postado em 22/03/2010 07:00
Depois da retração das empresas por causa da crise, o Brasil deve receber R$ 345 bilhões de investimentos em grandes obras até 2016. São 39 megaprojetos, com valores acima de R$ 1 bilhão, anunciados pelo governo federal e por empresas de capital aberto para o período de 2009 a 2016, conforme levantamento da consultoria Diagonal Urbana, feito a pedido do Correio. Os setores de maior destaque são infraestrutura e logística, impulsionados pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O segmento com maior volume de recursos é o de petróleo e petroquímica, com R$ 133,51 bilhões. Na segunda posição do ranking, aparece a área de energia, com R$ 73,79 bilhões, seguida de logística e transportes (R$ 61,2 bilhões) e siderurgia, metalurgia e mineração (R$ 54,16 bilhões).Na avaliação de Alcides Leite, professor de economia da Trevisan Escola de Negócios, as obras em infraestrutura serão suficientes para dar conta do aumento da demanda e do crescimento do país até 2014. Ele alerta, porém, que se não houver novos aportes, vários setores vão enfrentar dificuldades. ;Os investimentos são suficientes até a Copa. Cabe ao próximo governo aumentá-los e, para isso, terá que diminuir gastos correntes, custeio e serviços da dívida;, diz. O especialista (1) observa que a taxa de investimentos do Brasil ainda é baixa, comparada com a de outros países. ;Ela é de 17% a 20% do PIB. Precisamos passar para, no mínimo, 25%, para garantir um crescimento sustentável;, ressalta.
O valor de R$ 345 bilhões é o mínimo já confirmado, observa o diretor da Diagonal Urbana, Jaime Almeida. Se fossem contabilizados os aportes de companhias de capital fechado, o montante seria ainda maior. ;Há outros valores que a gente não conhece, como o das pequenas empresas;, ressalta. Segundo ele, projeções de economistas consideram que os valores anunciados aumentam, no mínimo três vezes, pois têm impacto direto em várias cadeias produtivas.
;Esses investimentos têm um poder de alavancagem muito grande;, diz. O executivo também observa que, ao pagar impostos, as obras geram renda para o setor público. ;Existem estudos que falam de efeitos multiplicadores de três a seis vezes. Então, ao fazer essa conta, pode-se falar que R$ 300 bilhões de investimentos vão alavancar quase um PIB do país, que é de R$ 1,5 trilhão;, destaca. Assim, se as estimativas forem cumpridas, Almeida acredita que o país vai crescer de 5% a 6% ao ano.
Revisão para cima
Na análise das companhias, a Petrobras desponta no levantamento, com R$ 133,51 bilhões, o equivalente ao total do setor. Os principais destinos são o pré-sal, que absorverá R$ 48,2 bilhões, e a construção de refinarias, com destaque para a que está sendo erguida no Maranhão, que tem previsão de R$ 34,4 bilhões. A Vale figura como a segunda maior investidora, com aporte de R$ 63,01 bilhões. Entre os projetos, destaca-se a mina de Serra Azul, em Carajás (PA), com inauguração prevista para 2012.
Na sequência, vem a Eletrobrás (R$ 54,49 bilhões) ; a usina hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu, no Pará, terá R$ 25 bilhões. Entre as maiores obras em andamento ou previstas, destacam-se também o trem-bala (R$ 34,5 bilhões) e as usinas de Jirau (R$ 10 bilhões) e do Rio Madeira (R$ 13,79 bilhões). Empresas como a CSN, EDP Energias do Brasil e Suzano, além de outras, também têm feito significativos investimentos no país (veja quadro).
Muitas companhias estão revisando os aportes de seus planos de negócios para cima. Na última sexta-feira, a Petrobras anunciou o aumento do orçamento da companhia para 2010 dos R$ 79,5 bilhões previstos inicialmente para R$ 88,5 bilhões. Desse total, 42% destinam-se à exploração e à produção de petróleo e 38% ao abastecimento. O plano de negócios da estatal para o período de 2010 a 2014 consumirá de US$ 200 bilhões a US$ 220 bilhões.
Novas usinas
Os investimentos da Vale em 2009 somaram R$ 9 bilhões. Os projetos de destino dos aportes estão concentrados na expansão da capacidade de produção da Mina dos Carajás (PA) de minério de ferro, níquel e cobre. Para 2010 a previsão divulgada no segundo semestre do ano passado foi de R$ 24,5 bilhões. O orçamento da Eletrobrás para este ano é de R$ 9 bilhões, o maior dos últimos anos. Os focos dos investimentos são 15 usinas de geração de energia, com destaque para as hidrelétricas de Santo Antônio (RR) e Jirau (RO).
A Usiminas investiu R$ 2,1 bilhões em 2009 e prevê R$ 5,6 bilhões para o biênio 2010 e 2011. Esses investimentos estão ligados à ampliação das usinas de Ipatinga (MG) e de Cubatão (SP). A companhia também planeja construir um porto em Sepetiba (RJ), com investimentos de US$ 600 milhões para escoar o minério produzido nas suas minas em Itatiaiuçu (MG).
A MMX não confirmou o montante de R$ 1,72 bilhão apontado pela Diagonal em investimentos. Segundo a empresa, os valores e o cronograma do plano de investimentos estão em revisão e serão divulgados em breve. Parte dos recursos, porém, já foi garantida pela recente parceria com o grupo chinês Wuhan Iron Steel (Wisco), que adquiriu 21,5% da companhia por R$ 739 milhões.
1 - Insuficiente
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) calcula a taxa de investimentos dividindo os recursos que as empresas públicas e privadas aplicam na produção industrial, infraestrutura, serviços e demais setores pelo Produto Interno Bruto (PIB), o total de riquezas geradas no país num ano. Esse indicador é importante, pois demonstra a capacidade de aumentar a oferta na economia num ritmo acima do consumo, o que permite o crescimento sem inflação. Em 2009, a taxa ficou em torno de 17% do PIB, nível considerado insuficiente.
Jaime Almeida, diretor da Diagonal Urbana, fala sobre os investimentos de R$ 345 bilhões em megaprojetos