postado em 21/03/2010 09:26
O imenso amor dos brasileiros por bichos de estimação está impulsionando um segmento inteiro da economia de forma avassaladora. São comidas, petiscos, serviços de toda ordem - dog táxi, hotéis, spas, dog sitters, creches - e mais os atendimentos veterinários, cada vez mais sofisticados, com clínicas de fisioterapia, acupuntura, dermatologia, entre outras especialidades. Movimentando todo este setor, estão as feiras e eventos, levando aos profissionais e comerciantes o que há de mais moderno em tratamentos, alimentação, equipamentos e acessórios. Em abril, por exemplo, acontece em São Paulo a Pet Fashion Week, versão brasileira das feiras já ocorridas em Nova Iorque e Tóquio. Em junho, será a vez do International Pet Meeting.
"Esse é um segmento(1) que cresce e deverá continuar se expandindo nos próximos anos", acredita Jefferson Braga, diretor da Pet Consult, uma divisão da Gestão Consultoria de Negócios especializada no mercado pet. Preocupado com o baixo nível de profissionalização no setor, especialmente nos segmentos de comércio e serviço, Braga ressaltou que o setor cresce apesar do volume elevado de estabelecimentos que fecham as portas todos os anos. "Ainda há muito amador neste mercado, com mentalidade de estar na moda. Por isso, a mortalidade de empresas ainda é tão alta. Quem encara o negócio de maneira profissional, enfrenta a concorrência e permanece no jogo", diz.
Que crise?
A Associação Nacional dos Fabricantes de Produtos para Animais de Estimação (Anfalpet) aposta que o mercado pet poderá ultrapassar o volume de R$ 10 bilhões em negócios já neste ano. Em 2009, apesar de toda a crise, o segmento movimentou R$ 9,6 bilhões, com predomínio acachapante do pet food (ração, petiscos, alimentos etc.), que abocanhou 64% de toda a receita do setor. Esse, além dos medicamentos veterinários, é um dos poucos segmentos de nível altamente profissional no mercado pet. "Essas são as áreas industriais e profissionalizadas do mercado", avalia o consultor.
Para Alfredo Roldan, gerente de Comunicação e Marketing da Anfalpet, o segmento de pet food sempre dominou o mercado. Mas o grande salto ocorreu quando as pessoas passaram a considerar os bichos como membros da família. "Até 1994, era comum alimentar os animais com comida caseira e as rações eram encontradas em lojas de produtos agropecuários. Mas, quando eles ingressaram nas família, as pessoas passaram a se preocupar com o tipo de alimento oferecido aos bichos e com o bem estar do animal. É quando este mercado começa a crescer". Em uma década e meia, o perfil do setor sofreu uma verdadeira reviravolta. Além de produtos industrializados com maior nível de sofisticação, aumentaram os estabelecimentos especializados em atender os donos dos pets. E o universo de animais de estimação cresce, englobando, não apenas cães e gatos, mas pássaros, roedores, répteis e até cavalos.
Franquias à vista
Tamanha expansão produz uma demanda cada vez maior por serviços, levando um número crescente de pessoas a gravitarem ao redor deste mundo. Como o empresário Gustavo Rezende, 40 anos. Este administrador de empresas morou durante vários anos nos Estados Unidos, onde ainda hoje tem negócio próprio. Lá, conheceu o serviço domiciliar de banho e tosa de cães e gatos. No ano passado, ao retornar ao Brasil, trouxe com ele a ideia e investiu no desenvolvimento de um veículo para prestar serviço semelhante. Nasceu o Pet Móvel, que roda com dois funcionários por diversos bairros de Brasília e no Guará. Dono de um cachorro e de uma gata, Rezende garante que há grande demanda pelo serviço. Tanto que já comprou mais um carro, cuja montagem está começando agora. "Estou planejando operar em sistema de franquia dentro de mais algum tempo", afirma. "É um negócio viável e sensacional".
A preocupação em aprimorar o nível profissional do setor já chegou ao Sebrae do Distrito Federal, que está elaborando um projeto para fortalecer o segmento das clínicas veterinárias. "O projeto está sendo desenvolvido em conjunto com a Associação Nacional dos Clínicos Veterinários de Pequenos Animais (Anclivepa-DF)", conta Andrea Silva, gestora do projeto no Sebrae. Hoje no Distrito Federal existem 1.540 médicos veterinários e 1.067 clínicas. "Mas apenas 180 estão cadastradas no Conselho Regional de Medicina Veterinária", acrescenta. "Queremos esclarecer as pessoas e os profissionais para termos um mercado cada vez mais forte", destaca.
1 - Privacidade e segurança
Além das lojas físicas, o consumidor também tem opções variadas para compras via internet. Facilidade, variedade e comparação de preços são as principais vantagens. Mas cuidados são necessários: buscar informações sobre o site, verificar o endereço físico e o telefone do vendedor, conhecer os procedimentos para reclamação e devolução do produto, observar as medidas que o site adota para garantir a privacidade e segurança dos usuários, não fornecer informações pessoais desnecessárias para realização da compra, guardar os dados da compra e exigir nota fiscal.
Hidratação com chocolate
O mercado pet mudou muito em uma década e meia. A revolução atingiu em cheio o petshop Di Petti. Inaugurado em 1996, foi o primeiro petshop da cidade. "Antes, os donos de animais se abasteciam nas lojas de produtos agropecuários", relembra Graça Souza, dona da loja há 12 anos, depois de uma temporada de oito meses como gerente do estabelecimento. "Nessa época, além da venda de alimentos, equipamentos e acessórios, a loja prestava apenas os serviços de banho e tosa", conta.
O cuidado cada vez maior das pessoas com seus bichos de estimação levou ao incremento na oferta de serviços. "Para atendermos ao nosso público, precisamos inovar o tempo todo", diz Graça. A primeira novidade foi o táxi dog, liberando os donos de animais do leva e traz . "As pessoas querem comodidade", afirma. Há seis anos, foi a vez dos banhos de ofurô para relaxar a clientela mais estressadinha, o que contribuiu para aliviar também os proprietários. Agora, a última do mercado são os banhos de hidratação. Com chocolate, melancia ou morango, o pelo e a pele da bicharada ficam macios e sedosos.
Mas nem todo serviço traz retorno para o comerciante. "Com a falta de tempo das pessoas, percebemos que havia um espaço para oferecermos o serviço de passeador. Rapidamente conquistamos a clientela", diz Graça. "O problema é que o preço do serviço acabou não compensando a estrutura que a loja teve de montar para prestar este atendimento. Então, encerrei o serviço repassando toda a clientela para o empregado responsável. Ele hoje tem seu próprio negócio e está ganhando dinheiro com isso." (LV)
Como evitar problemas
Os detalhes fazem toda a diferença quando se trata de zelar pelo bem-estar e pela saúde do animal de estimação. Seguem algumas orientações da vice-presidente da Associação Nacional dos Clínicos Veterinários de Pequenos Animais (Anclivepa-DF), Simone Bandeira.
# Verificar se o estabelecimento tem alvará de funcionamento. Este documento deve estar em local visível. Se não estiver, não deve haver constrangimento em pedir. A empresa legalizada passa por fiscalização periódica.
# Avaliar a higiene do local. É possível evitar problemas de saúde ao animal somente com este cuidado.
# Analisar se o animal, após o banho ou a tosa, apresenta algum problema (parasitas ou doença dermatológica). Se houver, é sinal que o estabelecimento não está seguindo as normas e os procedimentos adequados.
# Averiguar se o veterinário responsável efetivamente presta serviço no petshop.
# Saber que as clínicas veterinárias estão obrigadas a ter profissionais disponíveis no período em que estiverem abertas para atendimento ao público.
Palavra do especialista
Atendimento é o diferencial
A grande fragilidade do mercado pet no Brasil é a falta de profissionalismo de quem atua nele. Quem é veterinário, em geral, não tem noções de gestão, embora tenha todo o conhecimento técnico sobre animais. E quem é empresário normalmente entrou no mercado porque gosta de bicho e não porque tem alguma formação na área. O mercado precisa se profissionalizar com urgência ou vamos continuar a assistir empresas abrindo e fechando com uma velocidade estonteante. O atendimento, sem dúvida, é o diferencial. E é isso o que explica a existência de pequenas lojas perto de petshops de grande porte. O cliente quer ser bem atendido e obter informação de qualidade, além de ter serviços.
Jefferson Braga é diretor da Pet Consult