Vânia Cristino/ Especial Estado de Minas
postado em 07/05/2010 07:46
O aperto monetário, com elevação de juros para domar a inflação, vai continuar e o ritmo já está dado: pelo menos mais 0,75 ponto percentual na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), marcada para 8 e 9 de junho. Segundo economistas ouvidos pelo Correio, isso ficou claro na ata da reunião da semana passada, em que os membros do Copom decidiram, por unanimidade, ;agir de forma incisiva; para combater a escalada de preços na economia. O resultado do encontro foi a alta da taxa básica (Selic) de 8,75% ao ano para 9,50%.;A despeito da reversão de parcela substancial dos estímulos introduzidos durante a recente crise financeira internacional, desde a última reunião, aumentaram os riscos à concretização de um cenário inflacionário benigno, no qual a inflação seguiria consistente com a trajetória das metas(1). À luz desse quadro, prevaleceu o entendimento entre os membros do comitê de que competiria à política monetária agir de forma incisiva para evitar que a maior incerteza detectada em horizontes mais curtos se propague para horizontes mais longos;, afirmou o Copom na ata.
Para o economista-chefe da Prosper Corretora, Eduardo Velho, as explicações do BC para a subida dos juros vieram dentro do esperado pelo mercado. ;A ata não veio tão dura que sinalizasse, para a frente, o aumento de um ponto;, observou. O analista avaliou que o Copom deu sinais de que o ritmo de ajuste vai ser o mesmo. Por isso, Velho projetou mais dois aumentos de 0,75 ponto, com a aceleração caindo para 0,50 ponto na reunião de agosto.
No principal trecho da ata, o BC detalhou as projeções de inflação. No cenário de referência, que leva em conta a Selic a 8,75% e o câmbio a R$ 1,75, a previsão se mantém ;sensivelmente; acima do valor central de 4,50% para a meta. O panorama montado pelo mercado considera as trajetórias de câmbio e de juros de analistas. Nele, a estimativa também se elevou e fica acima do centro do objetivo. A intenção do presidente do BC, Henrique Meirelles, é trazer o indicador de volta para a meta.
Situação fiscal
Ainda assim, para a economista-chefe do ING Bank, Zeina Latif, o Copom não cogita aumentar a taxa acima de 0,75 ponto. ;O Banco Central acredita que o ritmo está adequado;, avaliou. Zeina disse que o BC já levou em consideração os problemas fiscais na Europa, mas aproveitou a ata para mandar um recado. ;O tamanho do aperto monetário vai depender de quanto o governo vai retirar dos estímulos fiscais e também parafiscais;, ponderou.
A piora da situação fiscal vai ser monitorada atentamente pelo BC. As contas públicas podem se deteriorar, opinou Eduardo Velho. Um dos motivos é a aprovação, no Senado, de uma brecha na Lei de Responsabilidade Fiscal, que permite aos estados ultrapassar seus limites de endividamento. Os deputados aprovaram o fim do fator previdenciário e um reajuste a mais para os aposentados.
O economista Maurício Molan, do banco Santander Brasil, considerou o ;tom; da ata bastante conservador. Ele disse que ficou claro o desconforto do BC com o quadro de piora da inflação, mas ponderou que o Copom não se deixou atrelar, antecipadamente, a decisões futuras. Por isso, ele continua apostando num ciclo de aperto monetário de 3,25 pontos, sendo o próximo aumento de 0,75.
Sistema de metas
O objetivo do Comitê de Política Monetária (Copom) ao subir os juros é segurar a inflação. Ele procura fazer com que o Índice de Preços ao Consumidor Ampliado (IPCA), que serve de referência para o sistema de metas, fique próximo do percentual pré-estabelecido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Para este ano e o próximo, o centro da meta é de 4,5%, com um intervalo de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Ou seja, o objetivo foi fixado entre 2,5% e 6,5%. (VC)
O número
12 %
Estimativa do Santander Brasil para a Selic no fim do ano
As razões para o aperto
Entenda os motivos que levaram o BC a elevar a taxa básica da economia
Aumento das expectativas de inflação
Os índices de preços estão em alta tanto no cenário de referência, utilizado pelo BC, quanto no cenário de mercado, que é apurado com os analistas. Há quem fale em taxa de até 6% neste ano, quase o teto da meta definido pelo governo.
Indícios de escassez de mão de obra
A falta de trabalhadores qualificados em alguns setores, como, por exemplo, a construção civil, levará a pressão por aumento de salário. Esse custo maior para as empresas será repassado aos consumidores, alimentando mais a inflação.
Elevação dos custos dos insumos
Níquel, minério de ferro e petróleo estão em alta no mercado internacional, diante da retomada do consumo. O encarecimento desses produtos bate em todas as cadeias produtivas. O aumento do ferro contamina o aço que bate em bens de consumo.
Estímulos fiscais e de crédito
O Copom está convencido de que os principais riscos para a inflação, no momento, são os gastos do governo e a maior oferta de crédito pelos bancos públicos. Os empréstimos ajudaram a alavancar o consumo das famílias.
Indústrias operando quase no limite
Para o BC, o setor industrial está próximo de atingir o ponto de capacidade máxima, o que significa ficar sem espaço para aumentar a oferta de mercadorias para atender a demanda dos consumidores. A escassez de produtos sempre resulta em alta de preços.
Agravamento da crise fiscal nos países europeus
Sem citar a Grécia, que se tornou o estopim de uma nova crise mundial, o Copom demonstrou grande preocupação com o cenário internacional, que vem se deteriorando rapidamente, aumentando as incertezas pelo planeta.
Poupança positiva
A caderneta de poupança registrou, em abril, captação líquida (diferença entre depósitos e saques) positiva de R$ 1,696 bilhão, o maior volume para o mês desde 2007. O saldo foi resultado de depósitos de R$ 88,722 bilhões e saques de R$ 87,026 bilhões. Em março, essa diferença havia ficado em R$ 538,1 milhões. Em abril do ano passado, a poupança tinha perdido recursos no valor de R$ 941,5 milhões. Os dados foram divulgados ontem pelo Banco Central (BC).
Com a captação de abril, a poupança já registra, no ano, ingresso líquido de R$ 5,94 bilhões. Pelas estatísticas do BC, esse é o melhor resultado para o quadrimestre desde 1995. Isso pode ser um indicativo de que a população, com ganho de renda, está conseguindo comprar e poupar uma parte dos recursos. Antes desse ano, o melhor período de quatro meses tinha sido verificado em 2007, quando o saldo líquido foi positivo em R$ 4,99 bilhões.
No fim de abril, o volume total depositado na mais tradicional modalidade de investimentos do país somou R$ 331,17 bilhões, contra R$ 327,88 bilhões no fechamento de março. No mês, o rendimento creditado às contas alcançou R$ 1,593 bilhão.
Rendimento
A poupança tem atraído investidores mesmo com baixo rendimento. Só a Caixa Econômica Federal apresentou, no mês, captação líquida positiva de R$ 996,3 milhões. A Caixa detém cerca de 34% de todo o investimento nessa modalidade no país. Com o aumento dos juros, os fundos de renda fixa, por exemplo, passam a render mais e devem atrair novas aplicações.
Mesmo assim, a Caixa garante que a caderneta continua sendo uma excelente opção, principalmente se comparada a aplicações de curto prazo. (VC)