postado em 13/03/2010 07:00
Após 10 meses de perdas a folha de pagamento da indústria voltou a crescer. No confronto de janeiro com dezembro do ano passado, o setor registrou aumento de 2,4%. O emprego acompanhou essa trajetória de alta na passagem de dezembro para o primeiro mês de 2010 e subiu 0,3%. Resultados esses que, segundo representantes do setor, confirmam uma trajetória de recuperação (1), tese que também é defendida pelos economistas responsáveis pela Pesquisa Mensal da Indústria, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Em coro com os industriais, os economistas do IBGE afirmam que o setor ainda sente resquícios da crise, mas está embalado rumo a um forte crescimento. ;Começou 2010 melhor do que o ano passado. Tanto o emprego quanto a produção estão apresentando taxas positivas na comparação com igual mês do ano anterior;, afirmou o economista do IBGE Fernando Abritta. ;O emprego vem se recuperando, mas mais lentamente por conta das características dele. Quando a indústria se expande, se expande mais devagar. Quando cai, o emprego recua de forma menos intensa;, emendou.
Recuo
A despeito da alta na transição de um mês para o outro, na comparação com janeiro do ano passado o setor amargou uma queda de 1,1% ; percentual que mesmo negativo foi celebrado pelos especialistas. ;Essa foi a menor queda desde dezembro de 2008;, explicou Fernando Abritta. ;Na verdade esse dado pode ser considerado positivo. Está mostrando uma contínua recuperação da atividade da indústria. Evidente que ainda temos os efeitos da crise, mas já estamos registrando alta entre um mês e outro. Com a recuperação do crescimento, os dados nos próximos meses vão continuar nessa trajetória. Não creio em números negativos nas variações mensais;, ponderou Flávio Castelo Branco, gerente executivo de políticas econômicas da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Além do desempenho positivo do emprego na pesquisa do IBGE, o destaque do mês foi a ampliação da folha de pagamento, que no embate entre os resultados de janeiro de 2010 e os de 2009 cresceu 5,9%. Alta justificada pelos especialistas com pagamentos de bônus, divisão de lucros, férias e conquistas salariais. ;A renda foi menos afetada que o emprego. As pessoas foram demitidas com a crise, mas quem ficou conseguiu algum ganho salarial. Muitos começaram a receber agora os resultados conquistados nos dissídios;, argumentou o economista Fernando Abritta.
Entre os ramos da indústria, o que mais pressionou o emprego em direção a um saldo positivo foi o segmento de papel e gráfica, que assinalou uma alta de 8,8% frente a janeiro do último ano. Na contramão deles, impedindo um desempenho melhor, os ramos de madeira (-13,8%), vestuário (-4,3%) e meios de transporte (-4%) registraram os maiores tombos da indústria. Em igual base de comparação, mas em nível regional, Minas Gerais apresentou a maior queda nos postos de trabalho com um recuo de 4,2%.
Em segundo lugar no ranking dos negativos figuram as regiões Norte e Centro Oeste, juntas somam uma diminuição de 3%. Nesses locais, a pesquisa do IBGE destaca as maiores reduções vieram dos segmentos de vestuário, metalurgia básica, madeira e máquinas e aparelhos eletrônicos e de comunicação. ;Setorialmente, a questão é diferente da média nacional. Temos setores que sofreram pouco e outros que foram profundamente afetados;, resumiu o gerente da CNI, Flávio Castelo Branco.
Entre os locais e setores que sofreram menos e agora estão com bons aumentos no emprego se destacam a região Nordeste (2,0%) e, de forma isolada, e os estados do Ceará (6,0%), de Pernambuco (3,4%) e da Bahia (2,9%) ; que expandiram o mercado apoiados nos ramos de calçados e couro e alimentos e bebidas. ;Está clara a expansão do mercado interno. É um movimento que não vai ser abortado. O investimento ligado ao mercado doméstico já está maior que o período pré-crise;, afirmou o gerente de pesquisas da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), André Rebelo.
1 - Contraponto
Para o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), é preciso cautela nas avaliações positivas. Segundo a entidade, o emprego industrial de janeiro demonstrou estar em ritmo fraco. O Iedi afirma que a indústria vinha se recuperando e que o recuo em dezembro é pontual. Ainda assim, considera tímida essa retomada no início do ano. ;Para que o emprego industrial reaja de modo robusto é necessário que os setores de vestuário, calçados, alimentos, assim como aqueles que mais sofreram com a crise (bens de capital e duráveis), apresentem evolução da produção mais consistente;, avalia.
Entrevista com Fernando Abritta, economista do IBGE. Ele fala sobre o crescimento do emprego na indústria