postado em 13/04/2010 08:36
Março registrou inflação recorde para a população de baixa renda. O Índice de Preços ao Consumidor Classe 1 (IPC-C1), que mede o custo de vida entre as famílias com renda mensal de até R$ 1.275, atingiu 1,4%, patamar sem precedente desde 2004, início da série histórica da Fundação Getulio Vargas (FGV). A culpa de taxa tão elevada foi dos alimentos, que, em média, consomem 80% do orçamento dessa parcela da população e, nas últimas semanas, vêm em trajetória de encarecimento. O vilão da vez foi o feijão carioquinha, cujos preços aumentaram 8,46%.
Em 12 meses, o IPC -C1 acumulou elevação de 6%, quase o teto da meta de inflação para 2010, definido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) em 6,5%. Já o índice para todos os brasileiros, apesar de também seguir tendência de alta, ficou 0,83 ponto percentual abaixo da taxa registrada para os pobres. %u201CNunca houve resultado nesse patamar para a baixa renda. A alta de preços ocorreu, em boa parte, nos alimentos in natura. Devido ao excesso de chuvas, está havendo escassez desses produtos%u201D, disse o economista André Braz, pesquisador da FGV.
Somente nos primeiros três meses do ano, a inflação dos alimentos atingiu 6,05% para as famílias de baixa renda e, segundo especialistas, além do excesso de chuvas, os reajustes podem estar sendo causados por excesso de demanda. %u201CConstatamos aumentos nos preços do feijão, do leite e das carnes, principalmente as de segunda, que são as mais consumidas. Todos esses produtos estão sendo muito mais procurados pelo consumidor, resultando em uma demanda maior que a oferta%u201D, afirmou Braz.
Ganho no campo
O economista Eduardo Otero, da corretora Um Investimento, seguiu na mesma linha de raciocínio. %u201CA piora da inflação tem sido contínua. Por conta desses resultados recentes, podemos dizer que há sim pressão pelo lado da demanda. Principalmente da parte de serviços e de alimentação%u201D, assinalou. Na cesta de produtos da baixa renda, além do feijão carioquinha, o tomate, com alta de 47,85%, apareceu mais uma vez entre os que mais contribuíram para a taxa recorde. Já o leite tipo longa-vida, importante item na mesa do brasileiro, ficou 8,16% mais caro. O quilo da cebola subiu 12,48% (veja quadro).
A alta de todos esses alimentos se reflete no campo, mas de forma positiva. Segundo o Ministério da Agricultura, o preço pago aos produtores pela maioria dos produtos amplia a renda dos plantadores. Estima-se que a safra brasileira deste ano fechará 2010 movimentando R$ 160,56 bilhões %u2014 valor 2,3% maior que o registrado no ano passado e o segundo maior já obtido pela agricultura brasileira. As produções de café e de cebola foram as com maior expectativa de valorização neste ano.