Economia

Renda do brasileiro cresceu e bateu recorde em 2009

Agora, cada família ganha R$ 1.285 mensais. O valor é uma média geral da remuneração de todas as classes sociais e foi impulsionado pela ascensão de um exército de consumidores da base para o centro da pirâmide social

postado em 07/04/2010 08:00
O brasileiro nunca teve tanto dinheiro para gastar. Em 2009, a renda média das famílias bateu recorde: atingiu R$ 1.285 mensais. O valor foi impulsionado pela expansão de uma nova classe consumidora, que trocou a base pelo centro da pirâmide social. Cerca de 30 milhões de pessoas das classes D e E ascenderam à classe C em cinco anos. Até para os que não conseguiram atravessar a linha da pobreza, a situação melhorou. A renda dessas pessoas cresceu 259% entre 2004 e 2009 ; ganho mais de 10 vezes superior à inflação do período. Os números que descrevem esse céu de brigadeiro (1) fazem parte da pesquisa Observador Brasil 2010, realizada pela Cetelem, financeira do grupo francês BNP Paribas.

Mas, na trajetória de melhoria da vida do brasileiro, se a renda aumentou , aumentou também o custo de vida, como o valor médio dos gastos essenciais em 2009. Cada família desembolsou R$ 1.066,25 mensais com supermercado, luz, água, aluguel, remédios e transporte. Os gastos foram liderados, principalmente, pela melhora da mesa, que ficou recheada de produtos antes considerados supérfluos pela classe C, a exemplo do iogurte, das carnes de primeira e dos biscoitos. ;O Brasil viveu nesses últimos anos crescimento de renda, emprego e crédito, o que gerou aumento de consumo. Como as pessoas têm mais recursos disponíveis, também passaram a adquirir produtos que não consumiam antes;, ponderou o diretor-geral da Cetelem do Brasil, Marcos Etchegoyen.

É a situação do pedreiro Cláudio Pereira de Matos, 38 anos, que tem renda familiar de R$ 1,5 mil e, hoje, consegue fazer passeios com a família, comprar mais roupas e ainda atender algumas das vontades da filha de oito anos, Caroline Pereira. ;Comprei uns edredons, roupas e até um lanchinho para minha criança, um sanduíche. Apesar dessa inflação, o comércio está oferecendo mais opções de pagamento, o negócio é conseguir pagar depois. Tem de ser bem controlado;, ensina o pedreiro.

Lazer
O pedreito Matos também reflete um outro aspecto da pesquisa da Cetelem, no qual foi registrada a tendência de alta para gastos não essenciais, principalmente com itens de lazer e vestuário. Além desses dois segmentos, ocupam o topo da lista de vontades do consumidor para o próximo ano a aquisição de eletrodomésticos, móveis, viagens e aparelhos celulares. Assim como ele, a cozinheira Eliane Rodrigues, 36 anos, também está comprando mais supérfluos e fazendo a vontade do filho. Ela adquiriu um celular novo para o garoto. ;Minha renda melhorou. Há uns três anos, sustentava meu filho com um salário mínimo, quando era doméstica. Hoje, eu ganho R$ 1,2 mil;, relatou. ;Até dá para fazer financiamentos, mas prefiro pagar à vista para não me comprometer demais;, disse Eliane.

Poupança
Embora ainda em pequena escala, o hábito de poupar também cresceu entre os brasileiros. Entre 2005 e 2009, o valor médio economizado subiu 36%. O fim do mês também deixou de representar um arrocho até a chegada do seguinte. Segundo os entrevistados, sempre tem sobrado algo do salário no bolso. Na média, R$ 138,16 mensais em 2009. Um ano antes, o valor era de R$ 108,25. Para Marcelo Néri, pesquisador do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV), todos esses dados mostram que o Brasil continuará a ter um crescimento contínuo. ;Não é um voo de galinha, mas tem altos e baixos. É um crescimento sustentável, baseado no crescimento da renda e do emprego. Até 2010, reduziremos a pobreza pela metade;, afirmou.

Mas a despeito do quadro positivo, o pesquisador alerta que ainda é preciso investir em educação, para não comprometer a melhora de vida dessa população emergente. ;O ensino no país anda é ruim e precisa ser melhorado. A educação é um elo fundamental para o desenvolvimento do país e determinante para que as pessoas mudem de status social;, argumentou Néri.

1 - Entusiasmo

O cenário positivo atual tem como consequência o aumento do otimismo do consumidor. Pela primeira vez na pesquisa da Cetelem, 40% dos entrevistados se disseram entusiasmados, ultrapassando os preocupados, que somaram 35%. Em uma escala de zero a 10, o Brasil obteve 6,4 pontos, a melhor média frente os 13 países pesquisados pela financeira.

; Fim do IPI menor empurrou varejo


O comércio varejista do país teve em março o melhor desempenho desde setembro de 2008. O movimento foi atribuído ao fim da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre móveis e veículos em 31 de março. Para não perderem o benefício, os consumidores saíram às compras antes de o mês terminar e puxaram para cima o resultado das vendas. Com isso, o nível de atividade do comércio atingiu 13,5% comparado a igual período de 2009, segundo os dados da consultoria Serasa Experian. Em janeiro, o índice estava em 10,2% e, em fevereiro, em 10%.

;O fim do IPI reduzido para móveis e veículos provocou uma corrida dos consumidores às lojas no mês de março;, informou a empresa. Os segmentos que mais se destacaram foram os de veículos, motos e peças ; com aumento de 31,4% sobre março de 2009 e de 8,3% na comparação com fevereiro ;, seguido pelo de móveis, eletroeletrônicos e informática (21%) e de material de construção (21,3%).

Confirmação
Segundo a Serasa, todos os demais segmentos de varejo pesquisados também exibiram elevações nas vendas superiores a 2% no mês passado. Isso confirmou, de acordo com a empresa, a boa performance da atividade varejista nacional tanto pelo crescimento da massa salarial real (nível de emprego mais rendimento real) quanto pela oferta de crédito em prazos cada vez mais dilatados. As constatações são dos economistas da consultoria.

No trimestre, o comércio varejista, em seu todo, registrou um aumento de 11,3% nas vendas. O setor de veículos, motos e peças liderou a alta, com um desempenho de 24,7% no período. As lojas de móveis, eletroeletrônicos e informática ficaram sem segundo lugar, com resultado 20,33% maior.

Ouça entrevista com o economista Marcelo Neri, da FGV

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