postado em 15/05/2010 16:08
O corte adicional de R$ 10 bilhões nas despesas de ministérios e empresas estatais anunciado na quinta-feira pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, vai se transformar em economia para o pagamento de juros da dívida pública. Segundo cálculos da consultoria LCA, o arrocho fiscal vai ajudar a engordar o superavit primário do governo (resultado da arrecadação menos os gastos excluindo o pagamento de juros) em pelo menos 0,3 ponto percentual.A medida também ajudaria o Banco Central (BC) na tarefa de levar a inflação para um patamar mais baixo. E ainda pode resultar em uma redução de 0,75 ponto na taxa básica de juros, a Selic. ;Isso quer dizer que, caso deseje, o BC terá a opção de não aumentar os juros para além da conta;, disse o economista Bráulio Borges, autor do estudo.
Para chegar aos números, a equipe de economistas da LCA levou em consideração o que chamaram de efeito multiplicador. Ao efetuar uma despesa, o ente público contribui para o crescimento econômico diretamente, com o valor desembolsado, e indiretamente, com o impacto que a riqueza gerada terá na vida das pessoas. ;Ao se fazer uma obra, por exemplo, tudo vira riqueza, do dinheiro gasto no empreendimento aos salários pagos aos operários;, explicou Borges. Por isso, os R$ 10 bilhões que deixarão de ser gastos vão gerar uma redução no crescimento econômico da ordem de R$ 14 bilhões ou 0,4% do Produto Interno Bruto (PIB).
Efeito colateral
Apesar do corte, nada garante que o BC vá interromper o ciclo de aperto dos juros iniciado na última reunião do Conselho de Política Monetária (Copom), quando os diretores decidiram pela elevação da Selic em 0,75 ponto percentual. ;Para que o Banco Central não tivesse que subir juros, o superavit primário teria de ser de 4% do PIB, e não de 3,3%. Agora, é fato também, que esse arrocho vai ajudar a colocar a economia em uma trajetória mais moderada de crescimento, o que ajuda a diminuir a necessidade de alta mais intensa dos juros;, ponderou Borges.
Serra: ;Corte pode ser espuma;
O pré-candidato à Presidência da República José Serra (PSDB) e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, travaram um debate pela imprensa ontem em torno do corte de R$ 10 bilhões no Orçamento anunciado na quinta-feira. Serra questionou se a redução não passa de ;espuma;, enquanto em nota Mantega ironizou ao afirmar que ;nós não costumamos cortar espuma, nem fazer onda;.
;Eu não posso comentar, se eu não sei o que vão cortar. Temos que ver onde vão cortar para poder analisar. Precisa ver se é corte de verdade ou espuma;, disse Serra, no Rio de Janeiro.
O governo divulgou na quinta-feira um corte adicional de R$ 10 bilhões de reais do Orçamento deste ano com o objetivo de esfriar a economia brasileira. Em março, as autoridades já haviam anunciado uma contenção de R$ 21,8 bilhões nas despesas de ministérios e empresas estatais.
;O ex-governador de São Paulo, José Serra, pode ficar tranquilo. A redução adicional de gastos de custeio de R$ 10 bilhões é para valer e para atenuar a demanda pública, num momento em que a economia está aquecida;, reagiu Mantega em nota enviada à imprensa. Segundo o ministro, o corte faz parte de um movimento anticíclico semelhante ao realizado em 2008, quando foi criado o Fundo Soberano e houve uma poupança de R$ 14 bilhões.
Mantega reiterou que os detalhes da redução de gastos serão informados até 31 de maio e ainda alfinetou Serra afirmando que o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, de 1995 a 2002, do qual ele foi ministro, não realizava superavits primários. ;O ex-governador de São Paulo deveria estar feliz por nosso governo estar fazendo superavit primário há sete anos e meio seguidos, ao contrário do governo anterior, do qual ele foi ministro do Planejamento, quando não se fez nenhum superavit primário;, disse na nota.