Economia

Eventual retirada da Grécia da Zona do Euro ajudaria na recuperação econômica do país

Mas afetaria diretamente Portugal e Espanha. Segundo especialistas, a decisão abalaria o mercado financeiro e poderia significar o início do fim da União Europeia

Marcone Gonçalves
postado em 16/05/2010 11:04
Impensável há pouco meses até pelos mais pessimistas dos analistas, a possibilidade de implosão da Zona do Euro está cada vez mais presente nos debates travados nos mercados financeiros. O início do fim da União Europeia, considerada a mais sólida aliança econômica, comercial e política da História, criada com base na cooperação entre povos, pode começar pela Grécia, que, mesmo depois de ter sido socorrida com 110 bilhões de euros, continua na berlinda. As pressões internas para que aquele país abandone a moeda comum e ressuscite o dracma ; ou mesmo crie uma nova divisa ; aumentam a cada dia. Para especialistas, esse recuo poderia ajudar na recuperação da economia grega. Mas seria um desastre para os seus pares.

As versões que apontam para a saída da Grécia da Zona do Euro dividem opiniões, marcadas pelo ceticismo e pela preocupação. Na avaliação de Fernando Cardim, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ela representaria uma hecatombe de consequências desastrosas. ;Se a quebra do banco americano Lehman Brothers foi uma bomba atômica que resultou na pior crise econômica em quase 80 anos, uma possível saída da Grécia da Zona do Euro poderá ter um efeito ainda maior sobre os mercados financeiros;, afirma.

O professor da UFRJ acredita que abandonar o euro agravaria a já combalida economia grega, pois ninguém confiaria em um país expulso da aliança. Para o continente, então, a medida mostraria que o sistema monetário não consegue acomodar um desequilíbrio interno. ;Se o euro não tiver uma estrutura de sustentação, não há nada que vá segurar as economias. O desastre será monumental;, emenda.

Para Cardim, ;a saída da Grécia da Zona do Euro mataria imediatamente Portugal e Espanha; e mostraria que a estrutura de ajuda criada há uma semana ; um pacote de 750 bilhões de euros para evitar o colapso da moeda ; não funciona. No entender do economista, os gregos poderiam ter resultados positivos a longo prazo se decidissem retomar sua moeda. ;O problema é que, como diria Keynes (economista da linha desenvolvimentista, muito citado no governo Lula), a longo prazo, estaremos todos mortos. Ninguém resistiria ao curto prazo;, acrescenta.

Menos pessimista, Carlos Thadeu de Freitas Gomes, ex-diretor da Dívida Pública do Banco Central, crê que os gregos seguiriam um roteiro parecido com o vivido pelos argentinos quando acabaram com a paridade do peso com o dólar. O resultado foi a corrida aos bancos, estabelecimento de limites para saída de recursos do país e até confisco, ao mesmo tempo em que houve uma renegociação de dívidas com perdas para todos os lados. ;A situação grega é sanável. E o exemplo da Argentina não é ruim, pois já registra crescimento econômico há três anos ;, afirma.

"Se o euro não tiver uma estrutura de sustentação, não há nada que vá segurar as economias. O desastre será monumental;
Fernando Cardim, professor da UFRJ

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