Economia

Investigação sobre o Goldman Sachs e medidas de restrição ao crédito na China desanimam os investidores no mundo

Vera Batista
postado em 20/04/2010 07:23
O clima de desconfiança motivado pelas investigações contra o banco americano Goldman Sachs e as medidas de restrição ao crédito na China contaminaram o mercado de ações em todo o mundo, derrubando as bolsas na Ásia, na Europa e no Brasil. Na Ásia, somente ontem as bolsas reagiram ao caso do Goldman Sachs. O Shanghai Composite, de Xangai, cedeu 4,79%. Em Hong Kong, o Hang Seng encerrou a sessão com baixa de 2,10%. O Kospi, de Seul, recuou 1,68% e o índice Nikkei 225, de Tóquio, caiu 1,74%.

O nervosismo dominou o mercado brasileiro durante todo o dia de ontem e a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) fechou 69.097 pontos, com queda de 0,47%. ;Na verdade, a Bolsa brasileira chegou a cair mais de 1%. Mas resistiu, se descolou dos problemas internacionais e acabou recuperando um pouco;, destacou o economista Demetrius Borel Lucindo, da Corretora Prosper.

A tendência, a partir de agora, é manter-se alerta às notícias que vêm de fora e agir com muita cautela. ;Não temos condições de mensurar todos os fatos. Mas estamos de olho nos mercados europeu e asiático. Alemanha e Inglaterra foram os primeiros a exigir mais rigor sobre as operações hipotecárias do Goldman Sachs. Outros tantos poderão seguir o exemplo;, complementou Luiz Roberto Monteiro, assessor de investimentos da Corretora Souza Barros.

O dólar surpreendeu e fechou também em queda de 0,28%, cotado a R$ 1,755. ;Os investidores ficam com medo. Normalmente predomina o instinto selvagem. Associa-se a queda da Bolsa à alta do dólar. Desta vez, isso não aconteceu;, comentou Gilberto Coelho, da Corretora XP Investimentos. E o principal motivo do comportamento contrário é a aposta dos analistas na alta dos juros na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, na semana que vem. O BC chegou a intervir, por volta das 12h35, comprando a moeda estrangeira, quando o preço estava em R$ 1,760.

O número
-0,47%



Dividida, SEC investiga

Liana Verdini

O principal indicador do mercado de ações americano fechou em alta. Um dos motivos a animar os investidores foi a divisão interna dentro da Securities and Exchange Commission (SEC, autoridade encarregada de fiscalizar o mercado de ações), que aprovou por três votos a dois a continuidade do processo contra o banco de investimentos Goldman Sachs, acusado de fraude contra investidores. Com isso, as ações do banco que abriram o pregão caindo 3,6%, encerraram o dia subindo 1%.

Mas as perspectivas não são positivas para esses papéis, que podem sofrer com a decisão de autoridades europeias de investigar o Goldman em seus países. No domingo, o primeiro-ministro inglês, Gordon Brown, determinou à autoridade inglesa de serviços financeiros que inicie uma sindicância, se confessando ;chocado; com a ;falência moral; apontada no processo da SEC. O organismo regulador do mercado financeiro alemão, Bafin, solicitou à SEC detalhes do processo, disse a porta-voz da chanceler Angela Merkel.

Em Londres, um porta-voz do banco declarou que Fabrice Tourre, acusado pela SEC de ser o principal mentor da operação que fraudou os investidores, criando um fundo atrelado a títulos de hipotecas imobiliárias de alto risco, continua empregado do banco e não foi suspenso. Mas acrescentou que Tourre tomou a decisão pessoal de se licenciar do trabalho. De acordo com o porta-voz, uma investigação interna conduzida pelo Goldman concluiu que Tourre não fez ;nada de errado;. E acrescentou que as investigações foram iniciadas tão logo o banco foi contactado pela SEC sobre o caso.


2010 com juro maior

Victor Martins

Após 13 semanas sem alterar a projeção da taxa Selic, o mercado fez o primeiro ajuste e elevou a previsão de 11,25% para 11,50% em 2010, de acordo com o Boletim Focus. Na próxima semana acontece a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), quando deve ter início o arrocho nos juros. O consenso entre a maioria dos analistas é que o aperto começará com 0,5 ponto percentual, mas há pressão para o Banco Central forçar a mão e elevar em 0,75 ou mesmo em um ponto percentual.

Para alguns economistas, o incremento na expectativa para a taxa básica de juros, nesta semana, foi apenas o primeiro degrau de uma escalada nas previsões do Focus. ;Este aumento de 0,25 ponto percentual na projeção ainda é pouco dada a estimativa de inflação para estse ano;, afirmou a economista Tatiana Pinheiro, do banco Santander. ;Houve um aumento de 0,79 ponto percentual nas projeções de inflação desde janeiro e nada nas da Selic;, justificou.

Também na avaliação da economista-chefe da Link Investimento, Marianna Costa, o BC foi lento e o ajuste na previsão da Selic tímido frente ao mercado doméstico aquecido e às pressões inflacionárias deste início de ano. ;O consenso é que deveria ter começado o ajuste monetário no último encontro do Copom;, afirma Mariana.

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