Economia

País incrementa importações para conter a alta de preços e evitar desabastecimento

postado em 06/05/2010 07:00
A indústria retomou o ritmo pré-crise, bateu recorde de faturamento em março e caminha para ultrapassar os picos históricos de utilização da capacidade instalada ; hoje em 82,6%, o maior patamar desde outubro de 2008. Mas, a despeito de todo o céu de brigadeiro que enche o bolso dos industriais, na ponta do consumo esses números positivos podem se refletir em preços altos. Isso caso a produção chegue ao limite e os investimentos não ocorram rápido o suficiente para atender a procura. Até mesmo as importações recordes do último mês, que vêm abastecendo o mercado doméstico e aliviando o custo de vida pelo lado da oferta, correm o risco de serem vencidas pelo consumo ao esbarrarem no obstáculo dos portos brasileiros, que têm sérias limitações para receber tamanho volume de produtos.

De acordo com dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a capacidade produtiva do país está apenas 1,2 ponto percentual abaixo do recorde histórico ; quando em fevereiro de 2008 o setor usava 83,8% da sua força total. Mantendo-se nesse ritmo de expansão, analistas projetam que o setor chegará ao limite este ano. ;Batemos no teto do crescimento e o resultado disso é a inflação. Já estamos importando cimento e isso é um exemplo claro da importância da política monetária. É preciso frear o consumo;, afirma o economista-chefe do banco ABC Brasil, Luis Otávio de Souza Leal.

Com as fábricas chegando ao pico produtivo, o país está importando cada vez mais bens de consumo para atender à demanda sem grandes elevações de preços. No primeiro quadrimestre do ano, os produtos vindos do exterior foram recorde ao somar US$ 52,215 bilhões. Todo esse movimento também se reflete nas portas de entrada do Brasil. Segundo projeções da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), o primeiro trimestre do ano registrou a maior importação da história do Porto de Santos, com 6,85 milhões de toneladas. ;Nós ainda temos fôlego para crescer, só que ele não é duradouro;, pondera o diretor de planejamento e controle de Santos, Renato Ferreira Barco.

Nas estimativas dele, este ano o local ficará próximo da ;capacidade física teórica; de 3 milhões de TEUs (unidade que representa um contêiner de cerca de 6 metros ou de 20 pés). A demanda projetada para 2010 é de 2,8 milhões. Mas se o ritmo dos importados se manter, o número pode ser superado. ;Para atender toda essa movimentação temos várias obras em andamento. Até 2014, teremos capacidade para receber 8 milhões de TEUs;, afirma Barco.

Investimentos esses que, para Adriano Gomes, professor de finanças da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), ainda demoram para dar resultado. ;A resposta disso não é imediata e o consumo não espera;, diz o professor. Para o gerente executivo da CNI, Flávio Castelo Branco, porém, não é preciso preocupação. Os investimentos da indústria podem acompanhar a demanda. ;Na pesquisa de indústria do IBGE, os bens de capital apresentaram as maiores altas. Os investimentos estão crescendo a taxas superiores ao Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas do país) e não devem ocorrer mais pressões inflacionárias;, afirma.

O economista-chefe do ABC Brasil discorda. ;Até essas aplicações criarem capacidade de produção leva tempo. No caso de aumentar a planta da fábrica demora ainda mais. Em função disso, é preciso importar mais e, além da barreira de infraestrutura, não temos que comprar de fora serviços e mão de obra. É preciso frear a atividade;, argumenta Luis Otávio de Souza Leal.

Peso maior para os pobres

Com os ganhos salariais dos últimos anos e as facilidades de crédito, a demanda no mercado doméstico aumentou e, principalmente nos alimentos, tem se notado pressões inflacionárias ; o que prejudica mais intensamente as famílias de recursos escassos. De acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Classe 1 (IPC-C1), que mede o custo de vida para famílias com rendimentos de até 2,5 salários mínimos, a inflação de abril ficou em 1,28%, elevando o acumulado do ano para 4,99%, taxa que ultrapassa o centro da meta definida pelo Banco Central. Reajustes nos medicamentos também influenciaram o índice.

Áudio com Flávio Castelo Branco, gerente-executivo da Confederação Nacional da Indústria (CNI)

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