Economia

Inflação e IPI maior limitam o consumo do brasileiro

postado em 18/03/2010 08:39
O brasileiro está com menos vontade de gastar em março, em comparação aos dois primeiros meses do ano. Com o crédito encarecido pelas expectativas de alta da taxa básica de juros, somado às pressões inflacionárias neste início de 2010 e a proximidade do fim da isenção tributária para veículos e produtos da linha branca, a Intenção de Consumo das Famílias, medido pela Confederação Nacional do Comércio (CNC), caiu 1,9% frente a fevereiro. Tal queda, segundo o economista Carlos Thadeu de Freitas, mostra a desaceleração do consumo.

Na avaliação dos economistas da CNC, o desmonte do aparato para combater a crise, principalmente o fim da isenção do IPI, reduziu a intenção de compras em março. ;A queda foi puxada pelas famílias mais pobres, com renda de até 10 salários mínimos;, afirmou o economista Fábio Bentes. ;Os preços altos jogaram para baixo as intenções do consumidor. Ela corroeu o orçamento familiar;, explicou.

Com o orçamento apertado, mas preocupada com uma possível escalada dos juros e com o fim dos descontos em função do IPI menor, a aposentada Maria Mercedes não quis adiar a compra da máquina de lavar e geladeira. Por outro lado, no entanto, ela preferiu adiar parte das compras. ;Poder comprar a gente não pode, mas o que fazer?;, questionou a aposentada. ;Gostei muito dessa história de IPI, queria que fosse prorrogado para sempre. Terminei minha casa e tenho de comprar os móveis. Até queria poder comprar tudo agora, antes que fique mais caro e os juros subam demais;, relatou a aposentada, que avaliava o tamanho das parcelas para saber se caberiam no bolso.

O levantamento da intenção de gastos mostra ainda que para a parcela da população com a menor faixa de renda na pesquisa, de até 10 salários mínimos, a situação atual do consumo piorou. Ficou abaixo da média de satisfação ao recuar 0,6% entre fevereiro e março. Apesar deste indicador, a maioria dos consumidores entrevistados, 53,4%, acredita que há espaço para o consumo crescer.

Acesso
Para a economista da CNC Mariana Hanson, essa piora também está atrelada à capacidade de endividamento das famílias. O quantidade de pessoas com contas a pagar subiu de 61,8% em fevereiro para 63% em março. ;Também já está havendo piora nas condições de pagamento a prazo, mas ainda estão melhores que em 2009. O acesso ao crédito ainda está elevado, mas já está em queda. Ainda assim, no curtíssimo prazo, esses dados não tem gerado risco de inadimplência;, avaliou Mariana.

Palavra de especialista
Dívidas acumuladas


;O nível de endividamento do consumidor aumentou em março. Acompanhando essa elevação, o percentual de famílias com contas em atraso subiu de 25,6% para 27,3% (entre fevereiro e março). Ainda assim, essa alta não é preocupante. O nível de comprometimento da renda com dívidas caiu. Essa alta de março veio acompanhada também de um aumento do custo de vida neste início de ano. O cenário do crédito também impacta no endividamento e ele vai ser cada vez menos favorável já está havendo uma piora nas condições de pagamento a prazo ainda assim, são melhores do que em 2009. O cartão de crédito é o principal tipo de dívida, seguido pelo carnê e pelo financiamento de carro.;
Marianne Hanson, economista da CNC especialista em inadimplência



; Segundo o economista-chefe da CNC, Carlos Thadeu de Freitas, a pesquisa de Intenção de Consumo das Famílias mostrou que a vontade de comprar está diminuindo. Na avaliação dele, os dados indicam que há uma desaceleração natural no consumo e que, por isso, uma elevação da taxa básica de juros pode ser precipitada. O economista afirma ainda que as taxas reais não devem subir agora, por mais que a Selic seja aumentada. Nos últimos meses, só com a expectativa de que ocorreria uma alta de juros nesta última reunião do Copom (realizada ontem), o mercado se antecipou e passou a cobrar mais caro pelo crédito. ;Tudo vai depender da ata do Copom. Ela vai dizer até quando e em quanto os juros vão subir;, disse o economista-chefe da CNC.

Entrevista com economista da CNC, Fábio Bentes

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