústria, que chegou a pedir à União que zerasse a tarifa de importação de etanol como forma de evitar desabastecimento. A taxação não caiu, mas também não foi descartada. Em algumas cidades do país falta etanol nos postos. No exterior, a explosão dos preços do álcool combustível nacional é acompanhada de perto. Os americanos, maiores produtores mundiais, enxergam na crise brasileira uma oportunidade de negócios sem precedentes e intensificam o lobby para a abertura do mercado. Na Europa, onde também se fabrica etanol em escala comercial, as investidas são mais discretas.

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