Economia

Frentistas entram em guerra

Dois sindicatos disputam o direito de representar a categoria e atrasam dissídio

postado em 07/05/2010 08:23
Os trabalhadores de postos de combustível do Distrito Federal estão perdidos em meio a uma disputa(1) de dois sindicatos que querem representá-los. Os sindicalistas deixaram de defender os direitos dos frentistas para discutir legitimidade e, principalmente, brigar pelas contribuições de 4 mil empregados. A peleja agora será decidida pelo Tribunal Regional do Trabalho (TRT) e é a repetição dos confrontos de partidos políticos dentro das entidades de classe em todo território nacional e das divergências, por exemplo, entre a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a Força Sindical. No caso de Brasília, o dissídio coletivo, que deveria ter ocorrido em março, pode se estender até o fim do ano e, sem reajuste salarial, a insatisfação entre os trabalhadores é crescente.

Para Francisco Peres (de camisa clara), sindicatos não valem nada e só querem o dinheiro dos trabalhadoresAbertamente, ninguém fala em paralisação, mas de forma bem discreta os frentistas tentam se organizar para barganhar com os patrões e fazer frente aos dois sindicatos. ;É o nosso direito. Temos de batalhar por isso;, afirmou um empregado que não quis se identificar. Mas, com a disputa na Justiça, a categoria se enfraqueceu e a maioria dos trabalhadores assumiu postura conformista. ;Nós estamos perdidos nessa confusão. Todo ano é assim e o nosso reajuste só sai em dezembro. A gente nem se preocupa mais, só espera para ver o que acontece;, disse a chefe de pista Rosana Silveira, 29 anos. O frentista Francisco Peres, 56, é mais incisivo. ;Esse negócio de sindicato não vale nada. Eu mesmo que não vou me filiar. Eles só querem o nosso dinheiro;, reclamou.

O Sindicato dos Trabalhadores no Comércio de Minérios e Derivados de Petróleo no Distrito Federal, que representa a categoria há 27 anos, pede no dissídio coletivo deste ano apenas as perdas com a inflação do último ano mais 3,9% de ganho real. Já os sindicalistas que garantem ser os novos representantes dos trabalhadores, o Sindicato dos Empregados em Postos de Serviços de Combustíveis e Derivados de Petróleo do Distrito Federal, querem reajuste acima da inflação, mais cesta básica e câmeras de vigilância em todos os postos da cidade. ;Esse sindicato antigo ainda quer representar a categoria só para não perder a contribuição;, afirmou o advogado Hélio Stefane Gherardi, que representa a entidade criada em 2007.

Já Raimundo Miquilino da Cunha, presidente do grupo mais antigo, discorda. ;A categoria está no desespero. Isso que esse pessoal está fazendo é um modelo novo de fazer sindicalismo e que eu não concordo. Eles só querem o dinheiro do sindicato;, acusou. Para Pedro Foltran, desembargador do Tribunal Regional do Trabalho de Brasília (TRT-10), esse tipo de disputa se tornou comum em todo o país depois da Constituição de 1988, que permitiu o desmembramento dessas entidades. ;Normalmente, existem interesses econômicos e políticos. Principalmente relacionados à arrecadação de taxas. O problema é que o Ministério do Trabalho não faz muitos questionamentos sobre isso. Ele autoriza a criação (dos sindicatos) e a Justiça tem de decidir depois a representatividade;, explicou.

1 - Entenda o caso
O Sindicato dos Trabalhadores no Comércio de Minérios e Derivados de Petróleo no Distrito Federal existe há 27 anos. Em 2007, foi desmembrado, ocasião em que surgiu uma nova entidade: o Sindicato dos Empregados em Postos de Serviços de Combustíveis e Derivados de Petróleo do Distrito Federal. O sindicato mais antigo teria perdido o direito de representar os frentistas, ficando somente com os trabalhadores da área de mineração, categoria que é pequena em Brasília. Cabe agora à Justiça do Trabalho definir qual dos dois terá o direito de falar pela categoria e recolher o imposto sindical.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação