Depois de a Grécia ter os seus títulos classificados como "lixo" e de Portugal ter a sua capacidade financeira questionada, ontem foi a vez de a Espanha provocar uma onda de prejuízos nas principais bolsas de valores do mundo. Os investidores não resistiram à desconfiança em relação à economia espanhola, sobretudo por causa das dívidas do governo, que chegam a quase 70% do Produto Interno Bruto (PIB), a soma de todas as riquezas produzidas pelo país em um ano.
Quinto país mais rico da Europa, a Espanha teve a nota da sua dívida de longo prazo rebaixada de ;AA ; para ;AA; pela agência de classificação de risco Standard and Poor;s (S) e ainda foi colocada em perspectiva negativa. Ou seja, pode sofrer novas baixas. Para a S, a economia espanhola registrará crescimento menor do que o previsto. ;Estimamos que o avanço do PIB será, em média, de 0,7% por ano entre 2010 e 2016, contra previsão anterior superior de 1%;, justificou a agência.
Analistas ouvidos pelo Correio ainda não veem riscos de uma crise do euro, a moeda comum dos 16 países que formam a Zona do Euro, pois acreditam que a questão grega ainda pode ser resolvida de forma ordenada por meio de um socorro dos países mais ricos da região e do Fundo Monetário Internacional (FMI). Ontem, o euro chegou a atingir o menor patamar em um ano ante o dólar nos mercados asiáticos. Mas, no fim do dia, recuperou-se, fechando a 1,3190 por dólar. Para Eduardo Antero, da Um Investimento, a tendência é de os investidores venderem euros. "Mas esse quadro pode se reverter quando sair o socorro à Grécia", assinalou.
Também otimista com uma solução para a crise grega, Luís Otávio de Souza Leal, economista-chefe do Banco ABC Brasil, associou os custos do ajuste à demora das autoridades europeias e do FMI em agir. "Faltam sinais mais claros. As promessas de ajuda para a Grécia passaram de US$ 80 bilhões para US$ 120 bilhões. Mas nada foi liberado ainda", disse. "Imagine se a UE tiver de pagar as contas da Espanha e de Portugal. A gripe forte se transformará em uma pneumonia que pode matar", alertou.
Para se contrapor ao rebaixamento anunciado pela S, a vice-presidente da Espanha, María Teresa Fernández de la Vega, divulgou uma mensagem de ;confiança e tranquilidade;. Ela prometeu crescimento econômico de 3% até 2013 graças a um ;plano sério; de consolidação fiscal e de redução das dívidas do governo. ;Estamos adotando todas as medidas necessárias para cumprir nossos compromissos;, afirmou. O rombo nas contas públicas da Espanha equivale a 11,2% do PIB.
Brasil no azul
No Brasil, apesar de todo o nervosismo, a Bolsa de Valores de São Paulo (BM) conseguiu reagir no encerramento do pregão. O Ibovespa, principal índice de lucratividade do mercado, cravou alta de 0,22%, nos 66.655 pontos, acompanhando o Dow Jones, da Bolsa de Nova York, com valorização de 0,48%. O resultado foi impulsionado pela decisão do Federal Reserve (Fed), o banco central norte-americano, de não alterar a taxa de juros .