Marcone Gonçalves
postado em 09/05/2010 08:44
Apontados como responsáveis por ampliar a turbulência financeira pela demora em socorrer a Grécia, os líderes políticos europeus pretendem dar hoje uma resposta contundente aos críticos, anunciando mecanismos de intervenção nos mercados. O objetivo das medidas, que já começam a ser aplicadas amanhã, é impedir que Espanha e Portugal também sejam engolidos pela desconfiança generalizada em relação à capacidade desses países de honrar seus compromissos externos.Ontem, a primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel, que sofreu duras críticas por resistir em ajudar financeiramente o governo grego, reconheceu que a Europa enfrenta uma situação grave e que a Grécia não é o único país a ser alvo de pressões do mercado financeiro. ;Se você olhar para os juros dos títulos na quinta e na sexta-feira, verá que estamos enfrentando uma situação ruim em vários países, não apenas em um país;, disse a chanceler alemã em Berlim, após reunião com o primeiro-ministro canadense, Stephen Harper. ;É uma situação séria.;
Um dia após o governo brasileiro anunciar que vai fazer parte do esforço do Fundo Monetário Internacional (FMI) para socorrer a Grécia, emprestando US$ 286 milhões, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva também lamentou a situação fiscal da Grécia. ;Eu acho que, na Europa, eles estão demorando muito. Faz algum tempo que a Grécia está na UTI. Você tem que dar logo o remédio. As pessoas não podem ficar regateando;, disse em São Bernardo do Campo (SP).
Garantia explícita
As autoridades econômicas europeias não detalharam o mecanismo de intervenção no mercado, mas técnicos adiantaram que ele poderá ser financiado por títulos emitidos com garantias dos Tesouros da Zona do Euro. O socorro vai se apoiar em cláusulas do tratado que criou a União Europeia. A legislação estabelece dois instrumentos para a adoção das medidas. Um deles autoriza o Conselho de Ministros a ajudar um país membro com dificuldades sérias. O outro permite que a Comissão Europeia capte recursos no mercado com garantia explícita dos Estados membros e aval implícito do Banco Central Europeu (BCE).
O primeiro-ministro da Finlândia, Matti Vanhanen, chamou a atenção para a possibilidade de a crise sair de controle. ;Se o efeito dominó começar, nenhuma economia está a salvo;, disse em entrevista a uma emissora de TV finlandesa. Na sexta-feira, os governantes europeus anunciaram apoio a adoção de medidas para acelerar cortes orçamentários e assegurar maior controle sobre as contas públicas nos países afetados pela crise fiscal. A Zona do Euro e o FMI só aceitaram emprestar 110 bilhões de euros (US$ 145 bilhões) ao governo grego depois da adoção de um pacote de duras medidas para reequilibrar as combalidas finanças do país.
APOIO DA MAIORIA
; Mais da metade dos gregos apoia o acordo de ajuda do Fundo Monetário Internacional (FMI) e da União Europeia, segundo revelou uma pesquisa divulgada ontem pelo jornal Proto Thema, na qual foram ouvidas mil pessoas entre 5 e 7 de maio. A sondagem revela que os gregos estão dispostos a fazer sacrifícios para resolver a crise, conforme prevê o pacote de ajuda de 110 bilhões de euros. Pouco mais de um terço dos gregos (33,2%) disseram preferir que o país saia da crise sozinho, mesmo se tiver que pedir moratória. (MG)