Agência France-Presse
postado em 23/04/2010 16:11
Asfixiada por uma dívida cujo custo não para de subir, a Grécia pediu nesta sexta-feira à União Europeia e ao Fundo Monetário Internacional (FMI) que ativem seu plano de ajuda ao páis, mesmo que a Alemanha, que será o principal contribuinte, continue impondo condições.O primeiro-ministro grego, Giorgios Papandreu, qualificou a decisão de "necessidade nacional".
"Nossos sócios farão o necessário para (...) enviar aos mercados a mensagem de que a União Europeia não brinca e está protegendo o euro", declarou Papandreou na ilha de Kastelorizo, ao anunciar o pedido de ativação do plano.
No entanto, a Alemanha, reticente a esse plano de ajuda desde o início, divulgou rapidamente suas condições.
A chanceler alemã, Angela Merkel, disse que o mecanismo de ajuda poderá ser ativado somente se "a estabilidade do euro em seu conjunto" for ameaçada, e se Atenas apresentar planos de redução de gastos "confiáveis" nos próximos dias.
O plano de ajuda à Grécia, construído pelos 16 países da zona euro além do FMI, prevê a concessão de empréstimos de 45 bilhões de euros (US$ 60 bilhões) com juros de 5%.
A Alemanha será o principal contribuinte, com 8,4 bilhões de euros. O FMI deve aportar outros 15 bilhões de euros.
A Alemanha teme que a ajuda à Grécia anime outros países altamente endividados a deixar aumentar o buraco de suas contas públicas.
Dessa forma, o presidente do banco central alemão, Axel Weber, advertiu contra o "risco de contágio" da crise da dívida grega aos países da zona do euro que "continuam tendo um déficit público muito elevado", como é o caso de Portugal, Irlanda ou Espanha.
Por outro lado, outros membros da zona do euro, como França e Espanha, comemoraram a iniciativa grega. A Casa Branca disse também que apoia o pedido de ajuda de Atenas.
A ministra espanhola de Economia, Elena Salgado, cujo país contribuirá com 3,67 bilhões de euros, descartou o risco de contágio.
Ela afirmou que a Grécia é "um caso especial" e que a dívida pública da Espanha, em 53,2% do PIB em 2009, está "mais de 20 pontos abaixo da média europeia", que foi de 73,6% no ano passado.
O diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, prometeu responder rapidamente ao pedido de ajuda financeira da Grécia. Neste sábado, deverá se reunir com o ministro das Finanças grego, Giorgos Papaconstantinou, ao mesmo tempo que uma missão conjunta de FMI e UE negocia desde a quarta-feira em Atenas as condições do plano.
A Comissão Europeia, por sua vez, assegurou também que "tudo será feito rapidamente e de forma eficaz".
Mais tarde, em um comunicado comum, a Comissão disse junto ao Banco Central Europeu (BCE) ter "tomado nota" do pedido de Atenas, e indicou que a decisão será tomada de acordo com o programa de ajuste fiscal atualmente negociado com as autoridades gregas.
O ministro das Finanças grego disse que a ajuda poderá ocorrer em alguns dias e descartou a possibilidade de seu país ter problemas de financiamento no curto prazo.
A Grécia, cuja dívida pública chega a 115,1% do PIB, deve reembolsar 30 bilhões de euros até o final do ano a seus credores.
A pressão aumentou fortemente na quinta, depois que o escritório europeu de estatísticas, o Eurostat, revisou o déficit orçamentário grego de 2009 em alta, cifrando-o em 13,6% do PIB. A moeda comum, o euro, se viu também castigada e caiu a seu nível mais baixo em um ano.
Segundo o procedimento previsto, a Comissão e o Banco Central Europeu (BCE), a quem o ministro das Finanças grego pediu oficialmente a ativação do mecanismo, avaliarão se o pedido está justificado.
Em um segundo momento, os 16 ministros das Finanças dos países da zona do euro devem dar seu consentimento, o que, a princípio, será um mero trâmite, já que acertaram o mecanismo em 11 de abril passado. Alguns países terão ainda de aprovar a concessão de ajuda em seus parlamentos nacionais, entre eles a Alemanha.