Jornal Correio Braziliense

Economia

Grécia e Portugal arrasam mercados

Rebaixamento de títulos gregos e risco de moratória contaminam bolsas em todo o mundo. A Bovespa sente o baque e recua 3,43%

A notícia de que os papéis da dívida da Grécia passaram para o nível especulativo abalou os mercados mundiais ontem. Diante do aumento do risco de uma moratória grega, cresceu também a preocupação com a possibilidade de que outros países da Zona do Euro sejam contaminados, entre eles a Espanha, uma das mais importantes economias do mundo. O rebaixamento também atingiu Portugal, que, por enquanto, ainda mantém sua dívida com uma nota elevada.

A crise grega contaminou praticamente todos os mercados: as bolsas de valores derreteram, os negócios com o petróleo foram afetados e o dólar teve uma forte valorização (veja quadro). A expectativa agora é sobre como a crise será encarada pelas principais autoridades econômicas da Europa e do Fundo Monetário Internacional (FMI). O ministro da Economia da Alemanha, Rainer Brüderle, pregou cautela e disse que as decisões serão tomadas por consenso pelos governos, pelas autoridades europeias e pelo Fundo. A autoridade alemã acompanhou o terremoto financeiro de Brasília, onde participou de uma reunião com o ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge (Leia mais abaixo).

O Brasil, que há apenas dois anos entrou no clube dos países com baixo risco de inadimplência, viu a crise atingir os negócios na bolsa e a cotação da moeda americana. O Ibovespa, principal índice negociado na BM, caiu ontem 3,43%, a 66.511 pontos, refletindo o nervosismo no cenário internacional.

Incêndio
A decisão da agência Standard & Poors reduziu dois graus do rating da dívida soberana da Grécia para ;BB ; e de Portugal para ;A-;. Com o rebaixamento, alguns investidores não poderão mais comprar títulos da dívida grega. Ao mesmo tempo, a Grécia terá dificuldade de acesso aos recursos dos bancos centrais europeus. A decisão jogou muita gasolina em um cenário já incendiado pelas suspeitas de fraudes do banco norte-americano Goldman Sachs e pela reforma do sistema financeiro norte-americano. ;O mercado estava muito esticado, a tendência era cair mesmo. Houve boatos de que as agências pretendiam rebaixar os países emergentes;, disse o economista Demetrius Borel Lucindo, da Corretora Prosper.

[SAIBAMAIS]Já o mercado de câmbio foi afetado pelo movimento de fuga de investidores da Bolsa de Valores. O dólar fechou em alta de 1,15%, a R$ 1,765 para venda. ;A alta foi acima do normal;, relatou o analista Gilberto Coelho, da XP investimentos.

Divergências
O rebaixamento da Grécia veio em um dia delicado, quando o Copom começou a decidir qual será o aumento inicial de uma prometida escalada dos juros básicos, tema que vem alimentando as divergências entre as duas principais autoridades da economia, o presidente do BC, Henrique Meirelles, e o ministro da Fazenda, Guido Mantega. ;No cenário interno, Meirelles já anunciou que vai dar uma paulada. O mercado ficou assustado;, afirmou Gilberto Coelho.

O ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, não comentou a crise financeira. Limitou-se a falar sobre a retomada das negociações entre o Mercosul e a União Europeia, interrompidas desde 2004. Ele disse que o Mercosul abriu concessões na área industrial e espera que os países europeus façam o mesmo na área agrícola. ;Com esse cenário, é difícil termos um acordo neste ano;, afirmou Jorge.