postado em 10/04/2010 09:10
Diante da disparada da inflação e da ameaça da indústria de reajustar suas tabelas nas próximas semanas, repassando a alta de custos aos consumidores, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, endureceu o discurso. Segundo ele, se o governo perceber movimentos de altas exageradas e injustificadas no preço de qualquer mercadoria, não titubiará em reduzir as alíquotas de importação para aumentar a concorrência no mercado doméstico.
O aviso de Mantega foi direcionado, sobretudo, às siderúrgicas, que vêm anunciando aumentos no aço como resposta à nova política de preços do minério de ferro definidas pelas três maiores mineradoras do mundo - a Vale, a BHP Billiton e a Rio Tinto -, que resultou no encarecimento de quase 100% do produto. Em junho do ano passado, cedendo à choradeira das siderúrgicas afetadas pela crise mundial, a Fazenda elevou de zero para 12% a tarifa de importação do aço, como forma de proteger a produção nacional e garantir empregos no setor. No atual cenário, tal benefício pode cair, até porque o valor do aço no mercado interno está até 40% mais caro do que no exterior.
"Se algum setor econômico começar a abusar dos preços, podemos baixar as alíquotas de importação, por exemplo", afirmou Mantega durante participação, em São Paulo, da Feira Internacional da Construção. "O governo pode agir de várias maneiras", reforçou, indicando que não haverá tolerância com aumentos abusivos de preços. O ministro teme que, com a inflação deste ano e de 2011 se distanciando demais do centro da meta perseguida pelo Banco Central, de 4,5%, o Comitê de Política Monetária (Copom) pese demais a mão nos juros, derrubando, além do desejável, o crescimento da economia. "O governo está vigilante, mas eu não tenho notado anomalia", frisou.
Culpa das chuvas
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), usado como referência para o sistema de metas do governo, acumulou alta de 5,17% nos últimos 12 meses e de 20,6% apenas nos primeiros três meses deste ano (foi o pior primeiro trimestre desde 2003). "A inflação é uma preocupação permanente do governo", assinalou. Para ele, no entanto, a forte alta dos preços entre janeiro e março foi resultado de problemas momentâneos, temporários, como o excesso de chuvas, que, segundo ele, "já está passando". O aguaceiro reduziu a oferta e provocou o encarecimento dos alimentos.
"O fundamental é dizer que a inflação não é de demanda, a inflação é por choque de oferta. Todo mundo sabe, é só olhar os índices, e se você olhar o pior é o tomate. O que causou maior inflação foi o tomatinho", disse. A seu ver, os preços vão recuar nos próximos meses. "De qualquer maneira, estaremos atentos para não deixar que outros preços possam se elevar. Nós garantimos que a inflação permanecerá sob controle no Brasil", assegurou. Ele reconheceu, porém, que a economia brasileira está bem mais aquecida, mas ressaltou que o setor manufatureiro tem condições de atender a uma demanda maior.
IPCA pode chegar a 6%
Mais pessimistas com a inflação deste ano, os analistas estão refazendo as contas e projetando taxas cada vez maiores. Segundo o economista-chefe da Personale Investimentos, Carlos Thadeu Filho, em vez de 5,2%, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) cravará 6% em 2010, ficando apenas 0,5 ponto percentual abaixo do teto da meta perseguida pelo Banco Central, de 6,5% - pelo sistema, o centro da meta é 4,5%, podendo variar dois pontos para cima ou para baixo.
"Tudo piorou", disse Thadeu. "Quando se analisa o IPCA, o que se vê são reajustes disseminados%u201D, ressaltou. Por isso, o BC terá de promover aumento na taxa real de juros, ou seja, elevar os juros em um percentual maior do que a inflação. "Não descarto que a alta da taxa básica (Selic) comece em 0,75 ponto percentual neste mês", destacou.
O Banco Santander elevou a projeção para o IPCA deste ano de 5,1% para 5,5%. A economista-chefe do Banco Fibra, Maristella Ansanelli, prevê inflação de 5,3%.