postado em 09/04/2010 08:46
O troca-troca nos ministérios atiçou a queda de braço entre PT e PMDB por mais cargos no governo. A ambição é tanta que até mesmo a Telebrás - empresa quase extinta em 1998, quando houve o processo de privatização do setor de telecomunicações, e que carrega dívida estimadas em R$ 400 milhões -, entrou no rol de interesses de parlamentares ávidos por tirar proveito desse final da administração Lula. O apetite decorre do desejo do presidente da República de reativar a estatal para coordenar o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), programa que visa levar internet rápida a preços baixos para todos os municípios brasileiros.
[SAIBAMAIS]Três candidatos estão na briga. Um deles é Rogério Santanna, secretário de Logística e Tecnologia da Informação do Ministério do Planejamento. "Ele é candidato declarado por tudo que tem trabalhado para que o plano de banda larga saia do papel e pela defesa em prol da reativação da Telebrás", afirmou ao Correio um funcionário de alto escalão do governo. Santanna, apontado com o primeiro nome do PT para a Telebrás, tem relação bastante estreita com Lula, mas há resistência à sua indicação em torno do presidente. "O (ministro da Fazenda, Guido) Mantega, por exemplo, não gosta dele", contou o servidor.
As justificativas de Mantega para não avalizar o nome de Santanna são a forma idealista e sonhadora com que o secretário expõe seus projetos e a postura radical em relação às operadoras de telefonia. "Quando Santanna foi para o Planejamento chegou a propor a reestatização do setor de telefonia. Felizmente, hoje ele não é tão radical. É uma pessoa que evoluiu tanto do ponto de vista político quanto intelectual", disse outro integrante do governo. Ele lembrou que, caso a Telebrás renasça das cinzas mas Santanna seja preterido, a outra opção do PT seria André Barbosa, assessor especial da Casa Civil. O problema é que também há entraves para a nomeação dele, por ser muito acadêmico. "Ele é um cara para pensar, não para executar", comparou o funcionário palaciano.
Nada de coveiro
A Telebrás é presidida hoje por Jorge Motta e Silva. Ele está no cargo há cinco anos e conseguiu sobreviver nesse período sem problemas porque ninguém aventava a possibilidade de a estatal voltar a operar. Motta sequer tinha o apoio do ex-ministro das Comunicações Hélio Costa, que deixou o posto para disputar o governo de Minas Gerais pelo PMDB. Ele foi indicado em 2004, antes de Costa assumir o ministério. Mas com a ascensão de José Artur Filardi ao comando da Pasta, acabou ganhando força para continuar no cargo, pois tem boa relação com o novo ministro. Fora isso, se for mantida a linha de que o PMDB é o "dono do pedaço" das Comunicações, sua chance aumenta de continuar onde está, apesar das críticas de não ter formação técnica em telecomunicações.
Dentro do governo, gente graúda diz é que Motta está defendendo aos quatro cantos a sua permanência na Telebrás. O apego do executivo à companhia ficou explícito durante a 38ª Assembleia Geral Ordinária (OGU) da companhia, realizada quarta-feira em Brasília, à qual o Correio teve acesso. Quando questionado por acionistas minoritários sobre a reativação da estatal, ele respondeu: "Se for intenção do governo fechar a Telebrás, peço que me avisem com 24 horas de antecedência, pois não serei eu o seu coveiro".
Apetite desmedido
Com a garras afiadas, PT e PMDB também se digladiam nos bastidores do governo pelo comando da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Os petistas defendem que a presidência da empresa vinculada ao Ministério do Planejamento, tradicional feudo do PMDB, fique a cargo de Sílvio Isopo Porto, que hoje responde pela diretoria de Política Agrícola e Informações da empresa. Os peemedebistas, que transferiram Wagner Rossi da presidência da Conab para o lugar de Reinhold Stephanes no ministério pretendem emplacar a todo custo Carlos Magno Brandão para a companhia.