Economia

Siderúrgicas chinesas ameaçam boicotar a Vale por dois meses

postado em 06/04/2010 08:32
As siderúrgicas chinesas ameaçam declarar guerra à Vale e a outras gigantes da mineração. A Associação de Ferro e Aço da China defendeu nesta segunda-feira (5/4) um boicote de dois meses à companhia brasileira, que detém 32,8% do mercado mundial de produção de minério de ferro, e às anglo-australianas BHP Billiton (15,1%) e Rio Tinto (18,6%), em protesto às mudanças no sistema de preços nos contratos. Em vez de os valores serem anuais, eles estão sendo fixados trimestralmente, com a cotação baseada no mercado à vista. A entidade fez a proposta às empresas associadas após calcular que as atuais reservas da matéria-prima só são suficientes para suprir a demanda por dois meses. O minério de ferro é um dos principais componentes do aço, insumo crucial para o setor automotivo, da construção civil e da fabricação de vários bens de consumo. Na Ásia e na Europa, as siderúrgicas criticam cada vez mais as exigências das três gigantes. Os preços acertados com as siderúrgicas japonesas e sul-coreanas geralmente servem de referência. Algumas delas, a exemplo da japonesa Nippon Steel, aceitaram em 2010 aumentos de 80% a 90%, reajuste que as chinesas não querem ratificar. Procurada pelo Correio, a Vale não comentou o assunto. Na Europa, as mudanças também provocaram forte reação do mercado. Na semana passada, a Eurofer, que representa as siderúrgicas do continente europeu, denunciou à Comissão Europeia, que fiscaliza a concorrência na União Europeia (UE), "fortes indícios de coordenação ilícita" entre as três gigantes da mineração para impor aumentos de preço "injustificáveis". O presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Paulo Camillo Vargas Penna, criticou a conduta das siderúrgicas. Segundo ele, o que está ocorrendo não é reajuste do minério, mas uma mudança na formação de preços nos contratos para que a cotação fique mais próxima da realidade. "O preço, agora, ficará em média 80% a 90% maior. Mas, daqui a três meses, pode cair 30% ou mais. Isso depende do mercado", explicou. Ele lembrou que, no auge da crise internacional, as companhias compraram o insumo por preços 30% inferiores aos fixados nos contratos, que ainda estavam em vigor. "A China quer muito ser reconhecida como um país que pratica a economia de mercado, mas carteliza o minério", criticou Penna. Na sua visão, o alarde das siderúrgicas chinesas não terá êxito. "Hoje (ontem) o mercado à vista bateu em US$ 160 a tonelada do minério. E os chineses estão reclamando de US$ 110, US$ 120", ressaltou. Ele acredita que a nova metodologia de formação de preços passará a vigorar também em outros tipos de minérios, como o manganês e o carvão.

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