Economia

Ajuda à Grécia acalmou o mercado, mas não garante superação dos problemas

Vera Batista, Vânia Cristino/ Especial Estado de Minas
postado em 04/05/2010 08:08

A ajuda multibilionária à Grécia, acertada entre os países da Zona do Euro e o Fundo Monetário Internacional (FMI) no domingo (2/3), acalmou um pouco os mercados, mas não foi suficiente para pôr uma pedra sobre os riscos da grave crise fiscal do país. A grande preocupação é saber se o governo grego vai, de fato, conseguir implementar e cumprir o rigoroso programa de austeridade, necessário para receber os 110 bilhões de euros do pacote de socorro financeiro, feito na medida certa para cobrir os pagamentos aos credores externos nos próximos três anos.

Como Portugal e Espanha, que também têm deficit fiscal e dívida elevados em relação ao Produto Interno bruto (PIB), a Grécia não vai crescer nos próximos anos. Ao contrário. A economia grega andará para trás neste ano e em 2011. O programa de ajuste cortará aposentadorias e salários e aumentará impostos sobre os principais produtos, o que deve provocar uma alta em seus preços. Com a população perdendo poder de compra, as importações vão cair e haverá sobra de produtos para exportação.

A receita pode ajudar na volta do equilíbrio, mas embute uma grande incerteza: por quanto tempo o governo conseguirá que a população concorde em fazer sacrifícios? ;Não há outra saída;, ponderou o economista Cristiano Souza, do Banco Santander. Segundo ele, a Grécia sempre viveu fora dos critérios da União Europeia e agora está pagando a conta. O país nunca cumpriu a exigência de que a dívida se mantivesse em 60% do PIB e, em apenas um ano, conseguiu que o deficit público ficasse em 3% do PIB.

Dever de casa


;A Grécia entrou na crise com situação fiscal bastante deteriorada. Chegar onde chegou era apenas uma questão de tempo;, salientou Souza. Para o economista, ninguém duvida que os parlamentos europeus vão aprovar o pacote. O problema ressurgirá no fim do ano, quando a Grécia precisa provar que fez o dever de casa.

A expectativa dos países europeus é aprovar o pacote até o final da semana. No próximo dia 19, a Grécia precisará de 8,5 bilhões de euros para pagar a parcela a vencer da dívida externa. A ministra de Finanças da França, Christine Lagarde, pediu pressa ao parlamento francês para aprovar mudanças no orçamento que permitirão ao país emprestar 16,8 bilhões de euros à Grécia nos próximos três anos.

O governo alemão vai contribuir com 22,4 bilhões de euros. No total, a Europa entrará com 80 bilhões de euros e o FMI, com os outros 30 bilhões. O que aconteceu na Grécia é um sinal de alerta para o mundo, segundo Maurício Khedi Molan, também do Santander. ;É uma prova de que todos os países terão que fazer programas de ajuste para evitar o contágio da Zona do Euro;, disse.

Ação contra o Goldman


Um grupo de acionistas entrou ontem na Justiça dos Estados Unidos contra o banco Goldman Sachs, acusado de fraudes que resultaram em prejuízos de mais de US$ 1 bilhão a investidores. A ação foi apresentada pelos escritórios de advocacia Zamansky e Associados e Lovell Stewart Halebian Jacobson, usando como base as denúncias da Securities and Exchange Commission (SEC), órgão que regula e fiscaliza o mercado americano.

"A Grécia entrou na crise com situação fiscal bastante deteriorada. Chegar onde chegou era apenas uma questão de tempo;
Cristiano Souza, economista do Banco Santander

Bolsas têm leve alta

Depois do nervosismo da última semana, as principais bolsas de valores europeias fecharam em alta, animadas pela ajuda financeira de 110 bilhões de euros à Grécia. No Brasil, a Bolsa de Valores de São Paulo (BM) viveu situação inversa. O Ibovespa, principal índice de lucratividade do pregão paulista, começou o mês com queda de 0,61%, fechando a 67.119 pontos, devido principalmente à queda das ações da Petrobras e da Vale.

;Os investimentos de risco foram evitados. A procura por dólar cresceu. Mas o real se manteve valorizado;, explicou o economista-chefe do Banco Espírito Santo, Jankiel Santos. A moeda norte-americana encerrou o dia de negócios em R$ 1,730, com queda de 0,40%, apesar de o Banco Central ter feito duas intervenções no mercado para segurar a cotação. Foi o menor valor desde a primeira semana do ano.

Os grandes mercados da Zona do Euro encerraram em ligeira valorização: Paris (0,30%), Frankfurt (0,51%) e Milão (0,31%). As bolsas em Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha permaneceram perto da estabilidade. Houve queda de 0,88% em Atenas e de 0,66% em Madri. Lisboa registrou leve alta de 0,02%. Em Nova York, o índice Dow Jones subiu 0,61% e o Nasdaq, 0,73%. Não houve negócios em Londres, Tóquio e Xangai por causa de feriados. (VC e VB)

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