Com o crédito farto e a renda em alta, as vendas do varejo surpreenderam os analistas ao registrar alta de 11,3% no primeiro bimestre do ano, desempenho que forçou a Confederação Nacional do Comércio (CNC) a elevar as projeções de crescimento para 2010. A nova expectativa é de que o setor feche o ano com expansão de 10,3%, taxa que, se confirmada, será a maior variação desde que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) começou a realizar a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), em 2000.
O quadro está tão favorável ; a criação de empregos formais está batendo recordes ; que todos os segmentos do varejo apresentaram expansão em fevereiro e a perspectiva é de que o forte movimento das lojas se mantenha nos próximos meses. ;Desde outubro do ano passado, o comércio vem registrando índices elevados de crescimento. Se, no pior dos cenários, o varejo não crescer mais nada de março a dezembro, ainda assim teremos garantido um incremento de 8,5% em 2010;, calculou o economista da CNC Fábio Bentes.
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Para Luiza Rodrigues, economista do Banco Santander, o segmento de supermercados deverá ser um dos principais responsáveis por avanços nas vendas e nas receitas do varejo neste ano. ;Em fevereiro, esse segmento respondeu por quase 50% no aumento de 1,6% das vendas medidas pela Pesquisa Mensal (1) do Comércio;, disse. A seu ver, o crédito teve bastante importância no crescimento da venda. ;Mas a expansão da renda foi o fator determinante;, assinalou. Os supermercados, de acordo com a PMC, registram elevação de 3% nas vendas entre janeiro e fevereiro.
A despeito da inflação pressionando o bolso dos consumidores neste início de ano, o bom desempenho do varejo também foi influenciado pelos preços, segundo Reinaldo Pereira, pesquisador do IBGE. ;Algumas atividades de hipers e supermercados, computador e telefonia celular apresentaram estabilidade de preços. Somada ao aumento da renda e ao crédito, essa estabilidade permitiu ao comércio vender mais;, explicou.
1 - Brasília fica atrás
No Distrito Federal, o comércio também segue em ritmo de expansão. Apesar de estar entre as unidade da federação com as menores taxas, a capital do país registrou elevação de 8,6% em vendas, um avanço de 2,6 pontos percentuais frente a janeiro. O número superou dezembro, mês de forte consumo em função do Natal, com alta de 7,8% frente novembro de 2009.
; Caem as taxas ao consumidor
Na contramão de todas as expectativas do mercado financeiro, em março, o brasileiro pagou a menor taxa média de juros desde 1995, segundo a Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). Esse resultado, na visão dos analistas, só foi possível graças ao aumento da concorrência no setor bancário e à queda nos índices de inadimplência. Para os consumidores, os juros recuaram 0,15 ponto percentual, fechando em 6,77% ao mês. No caso das empresas, a queda foi menor, de 0,10 ponto, para 3,59% mensais. Esse quadro, porém, pode mudar a partir de abril, diante da perspectiva de alta da taxa básica de juros (Selic) pelo Banco Central.
O custo menor do crédito tem sido fundamental para o incremento das vendas do varejo. Mas, no entender da economista Luiza Rodrigues, do Banco Santander, os pagamentos à vista ainda são predominantes no comércio ; cerca de 40% das compras são parceladas. ;Não é possível chegar a um número exato, mas se pode dizer que menos da metade dos consumidores recorre ao crédito;, disse.
Segundo Miguel Oliveira, economista da Anefac, a queda dos juros em março foi uma surpresa. ;O número não era esperado. Em consequência dessa queda, o consumo deve crescer mais no primeiro semestre;, previu. No levantamento da Anefac, o tradicional crediário está cobrando juros médios de 5,72% ao mês, mas é possível encontrar taxa de 2,33% mensais. O custo mais elevado do mercado está no cartão de crédito: 10,69% ao mês ou 237,93% anuais.