postado em 28/03/2010 09:18
Nos corredores do Banco Central (BC), alguns já o chamam de presidente. Mas, como bom técnico, que consegue separar muito bem a emoção do trabalho, Alexandre Tombini, 46 anos, faz o possível para não levar a conversa adiante. Ainda que aguarde ansiosamente a sua nomeação para a presidência da instituição à qual dedica pelo menos 12 horas por dia, sabe que, em se tratando de um posto tão cobiçado, só cantará vitória quando o presidente Lula tiver assinado a sua nomeação. Sabe também que, até o último instante, o comandante do BC é Henrique Meirelles, a quem faz toda a reverência por ser hoje o mais cotado para chegar ao posto máximo de sua carreira.
Mantido o calendário traçado por Meirelles, o gaúcho Tombini assumirá a presidência do BC em 31 de março. É nesse dia que o atual titular do posto anunciará a sua renúncia para voltar à vida pública, abandonada em 2002 depois de ser o deputado federal mais votado por Goiás. Meirelles, filiado ao PMDB, deve se lançar na disputa por uma vaga no Senado, mas com todas as atenções voltadas para a vaga de vice na chapa presidencial liderada por Dilma Rousseff. "Só mesmo uma reviravolta muito grande mudará os rumos dessa história. Neste momento, as chances de Meirelles ficar no BC são próximas de zero, tamanha é a sua disposição para voltar à política", diz um integrante do governo.
Crivo de Lula
A escolha de Tombini para suceder Meirelles foi feita há pelo menos um ano e passou pelo crivo de Lula. Pesou a favor dele o fato de não compartilhar da visão tão conservadora do grupo dos chamados falcões, o mais visível deles o diretor de Política Econômica, Mário Mesquita, que também está deixando o BC. Tombini, na visão de Lula, é mais moderado, apesar de comprometido com o sistema de metas de inflação. Esse pensamento é compartilhado pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, que fez do diretor de Normas a sua referência quando se trata de Banco Central.
Formado em Economia pela Universidade de Brasília (UnB), com PhD pela Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, Tombini assumirá com a missão nada agradável de dar início ao quarto ciclo de alta da taxa básica de juros (Selic) do governo Lula. Muitos acreditam, inclusive, que a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de adiar por 45 dias o arrocho teve como objetivo reforçar a sua gestão. Ao liderar o aperto monetário, indicará que nada mudou no BC no seu compromisso de manter a inflação ancorada no centro da meta definida pelo governo, de 4,5%. A credibilidade construída nos últimos anos pela instituição será até reforçada.
Jogo combinado
Independentemente de esse ter sido ou não o objetivo do atraso na alta dos juros, não há hoje no BC ninguém que duvide da capacidade de Tombini para manter a inflação sob controle. "Mesmo sendo este um ano de eleição, de fortes pressões políticas, ele não queimará a reputação de excelente técnico só para dizer que foi presidente do BC em um mandatotampão", afirma um graduado funcionário do banco. Para ele, Tombini vem sendo preparado pelo próprio Meirelles para sucedê-lo, com a promessa de não meter os pés pelas mãos. "Não tenho dúvidas, inclusive, de que, fora do BC, Meirelles será o sustentáculo de Tombini, saindo em defesa da instituição ao menor ataque contra a política monetária", acrescenta. "O jogo já está combinado."
Sensato, o quase presidente do BC sabe que não tem a estatura de Meirelles ante os mercados, sobretudo o internacional. "Por isso, não se arriscará a aventuras", enfatiza um de seus melhores amigos. O próprio Lula, que todos sabem ser contrário ao aumento dos juros, já teria lhe recomendado que seguisse à risca a atual cartilha do BC, de previsibilidade. Na visão de Lula, tudo que o governo não precisa neste ano é de marola provocada pelo Banco Central. A manutenção da estabilidade será vital para que Dilma, talvez acompanhada de Meirelles em seu palanque, arregimente apoios importantes no sistema bancário e entre o empresariado.
Vitória dos barnabés
Na diretoria de Normas do BC não faltam adjetivos a Tombini: experiente, com sólida formação macroeconômica, vivência internacional - trabalhou por um bom tempo no Fundo Monetário Internacional (FMI), em Washington - e, principalmente, educado e respeitoso. "Não foi à toa que teve carreira tão meteórica no BC, ocupando, atualmente, a sua terceira diretoria", ressalta um de seu comandados. Entre junho de 2005 e abril de 2006, foi diretor de Estudos Especiais, de onde saiu para responder pela diretoria de Assuntos Internacionais e, depois, para a de Normas. "Não há o que temer, Tombini será a continuidade do que se vê hoje no BC", diz o amigo José Luiz Rodrigues, sócio-diretor da consultoria JL Rodrigues.
Zeina Latif, economista-chefe do banco holandês ING, complementa: "Tombini tem uma reputação muito boa e foi um importante contraponto ao grupo mais conservador do BC". Para Alexandre Póvoa, economista-chefe da Modal Asset Management, "Tombini é um nome muito forte, com capacidade para fazer uma transição tranquila, sem sustos". É esse pensamento que sustenta a tese de que, se realmente chegar à presidência do Banco Central, Tombini recorrerá ao amigo Carlos Hamilton, recém empossado na diretoria de Assuntos Internacionais, para que assuma a vaga aberta por Mário Mesquita.
Se optar por esse caminho, responderá por um feito histórico: pela primeira vez, todo o primeiro escalão do BC - Aldo Luiz Mendes, diretor de Política Monetária, não é servidor de carreira da instituição, mas construiu a vida profissional no Banco do Brasil - terá saído do setor público. Será a vitória dos barnabés.
"Não há o que temer, Tombini será a continuidade do que se vê hoje no BC"
José Luiz Rodrigues, sócio-diretor da consultoria JL Rodrigues
Ele tem uma reputação muito boa e foi um importante contraponto ao grupo mais conservador do BC
Zeina Latif, economista-chefe do banco ING
É um nome muito forte, com capacidade para fazer uma transição tranquila, sem sustos
Alexandre Póvoa, economista-chefe da Modal Asset Management