postado em 11/05/2010 07:23
Ao mesmo tempo em que mercado amplia as projeções de crescimento econômico para o Brasil neste ano, a inflação não dá trégua. Segundo as primeiras prévias de maio, tanto o Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) quanto o Índice Geral de Preços Mercado (IGP-M) voltaram a se acelerar, superando os resultados computados em igual período de abril.Pelas contas da Fundação Getulio Vargas (FGV), o IGP-M marcou 0,78%, ficando 0,02 ponto percentual acima da última avaliação. O IPC-S passou de 0,27% para 0,47%. O que assuntou os analistas foi a disseminação dos aumentos de preços. Não se vê mais reajustes por problemas pontuais, como chuvas em excesso ou seca. O que se observa é inflação de demanda, provocada por consumo superaquecido e incapacidade da indústria de garantir o abastecimento.
No levantamento da FGV, dos sete grupos de despesas que compõem o IPC-S, cinco ficaram mais caros. Os destaques foram os itens relacionados à educação e, principalmente, à saúde e aos cuidados pessoais. O reajuste dos remédios, no último mês, teve impacto forte no indicador. Se, em abril, os remédios foram remarcados em 2,48%, neste mês, o aumento atingiu 3,04%. O grupo alimentação, a despeito de ter desacelerado, subiu 1,66%, puxado pela batata-inglesa e o feijão carioquinha, com altas de 22,13% e 36,46%, respectivamente.
Diante de tanto reajustes, a indústria está batendo recordes de faturamento. ;Com a demanda aquecida, as empresas não estão segurando o repasse de custos. Os insumos do setor pressionaram fortemente a primeira prévia do IGP-M;, destacou Eduardo Otero, economista da Um Investimento. As matérias-primas brutas apontaram alta de 0,52%. Os materiais e componentes para a manufatura ficaram 0,72% mais caros. ;Todo esse movimento reflete o forte crescimento econômico;, acrescentou.
Agora, Mantega admite frear gasto
A despeito de contestar as projeções do mercado financeiro, apontando para um supercrescimento do país neste ano, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que o governo está pronto para conter o ritmo da atividade, ao retirar mais estímulos da economia, inclusive com a redução do consumo do setor público. Segundo ele, não há nada que justifique um aquecimento acima do esperado. ;A economia já voltou a crescer nos níveis pré-crise. Alguns dizem que há superaquecimento. Não sei se há. Mas, com certeza, a economia está aquecida;, afirmou ele, durante o seminário Brazil Infrastructure Summit, realizado no Rio de Janeiro.
Mantega lembrou que foi justamente a preocupação com o equilíbrio do crescimento que levou o Banco Central a aumentar taxa básica de juros em 0,75 ponto percentual (de 8,75% para 9,50% ao ano), bem acima do que fizeram vários países. ;Então, já há uma desativação dos estímulos (dados pelo governo) e continuaremos reduzindo-os, se necessário, inclusive para diminuir a demanda do setor público para que tenhamos um crescimento equilibrado neste ano e nos seguintes;, ressaltou.
Ao detalhar como seria a ajuda do governo para reduzir o consumo, o ministro assinalou que é possível cortar programas de custeio dos ministérios. ;Estamos estudando a possibilidade de reduzir o consumo do governo, mas temos que olhar com cautela. Se for confirmado um crescimento bem mais forte do que esperamos, acima de 6%, podemos reduzir os gastos correntes de ministérios;, frisou. Ele fez questão de ressaltar, porém, que o possível arrocho nas despesas não atingirá o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), principal vitrine da candidata petista à Presidência da República, Dilma Rousseff. ;Vamos manter todo o programa de investimentos do PAC, senão criamos gargalos. Os programas sociais também serão mantidos;, emendou.
Nas contas de Mantega, a demanda doméstica vem mostrando crescimento entre 8% e 8,5% e a redução desse ritmo, se necessário, ocorrerá por meio do setor público e não do privado. Ele
destacou ainda que a boa notícia é o fato de os investimentos produtivos terem retornado aos níveis de antes do estouro da bolha imobiliária americana, em setembro de 2008, avançando de 18% a 20% neste ano, o que levará a taxa de investimento (formação bruta de capital fixo) para 18,5% do Produto Interno Bruto (PIB) contra os 16,7% em 2009. ;Não há nenhuma probabilidade de formação de bolhas no Brasil;, enfatizou.
R$ 850 bi em projetos
Estudo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aponta que serão investidos cerca de R$ 850 bilhões entre 2011 e 2014 no Brasil, informou ontem o presidente da instituição, Luciano Coutinho. Segundo ele, o levantamento é uma atualização dos dados feitos antes da derrocada da economia mundial, em setembro de 2008. À época, projetavam-se desembolsos de R$ 770 bilhões no país entre 2010 e 2013.
Coutinho assinalou que o novo estudo já sinaliza uma recuperação do setor exportador brasileiro, que pretende expandir seus investimentos no período. ;Há um aumento dos investimentos tanto na indústria, quanto na infraestrutura. O volume quadrienal hoje já supera o total de investimentos pré-crise;, frisou. A novidade, emendou ele, é que os investimentos para o mercado externo estão indo bem em função, sobretudo, da melhora dos preços das commodities (mercadorias com cotação internacional).
Otimista, Coutinho assegurou que, caso o mapeamento do BNDES se concretize, os investimentos no Brasil crescerão, em média, 10% ao ano no próximo quadriênio, garantindo a estabilidade(1). ;Vamos dar maior publicidade ao mapeamento em breve;, disse, adiantando que uma das alavancas dos investimentos será o setor de petróleo e gás, além de projetos voltados para o mercado interno e para ferrovias e rodovias. Apenas o setor de infraestrutura deverá abocanhar R$ 310 bilhões.
Esses números não endossam, porém, os exageros do mercado nas projeções de crescimento para o Brasil neste ano. Para o presidente do BNDES, ainda que o país tire proveito da crise na Europa, a perspectiva é de que as turbulências originadas na Grécia reduzam um pouco a atividade no país, que está muito aquecida.
1 - Bancos sólidos
O mercado bancário brasileiro, que vive um período de forte expansão do crédito, não corre riscos de entrar em colapso, pois está supercapitalizado e com forte regulação. Mesmo em cenários de grande estresse, até maiores do que o atual, com o agravamento da crise europeia, a situação é de tranquilidade, segundo o Relatório de Estabilidade Financeira preparado pelo Banco Central. Foram analisadas instituições financeiras que somavam R$ 2,76 trilhões em ativos e carteira de crédito de R$1,22 trilhão. Ambos os valores representam, no fim do ano passado, 86% do total do Sistema Financeiro Nacional. Para o BC, houve uma melhora importante na qualidade dos empréstimos feitos pelos bancos devido à retomada da atividade econômica.