Economia

Sob o efeito da melhora do emprego e da renda, fevereiro registrou queda na inadimplência e nos juros

Mas o bom momento para o consumidor deve ser interrompido pela alta dos custos dos bancos

Vânia Cristino/ Especial Estado de Minas
postado em 24/03/2010 07:00
Com emprego assegurado e salário no fim do mês, o consumidor está pagando as dívidas e comprando mais. Segundo dados divulgados ontem pelo Banco Central (BC), os índices de inadimplência e as taxas de juros despencaram em fevereiro. O índice de inadimplência da pessoa física para atrasos superiores há 90 dias foi de 7,2% em fevereiro. É o percentual mais baixo desde junho de 2008. Na taxa de juros, a situação se repetiu. A média geral, de 34,3% ao ano em fevereiro, é a segunda mais baixa da série histórica. Ela só é maior do que o percentual de dezembro de 2007, que foi de 33,8% ao ano.

O alívio nas taxas de juros, no entanto ; consequência da queda da inadimplência que, por sua vez, influenciou os spreads bancários (margem cobrada pelo banco e consiste na diferença entre a taxa de captação e a de aplicação) ; pode estar com os dias contados. Conforme o Correio antecipou há duas semanas, os bancos, especialmente os públicos, já estão embutindo nos novos empréstimos a expectativa de alta da taxa Selic, que deve ser referendada pelo BC na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).

O movimento, inclusive, já foi captado pela autoridade monetária. Segundo o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, o que vai definir a taxa de juros nos próximos meses é a taxa de captação dos bancos, ou seja, o quanto as instituições financeiras pagam pelo dinheiro do cliente usado para financiar quem precisa de crédito. ;O movimento na curva de juros determina o custo de captação das instituições financeiras;, disse.

Segundo Altamir, a taxa básica de juros ainda não subiu, mas os bancos já estão pagando mais para captar recursos dos clientes. ;Há um movimento de alta no custo de captação dos bancos. Isso, em parte, compensa a redução dos spreads e deve trazer estabilidade à taxa de juros;, justificou. O resultado desse movimento já pode ser conferido nos primeiros dez dias de março. Mesmo com a queda de 0,3 ponto percentual no spread bancário, a taxa de juros média ficou no mesmo patamar de fevereiro ; 34,3% ;, porque, do outro lado, subiu na mesma proporção o custo de captação dos bancos. Lopes chamou a atenção para o fato de esse dado ser preliminar e poder sofrer alteração ao longo do mês.

Vantagens
Para os consumidores que pegaram crédito em fevereiro, não se pode negar que as condições foram mais vantajosas. A taxa do crédito pessoal, por exemplo, caiu um ponto percentual no mês, baixando de 44,8% ao ano em janeiro para 43,8% ao ano em fevereiro. O financiamento de veículos também ficou mais acessível. O índice de 24,1% ao ano em fevereiro é 1,1 ponto percentual inferior ao juro praticado em janeiro. Até o cheque especial, que tem uma taxa proibitiva para quem usa o recurso por muito tempo, baixou de patamar. A taxa de 161,1% ao ano em janeiro baixou para 159,5% em fevereiro.

A queda dos juros nos empréstimos teve relação direta com a redução do spread bancários no período. Na média, no crédito livre, que pode ser emprestado em qualquer tipo de operação pelo banco, ele caiu de 25,1 pontos percentuais para 24,3 pontos percentuais, entre janeiro e fevereiro. Foi a queda na inadimplência que levou á diminuição do spread e, por consequência, da taxa de juros dos financiamentos. A taxa média de atrasos nas operações de crédito livre baixou de 5,5% em janeiro para 5,3% em fevereiro, segundo o BC. A redução dos calotes foi liderada pelas operações das pessoas físicas, cuja taxa de calotes caiu de 7,6% para 7,2%. No crédito para as empresas, o volume das operações com atrasos superiores a 90 dias nos pagamentos recuou de 3,8% para 3,7%.

Recursos
O montante de recursos à disposição dos clientes nas operações de crédito apresentou, em fevereiro, expansão de apenas 0,8% na comparação com janeiro. Em 12 meses terminados em fevereiro, o crescimento do volume de crédito foi de 16,8%. Em fevereiro, o crédito total chegou a R$ 1,435 trilhão, o equivalente a 44,9% do Produto Interno Bruto do país (PIB). Em janeiro, a relação crédito/PIB estava em 45%. O chefe do Departamento Econômico do BC reconheceu que a evolução dos recursos está se dando mais lentamente. Altamir destacou, no entanto, que o crescimento está equilibrado e que ocorre tanto no crédito às pessoas quanto às empresas e também no segmento livre e direcionado.

Para o ano, o BC projeta um crescimento do crédito da ordem de 20%, com a relação crédito/PIB ficando em 49%. A expectativa do BC é de que, para 2010, o crédito cresça 23% nos bancos públicos e nos privados nacionais, enquanto a evolução dos recursos disponíveis ao público nos bancos privados estrangeiros deverá avançar 8%.

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