Economia

Em 2010, Brasil deve ter a maior expansão econômica desde 1986

Vânia Cristino/ Especial Estado de Minas
postado em 11/05/2010 07:20

O Brasil pode ter, em 2010, o maior crescimento econômico dos últimos 24 anos. Com a previsão de inflação em alta ; uma aposta que já dura 16 semanas ;, o mercado financeiro passou a projetar expansão de 6,26% para o Produto Interno Bruto (PIB), taxa que não se vê deste 1986, ano do Plano Cruzado. Até a semana passada, os quase 100 analistas e consultores ouvidos pelo Banco Central, por meio da pesquisa Focus, estimavam avanço de 6,06%. Foi a oitava revisão seguida.

O problema dessa pujança toda, segundo os economistas, é que ela não é sustentável, pois pode vir acompanhada de um surto inflacionário, o qual o Banco Central já está tentando evitar por meio do aumento da taxa básica de juros (Selic), que passou de 8,75% para 9,50% ao ano. Para o economista-chefe da Personale Investimentos, Carlos Thadeu Filho, é preciso ter cautela e não se deixar contaminar pela euforia, permitindo que a situação corra frouxa somente porque este é um ano de eleição e o governo está empenhadíssimo em fazer da petista Dilma Rousseff a sucessora do presidente Lula.

Na avaliação de Thadeu, quando se analisa detalhadamente os atuais números da economia, percebe-se distorções, mas nada que seja motivo de alarde, pelo menos por enquanto. ;Não estamos diante de uma bolha de crescimento;, afirmou. ;Na verdade, o que vemos é uma recuperação cíclica da atividade depois do forte tombo provocado pela crise mundial. Acredito que, ao longo do tempo, o crescimento perderá parte do fôlego, até porque o BC tenderá a pesar a mão para levar a inflação ao centro da meta, de 4,5%;, acrescentou. ;O tamanho e a intensidade do aperto monetário será maior, com a Selic ficando entre 13% e 14%.;

Para o economista da Personale, o Brasil só teria capacidade para crescer por um período prolongado a taxas superiores a 6% ao ano se os investimentos produtivos fossem mais fortes. ;Infelizmente, não é o que se vê. Bastou o país deixar a crise para trás para que o uso da capacidade instalada da indústria encostasse no limite;, ressaltou. A seu ver, com o atual tamanho do parque produtivo brasileiro só é possível crescimento entre 3,5% e 4% ao ano para que a inflação fique próximo ao centro da meta. ;Acima disso, a expansão do PIB deixa de ser benéfica, com a economia passando a sofrer efeitos colaterais;, frisou

Resistência


O economista-chefe do Banco Schahin, Sílvio Campos Neto, é da mesma opinião. No seu entender, há muitos problemas no supercrescimento da economia, principalmente quando se olha para as contas públicas. O governo está gastando demais, tornando o consumo excessivo. ;O ideal seria que o governo tivesse um papel neutro e o ritmo da atividade fosse ditado pelo setor privado, capitaneado pela indústria. Mas, da forma como está hoje, o crescimento acima de 6% não é sustentável. Gera desequilíbrio e leva à inflação e ao aumento do deficit nas contas externas (pela necessidade de mais importação);, observou.

Como o governo ainda tem se mostrado bastante reticente em relação ao corte de gastos ; apesar das declarações do ministro da Fazenda, Guido Mantega, nesse sentido (veja texto nesta página) ; Campo Neto disse que o ônus do ajuste ficará a cargo do BC. ;Não será surpresa nenhuma se o Banco Central for obrigado a fazer um ajuste mais intenso por um período mais longo;, ponderou. O economista, inclusive, já reviu para cima o aumento da carga de juros. ;Vai subir pelo menos três pontos, podendo ultrapassar esse patamar;, afirmou.

É esse aumento mais forte dos juros que leva economistas a resistirem em rever a estimativa de crescimento para o PIB em 2011 ; ela se mantém em 4,5% há 22 semanas. Em meio a esse quadro, a projeção de inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para este ano subiu de 5,42% para 5,50%. E, para o ano que vem, em 4,80%.

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