Economia

Presidente da subsidiária da General Electric pretende investir US$ 268 milhões do Brasil

postado em 09/05/2010 08:42
A subsidiária brasileira da General Electric, há 90 anos em atividade no país, prepara o terreno para se tornar uma das principais fornecedoras de tecnologia para a exploração das reservas de petróleo do pré-sal, localizadas a 7 mil metros de profundidade. Pouco atingida pela crise mundial e dona de negócios nas áreas de óleo, gás, aviação, locomotivas, equipamentos de saúde, água e biocombustível, a GE brasileira conquistou espaço e prestígio na matriz e atraiu para o país o quinto centro mundial de pesquisa da companhia, que se somará aos já existentes nos Estados Unidos, na Alemanha, na China e na Índia. O investimento, avaliado em US$ 150 milhões, foi disputado por filiais de outros 100 países e ajudará a pôr o país na posição de importante difusor mundial de tecnologia em infraestrutura. Em meio à turbulência internacional, a subsidiária anunciou investimentos de mais US$ 118 milhões em novas fábricas e linhas de montagem. Em entrevista ao Correio, o presidente da companhia, João Geraldo Ferreira, um executivo de 44 anos, traça um futuro promissor para o país, avalia que a eleição presidencial não gerará instabilidade na bolsa e no mercado de câmbio e afirma que é chegada a hora de o Brasil ;abandonar o discurso de derrotado e adotar uma postura de vencedor;. Otimista, ele projeta investir um montante de US$ 268 milhões no país e acredita que a economia nacional vai crescer acima de 5% ao ano. Mas faz um alerta: ;O problema da educação é crônico e vai gerar, de forma direta, escassez de mão de obra;. Leia abaixo os principais trechos da entrevista.

Brasil deve abandonar o discurso da derrota

Estabilidade
O Brasil mudou, e de forma consistente. Vemos isso nos indicadores macroeconômicos, no nível de investimento estrangeiro no país, na baixa taxa de desemprego, no tamanho das reservas internacionais, que são superiores às da época do começo da crise mundial. Tudo isso prova que o modelo macroeconômico, em que o BC é autônomo e o câmbio é flutuante, é bem-sucedido.

Eleições
Durante a crise, o BC operou com total autonomia para gerar liquidez e crédito aos mercados e o BNDES viabilizou financiamento para pequenas, médias e até mesmo para grandes organizações. Os bons indicadores e a forma como o Brasil enfrentou a crise mostram que o país entrou em um nível de maturidade que transcende quem irá liderá-lo. O país está em um caminho que não será alterado. Sobre os candidatos, vejo que os dois mais bem posicionados (José Serra e Dilma Rousseff) possuem convergências e isso indica que não deverá haver mudança de rumo independentemente de quem se tornar presidente.

Dólar e bolsa
Não acredito que se repetirá neste ano, durante o processo eleitoral, o que ocorreu em 2002, quando o dólar, por exemplo, chegou a quase R$ 4,00. Se houver algum tipo de oscilação na bolsa ou no mercado de câmbio, será pequena. Não vejo mudança radical na economia que gere instabilidade.

Continuidade
O próximo presidente terá que dar continuidade ao crescimento do país em níveis maiores que os de hoje. Da forma como está, a economia cresce 5%. Agora, se o Brasil quiser projetar expansão de 7%, 8% e 9%,precisará solucionar gargalos na infraestrutura.

Crise
O Brasil não só saiu mais forte da crise como também ganhou maior visibilidade durante esse período de turbulência. A forma como o país enfrentou a instabilidade internacional demonstrou a sua força e, no fim, se essa instabilidade não tivesse ocorrido, essas habilidades não teriam vindo à tona. A GE está no país desde 1919 e enfrentou, aqui, economia com inflação e sem inflação em diferentes governos de diferentes partidos. E hoje vejo o país em um rumo que não será alterado. Não vislumbramos mudanças em meio ao processo eleitoral.

Educação
O gasto do Brasil hoje com educação, contando o setor público e o privado, é de 4,5% do Produto Interno Bruto (PIB). O problema não é quanto se investe em percentual do PIB, porque isso é compatível com o que se investe lá fora. O problema é a consistência, a eficácia e a eficiência da educação. Se o país não tiver bons critérios de avaliação dos professores, remuneração adequada para o magistério e vinculação da remuneração com metas de desempenho, não chegará a lugar nenhum. Há crianças que passaram pela alfabetização e não sabem ler e escrever o nome. O problema da educação no Brasil é crônico e vai gerar, de forma direta, escassez de mão de obra.

Juros
O Banco Central utiliza a taxa de juros para controlar a inflação. Eu vejo a decisão de combater a inflação com os juros como positiva e a expectativa é que a taxa básica (Selic) chegue a 11,75% ao ano.

Investimento
A decisão do investimento está relacionada à forma como a empresa vê o Brasil. Para as empresas que veem o país a curto prazo, eventualmente pode haver retração. Mas essa nova fase de alta dos juros não afetará as organizações que veem o país a longo prazo, que acreditam na desobstrução dos gargalos, que a população continuará melhorando o padrão de vida e que isso gerará demanda.

Expansão
A queda do Brasil em 2009 mostra que temos algumas vulnerabilidades, que estão, sobretudo, na área da infraestrutura. O Brasil possui um grupo muito forte de empresários e vemos o BNDES fomentando essas empresas para que se fortaleçam ainda mais e passem a ter atuação internacional. Vejo o Brasil crescendo 5%, sim. Preocupo-me com as condições para a expansão de 7% e 8%.

Potência
Existe a previsão de o Brasil se tornar a quinta maior economia do mundo e de figurar como uma liderança ainda maior na América Latina e no mundo, porque aqui a velocidade do crescimento é maior que a dos países em desenvolvimento. Nós, da GE, vemos que o Brasil exerce uma liderança informal no mundo, diferentemente da liderança do G-7 (Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá), que é pela via do poderio bélico. A liderança que o Brasil exerce é de grande produtor e exportador de commodities, de grande e eminente líder na exploração de petróleo, de ser o terceiro maior produtor de aeronaves, o terceiro maior mercado de telefonia celular e um dos maiores mercados mundiais de cosméticos. Esse país, que é o primeiro em rankings de diferentes coisas e com o DNA que possui, tem tudo para ser um dos melhores. Precisamos abandonar o discurso de derrotados, acabar com a síndrome de primo pobre e adotar uma postura de vencedores.

Tecnologia
A plataforma tecnológica no país ainda é pequena e a mão de obra gerada hoje não atenderá a demanda. A quantidade de engenheiros que saem das universidades é aquém do necessário para movimentar o país e não será capaz de suprir essa demanda. É preciso andar rápido e não podemos, para voltar à questão da educação, afrouxar os critérios.

Lucro
Em 2008, a GE Brasil faturou US$ 3,4 bilhões, montante recorde e 45% maior que em 2007. Todas as nossas unidades de negócios cresceram em dois dígitos. Nossa expectativa é crescer o dobro do que o Brasil. Se, para o PIB, a projeção é de 5%, nossa meta é avançarmos 10% neste ano.

Negócios
A GE tem uma grande expectativa de longo prazo no Brasil. Nos últimos 18 meses, fizemos anúncios de três novas plantas: uma de água em Sorocaba (SP), uma nova linha de produção de locomotivas em Contagem (MG) e outra fábrica de equipamentos para saúde, também em Contagem, além da decisão de fabricarmos turbinas de avião em Petrópolis (RJ). Não são muitas organizações que fazem anúncios como esses que somam US$ 118 milhões.

Pesquisa
Investimento estratégico é o que mais de relevante uma organização pode fazer em um país porque transcende o elemento transacional. Em janeiro, anunciamos a estratégia de colocarmos um centro mundial de pesquisa no Brasil (só existente nos EUA, na Alemanha, na China e na Índia) e isso define, para mim, o interesse da organização no Brasil. Essa é uma decisão estratégica. O centro de pesquisa deve demandar entre US$ 70 milhões e US$ 150 milhões, gerar empregos qualificados, intercâmbio imediato de conhecimento e colocará o Brasil em uma posição mais relevante.

Petróleo
Estou otimista com os investimentos. Dentro do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), há um enfoque grande para a infraestrutura e somente a Petrobras nos fez a encomenda de 250 cabeças de poço (equipamentos usados na exploração de petróleo em águas profundas), que estão sendo entregues. E, agora, o que está acontecendo, é que a velocidade das descobertas de poços aumentou. Então, as encomendas da Petrobras estão muito mais rápidas que o previsto.

Pré-sal
Não se pode ter uma riqueza de petróleo como o Brasil possui sem que seja explorada. A 7 mil metros de profundidade, onde estão localizadas as reservas de petróleo do pré-sal, não sabemos o que pode acontecer e esse é o tipo de tecnologia que será desenvolvida em nosso centro de pesquisa. Nas próximas duas semanas, representantes da Petrobras irão aos Estados Unidos expor à GE quais são os gargalos da exploração do pré-sal. Nessa profundidade, há muito frio e precisamos saber como usar estabilizadores, como transportar óleo sem perda e como não congelar os fluidos. É muito dinheiro envolvido e qualquer teste malfeito tem um impacto como o do Golfo do México, onde estão sendo gastos US$ 6 milhões diariamente para solucionar o problema do vazamento.

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