Economia

Tudo como sempre no setor de cartões de crédito

Vânia Cristino/ Especial Estado de Minas
postado em 30/03/2010 08:23
Depois de tantos debates e estudos, o governo tende a manter tudo como está no setor de cartões de crédito. Ou seja, aceitando como melhor opção a chamada autorregulação, frustrando as expectativas do público usuário do dinheiro de plástico. A análise para uma nova regulamentação da atividade avançou, mas acabou empacando no ponto de que, isoladamente, nenhum órgão do governo tem como se meter no relacionamento entre o comerciante a as empresas credenciadoras dos cartões de crédito e débito. "É uma transação comercial", avaliou um técnico. O Banco Central, por exemplo, tem sob suas asas os bancos que estão por trás das diversas bandeiras. Ele também pode ser responsável pelas administradoras de cartões de crédito, se ficar definido que essas empresas possuem status de instituição financeira. "Nem isso está fechado", disse uma fonte com acesso aos estudos. Para essa fonte, no entanto, o que vem fazendo o governo atrasar a divulgação de uma proposta para o segmento é a complexidade das relações envolvidas, além da expectativa que se criou de uma regulação abrangendo toda a cadeia envolvida. Enquanto isso, o setor, organizado em torno da Associação Brasileira das Empresas de Cartão de Crédito e Serviços (Abecs), diz ter pontos positivos para apresentar a favor da autorregulação. Um deles é o fim da exclusividade da Cielo (ex-VisaNet) com a Visa, que acaba em 30 de junho. A proximidade da data está fazendo o mercado se movimentar, elevando a concorrência. Dois dos cinco pontos apontados pelo governo - fim da exclusividade e abertura do mercado de credenciamento, com a mesma maquininha passando cartões de várias bandeiras - está acontecendo naturalmente. Para o presidente da Abecs, Paulo Rogério Caffarelli, o fim da exclusividade é um divisor de águas para o setor. "O fim da exclusividade estimula a competitividade", garantiu. Segundo Cafarelli, as adquirentes - empresas que credenciam os estabelecimentos comerciais, colocam as maquininhas à disposição e ainda cuidam da captura das transações feitas pelos consumidores - sairão a campo para ganhar clientes. Os comerciantes, por sua vez, serão beneficiados com a redução dos custos, não tendo mais que pagar o aluguel de várias máquinas. A expectativa é de que todo esse movimento se traduza em redução de custos para o consumidor final, que faz suas compras usando o dinheiro de plástico. Mercado se movimenta Bastou a data do fim da exclusividade da Cielo com a Visanet ficar visível num horizonte próximo para o mercado se movimentar. A Redecard já avisou que está em processo de teste para receber os cartões da bandeira Visa. A Cielo, que também se movimenta para não perder mercado, e o Santander, com a GetNet, já anunciaram que passarão a credenciar Mastercard para a base de clientes pessoa jurídica do banco espanhol no Brasil ainda neste semestre. O presidente da Redecard, Roberto Medeiros, disse que o importante para sua empresa é que os lojistas saibam da qualidade do serviço que é prestado. A Redecard sempre foi multibandeira, mas, com a proximidade do fim da exclusividade da Visa, intensificou a troca das maquininhas antigas e a programação visual que indica as diversas marcas. A Redecard praticamente trocou um quarto de todas as máquinas à disposição dos lojistas. Não são só as duas maiores, que detêm cerca de 90% do mercado, que estão se mexendo. O aumento da renda da população brasileira com a expectativa de uso cada vez mais intenso de meios eletrônicos para pagamento abrem espaço para que novas empresas passem a explorar o mercado de cartões. Empresas credenciadoras ou adquirentes são aquelas que colocam à disposição dos lojistas os equipamentos para as transações com o dinheiro de plástico. São elas também que captam e processam as transações realizadas pelos clientes. Uma concorrente de peso das duas grandes, com forte presença na Região Nordeste, é a Hipercard. Ela teve origem na rede de supermercados BomPreço e agora está presente em cerca de 450 mil estabelecimentos. No Rio Grande do Sul atua com grande desenvoltura a BanriCompras, do Banrisul. Nada impede que essas empresas também se credenciem a operar com outras bandeiras, atraindo novos estabelecimentos com taxas mais baixas.

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