postado em 08/05/2010 08:28
Não foi à toa que o Banco Central forçou a mão e elevou a taxa básica de juros (Selic) de 8,75% ao ano para 9,50% para conter a alta de preços. Enquanto parte importante do mercado esperava desaceleração no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o que se viu, no mês passado, foi exatamente o contrário. Nos cálculos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a inflação atingiu 0,57%, a maior taxa para meses de abril desde 2005. Com esse resultado, o indicador acumula alta de 2,65% no primeiro quadrimestre, bem acima do 1,72% registrado em igual período de 2009.
Diante desse cenário, a deterioração das expectativas de inflação é visível. Já há analistas, como Carlos Thadeu Filho, gestor de Renda Fixa da Personale Investimentos, projetando IPCA de 6,5% neste ano, o teto da meta perseguida pelo BC. O Bradesco fala em taxa de 6%. "Vejo o resultado de abril com preocupação, porque mostra uma inflação de demanda (excesso de consumo), difícil de ser combatida", afirmou. Além de antever o quadro ruim para este ano, Thadeu projeta 5,5% em 2011, acima do centro da meta, de 4,5%. Especificamente para maio, ele estima 0,55%.
A inflação de abril foi resultado da disparada dos preços dos alimentos, dos medicamentos mais caros, da nova coleção outono-inverno e da mercadorias que vinham se beneficiando da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), como os carros zero, que ficaram mais caros. Segundo Irene Machado, gerente de pesquisa do IBGE, não há como se descuidar da inflação, pois, no mês passado, o grupo alimentação continuou subindo por influência das chuvas, que atingiram as lavouras e comprometeram a oferta de produtos, sobretudo de itens importantes no prato dos brasileiros.
Nos quatro primeiros meses do ano, as maiores altas foram as do tomate ( 57,62), da batata (45,38%), do feijão carioca ( 57%), do leite ( 21,59), do açúcar (26,19%) e da farinha de mandioca ( 19,79%). "Os alimentos responderam por 73% da inflação de 2,65% registrada nesse período", reforçou Irene.
A ala menos pessimista dos analistas acredita que, a partir de maio, o ritmo de remarcação pode diminuir por influência do fim do período das chuvas e do início da colheita da safra agrícola. O economista Fábio Romão, da consultoria LCA, estima que o IPCA ficará em 0,40%.
Apesar da crise
"Ainda neste mês teremos uma inflação elevada, porém, mais fraca que em abril, indicando menor pressão dos alimentos", comentou Romão. Ainda assim, ele aposta na continuidade da alta dos juros, sendo mais 0,75 ponto percentual em junho e dois aumentos de 0,5 ponto cada nas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom).
Para o economista-chefe da Máxima Asset Management, Elson Teles, a alta de 0,57% é resultado de uma pressão residual em abril do dos alimentos. Para este mês, ele projeta variação de 0,45% e, para o ano, 5,5%. Na sua visão, a crise grega ainda está circunscrita à Europa e não apresenta riscos de contágio à economia brasileira, a ponto de levar o BC a suspender a política de elevação dos juros no combate à inflação.
Classe média
Calculado mensalmente pelo IBGE, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo é o indicador oficial de inflação do país. O índice mede o custo de vida das famílias com renda mensal de até 40 salários mínimos São nove os grupos de preços acompanhados: alimentação e bebidas, habitação, artigos para residência, vestuário, transporte, saúde e cuidados pessoais, despesas pessoais, educação, e comunicação.
Poder de barganha
A inflação mais alta e a escassez de mão de obra vão aumentar o poder de negociação dos trabalhadores nos acordos salariais. Em abril, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que serve de parâmetro para a discussão entre empresas e empregados, encerrou abril em 0,73%, acumulando 3,05% nos quatro primeiros meses do ano, acima dos 1,71% contabilizado em igual período de 2009.
"A economia aquecida e a falta de mão de obra qualificada favorecem a recomposição integral da inflação", disse Elson Teles, da Máxima Asset Management. Por outro lado, Fábio Romão, Consultoria LCA, alertou que, dificilmente, os trabalhadores deverão conseguir ganho real (acima da inflação). "Em 2009, os trabalhadores tiveram aumento real médio de 2,7%. Neste ano, acho que isso não se repetirá", previu.