postado em 23/03/2010 07:30
O mercado não perdoou a decisão do Banco Central de manter a taxa básica de juros (Selic) em 8,75% ao ano pelos próximos 37 dias. Elevou, pela nona vez seguida, a projeção de inflação para este ano de 5,03% para 5,10%, e para 2011, de 4,60% para 4,70%. No mercado, os analistas esperam a ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) para verificar se o discurso dos derrotados (três, dos oito membros do comitê, votaram pela alta dos juros) predominará. Também interpretam como política a decisão do presidente do BC, Henrique Meirelles, de votar pelo adiamento do aperto monetário. Interessado em compor a chapa presidencial com a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, ele teria optado por uma postura menos conservadora em contexto de demanda aquecida e de preços em alta.Entre os analistas, o recado é que a piora das expectativas para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA, indicador oficial da variação de preços) será contida somente se o BC mostrar um tom duro na ata, sinalizando elevação da Selic em 28 de abril. A meta de inflação definida para este ano pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) é de 4,5% com dois pontos percentuais de tolerância para cima ou para baixo.
Para Bernardo Wjuniski, da Tendências Consultoria, o Banco Central deixou passar o momento ideal de iniciar aperto monetário. ;Mesmo com a sinalização da última reunião de que haverá aumento na próxima reunião, o mercado entendeu que o Copom perdeu o time;, afirma.
No Santander, a análise é que o comitê usará a ata para transmitir a mensagem de maior rigor a partir do próximo mês. ;Acreditamos que o Copom expressará aumento dos riscos inflacionários e sinalizará a necessidade de elevação da taxa básica de juros, ainda que se refira a uma reunião em que a maioria votou pela estabilidade. O objetivo é sinalizar austeridade e impedir elevação das expectativas inflacionárias;, avalia o economista do Santander, Maurício Molan.
A despeito da avaliação de que o BC deixou passar o momento adequado de reforçar a política de juros, o economista da LCA Consultores, Homero Guizzo, analisa que o aquecimento da demanda não está acelerado e que o contexto não requer urgência no aperto dos juros. Ainda assim, ele aposta que a alta começa em abril a partir de um acréscimo de 0,50 ponto nos 8,75%.
1 - Investimento
Enquanto o mercado aposta no aumento dos juros, o setor industrial adverte que o encarecimento dos financiamentos pode ameaçar investimentos. ;Não podemos inibir a retomada dos investimentos, porque é isso que reduzirá a pressão futura sobre os preços;, comenta Rogério de Souza, economista do Iedi.
Ouça entrevista com o economista Homero Guizzo, da LCA Consultores