O Brasil poderá deixar a lanterninha do crescimento econômico entre os países emergentes no fim deste ano e, de quebra, registrar o melhor desempenho desde 1986. Analistas de mercado já preveem um aumento de 7% no Produto Interno Bruto, a soma de todos os bens produzidos em um ano. Se confirmado, o aumento será uma vitória política do governo Lula, que deixará ao sucessor um país em crescimento e com inflação sob controle, um legado raro na história brasileira. Os 7% superam os índices previstos pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) para o México (4%), a África do Sul (1,9%) e a Rússia (3,6%), mas ficam abaixo dos projetados para a Índia (7,7%) e a China (10%).
O JP Morgan foi o primeiro banco a cravar previsão de crescimento de 7%, índice só superado pelos 7,6% de 1986, ano em que Brasil inaugurou, com o Plano Cruzado, uma série de pacotes econômicos para tentar vencer a inflação. Mas o que se viu foi congelamento de preços, desabastecimento, início do processo de hiperinflação e a vitória avassaladora, nas eleições estaduais, do PMDB ; partido que cederá o vice da chapa liderada pela petista Dilma Rousseff.
Segundo Fábio Akira, economista-chefe do JP Morgan, nem mesmo a perspectiva de alta da taxa básica de juros (Selic) a partir deste mês inibiu a revisão das estimativas para o PIB deste ano ;Os indicadores de produção industrial e as vendas do varejo apontam para esse crescimento. Também o mercado de trabalho tem se mostrado robusto e a confiança do empresariado e dos consumidores se mantém firme;, afirmou.
Desequilíbrios
Para o estrategista de investimentos do Private Santander, Odair Abate, a perspectiva de aumento de 7% é factível e significa que o Brasil voltou ao mesmo patamar de antes do estouro da bolha imobiliária americana, no fim de 2008, que contraiu a economia mundial. ;Antes da crise, o Brasil vinha registrando taxas anualizadas de expansão de 6,4%;, disse.
Embora possa se tornar um ativo eleitoral para o governo, a estimativa de crescimento de 7% foi recebida com ressalva pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. Para ele, projeções como essa ;beneficiam quem torce por uma Selic mais alta;. A notícia, aparentemente boa, tornou-se, na visão do ministro, um argumento a mais em favor da elevação dos juros, cuja decisão será liderada por seu adversário, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. ;Essa projeção de 7% me parece exagerada;, disse, ressaltando que o desempenho da economia no primeiro trimestre está inflado pela redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) de móveis, automóveis e eletrodomésticos.
Para vários analistas, o crescimento elevado pode ocorrer sem causar grandes desequilíbrios, porque as empresas estão tocando importantes projetos de investimento, que vão garantir o abastecimento do consumo. Mas há quem veja com cautela as perspectivas de crescimento acima de 5% nos próximos anos sem transtornos. A barreira para o crescimento está justamente no nível de investimento da economia, incapaz de sustentar um ritmo elevado de expansão do PIB.
;Na China, o investimento atinge 45% do PIB, aqui não chega a 20%. Já experimentamos os famosos voos de galinha, porque sempre batemos na parede da inflação;, assinalou Abate. ;Mas, ao contrário de anos anteriores, estamos vendo, agora, muitas intenções de investimento.;
Mais conservadora, a economista-chefe do ING, Zeina Latif, projeta crescimento entre 5,6% e 6,5% em 2010. ;Avanço de 7% ou acima disso não é uma boa notícia, pois os gargalos já começam a aparecer;, afirmou. Ela fez outro alerta: o excessivo otimismo pode contaminar as disputas eleitorais e, pior, a política econômica. Zeina lembrou que todos os programas de incentivos foram postergados no fim do ano passado, quando já estava claro que a economia não precisava manter os estímulos.
Protesto do Greenpeace
Fantasiados de turbinas eólicas, barris de petróleo, árvores, painéis solares e chaminés, ativistas do Greenpeace foram detidos por policiais militares do Distrito Federal após protesto em frente ao Palácio do Itamaraty. Na ocasião, o presidente Lula recebia chefes de Estado de China, Índia e África do Sul, durante o encontro do Ibas. Mesmo com a avenida fechada para o trânsito de veículos e toda cercada por PMs, seis ;integrantes verdes; driblaram a segurança oficial e se aproximaram do palácio. Segundo a assessoria de imprensa do Greenpeace, o objetivo da ação era pedir uma atuação mais decisiva desses países na tentativa de convencer os Estados Unidos e a Europa a rever suas metas de redução na emissão de gases estufa.