Economia

Inflação antecipa debate no Banco Central

Divisão no mercado sobre o aperto na taxa Selic força Copom a se debruçar sobre os indicadores da economia

postado em 16/03/2010 08:00

Diante da forte divisão quanto aos rumos da taxa básica de juros (Selic) ; se o aumento deve começar já nesta semana ou em abril ;, o Banco Central antecipou em um dia os debates. Em vez de começar a discussão nesta terça-feira (16/3), primeiro dia oficial da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), a diretoria da instituição passou parte da tarde de ontem debruçada sobre os indicadores da economia e das projeções feitas pelo mercado. Um dos temas dominantes das conversas foi a significativa piora das projeções de inflação para este ano e para 2011.

Há pouco mais de dois meses, os analistas acreditavam piamente que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficaria abaixo do centro da meta de 4,5%. Mas, tão logo surgiram os primeiros números da inflação deste ano, a deterioração das expectativas foi rápida. Segundo a pesquisa Focus, realizada semanalmente pelo BC com 100 especialistas, a estimativa para 2010 pulou para 5,03% e a previsão do ano que vem, para 4,60%. ;E tudo indica que as projeções vão continuar aumentando;, disse o economista-chefe da Corretora Convenção, Fernando Montero, que engrossou o coro dos que apostam na alta da Selic nesta quarta-feira.

Na sua avaliação, não é recomendável que o BC adie o aumento dos juros para abril, como defende metade do mercado e está refletido na pesquisa Focus. ;A economia esta muito aquecida. Isso ficou claro pelas vendas do varejo em janeiro, que cresceram 2,7%, e pelo forte resultado do PIB (Produto Interno Bruto) no último trimestre de 2009;, assinalou Montero.

Ele destacou ainda que, ao contrário do que afirmam os menos pessimistas com a inflação, a expansão do varejo no início do ano não pode ser atribuída à antecipação do consumo por causa do fim da redução de impostos decidida pelo governo no auge da crise mundial. A demanda, que continuará firme, está sendo puxada pela renda e pelo emprego.

Dose certa

Para Eduardo Velho, economista-chefe da Prosper Corretora, a economia já está encostando no seu potencial de crescer sem pressões inflacionária. ;Por isso, a hora de o BC botar o pé no freio é agora. E se realmente começar a aumentar os juros nesta semana, poderá fazer um movimento mais curto, encerrando-o provavelmente em julho, antes de esquentar a campanha política;, afirmou. Nas projeções de Maurício Molan, economista do Santander, a alta da Selic não só começará amanhã, como se estenderá dos atuais 8,75% para 12%. ;Quanto maior for o atraso na administração do remédio, mais forte terá que ser a dose.;

O economista-chefe do Banco WestLB, Roberto Padovani, discorda. A seu ver, há ruídos demais no atual cenário. ;A inflação dos primeiros meses do ano está poluída por reajustes de tarifas públicas, de mensalidades escolares e de produtos agrícolas;, disse. ;Se o BC puder esperar, que espere, pois haverá ganhos;, enfatizou.

Caso se adie a alta da Selic para abril, Padovani crê que a decisão do Copom de amanhã virá dividida, com pelo menos dois votos, de Mário Mesquita (diretor de Política Econômica) e de Carlos Hamilton (Assuntos Internacionais), a favor da alta. Esse será o maior indicador de que o aumento da Selic no mês que vem será líquido e certo.

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