postado em 17/04/2010 10:00
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, fez uma ameaça às siderúrgicas: se houver aumentos abusivos nos preços do aço, que provocarão um efeito cascata em toda a cadeia produtiva de bens duráveis (carros e eletrodomésticos, principalmente), o governo vai zerar a alíquota de importação do produto. O aviso foi dado aos empresários no encerramento do 21; Congresso Brasileiro do Aço. "Eu sei que o setor aqui não gosta muito disso (de ameaças e de impostos de importação menor). Mas somos obrigados a fazê-lo em certas circunstâncias. Isso vale para vários setores. Vamos utilizar produtos externos para manter a competitividade aqui dentro e segurar a inflação", afirmou Mantega. As siderúrgicas vêm alardeando que não têm como arcar, sozinhas, com o aumento de 100% do minério de ferro, um dos principais insumos.
Segundo Mantega, levantamentos realizados pela Fazenda ainda não identificaram reajustes para os consumidores decorrentes do encarecimento do minério de ferro e do aço. Por isso, o governo ainda não tomou a decisão para zerar a alíquota de importação, elevada para 12% no meio do ano passado, diante da choradeira das siderúrgicas de que estavam em situação difícil, por causa da redução do consumo provocada pela crise mundial. "Vamos continuar olhando com lupa para ver se há irregularidades. Se houver, nós vamos tomar medidas", alertou. O alerta, enfatizou o ministro, vale para todos os segmentos. "A inflação é o pior dos males, não a elevação dos juros", frisou.
Mantega pediu cautela aos empresários, que estão ávidos para recompor as margens de lucros perdidas desde a eclosão da crise mundial, no fim de 2008. "É preciso ir devagar com as margens para que não haja correções acima do razoável", alertou. E, mais uma vez, frisou que o governo está alerta. "Temos que ficar vigilantes para que não haja contágios desses preços sobre outros preços. Por exemplo, setores que já querem se antecipar e corrigir margens antes mesmo das elevações (de matérias-primas e insumos", afirmou. Categórico, o ministro disse que, se ocorrerem remarcações preventivas, o governo não hesitará em estimular as importações para combater altas abusivas de preços. "Nesses casos, nós agiremos", garantiu.
*A repórter viajou a convite do Instituto Aço Brasil
O NÚMERO
Exagero
Mineradoras reajustaram em
100% a tonelada do ferro
Brasil não terá supercrescimento
São Paulo - Ao mesmo tempo em que fez ameaças às siderúrgicas, que insistem em repassar o aumento de custos para os consumidores, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, rechaçou os exageros dos economistas que vêm alardeando a possibilidade de o Brasil registrar um supercrescimento neste ano, de até 7%.
"Falar em 7% é exagero. Talvez seja desejo de alguns. Nós preferimos trabalhar com taxas entre 5,5% e 6%, mais realistas", acrescentou. No entender do ministro, os mesmos analistas que jogaram nas alturas a estimativa de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano são os que "também desejam influenciar na elevação dos juros para um patamar maior do que o necessário".
Na avaliação de Mantega, há muito o que comemorar com a retomada da economia brasileira, sobretudo porque esse movimento está sendo puxado pelo emprego e pela renda. O aumento do poder de compra dos trabalhadores será, inclusive, o grande responsável pelo fato de o Brasil fechar 2010 com rombo na conta de viagem internacional entre US$ 4 bilhões e US$ 5 bilhões. Esse buraco, destacou ele, ajudará no avanço do deficit de contas correntes em relação ao ano passado. "Mas não será nada preocupante, pois deve ocorrer de forma transitória, o que é tolerável", assinalou.
Em contrapartida, as contas públicas terão, segundo Mantega, um excelente desempenho neste ano. Pelas suas contas, o Brasil deverá registrar deficit nominal (que leva em conta o pagamento de juros da dívida) ao redor de 1,5% do PIB, resultado que, se confirmado, será o segundo menor do G-20, o grupo das vinte nações mais ricas do mundo. Quanto ao superavit primário (economia que não considera os juros), o ministro assegurou que o governo cumprirá a meta de 3,3% do PIB. "Esses números mostram que o governo está comprometido totalmente com a solidez fiscal", afirmou.