Jornal Correio Braziliense

Economia

Empregos formais batem recordes

Postos de trabalho criados em quatro meses de 2010 já é quase o total de todo o ano passado. Governo amplia estimativas

O Brasil acumulou um saldo de 962.327 empregos formais criados entre janeiro e abril, estoque equivalente a quase todo o contabilizado no ano passado inteiro (995.110). Os bons resultados da economia, que se recuperou dos abalos da crise internacional com a expansão do crédito e do ganho das famílias, garantiram recordes históricos tanto para o primeiro quadrimestre do ano como para meses de abril, que terminou com a geração de 305.068 vagas. Os dados são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), apurados pelo Ministério do Trabalho (MTE) e divulgados ontem. O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, reavaliou a estimativa do saldo de ocupações com carteira assinada, que passou de 2 milhões para 2,5 milhões. ;O comportamento nos três primeiros meses da agricultura, indústria e serviços me deixam seguro para ampliar a expectativa;, disse. Para maio, a projeção do ministro é mais modesta: entre 240 mil e 280 mil postos. Lupi também explicou a evolução ascendente da curva de emprego neste início de ano. ;Estão sendo ocupadas as vagas dos demitidos em 2009 e aquelas que atendem ao aquecimento da demanda dos últimos tempos;, disse, ao se referir, principalmente, à indústria de transformação. Esse setor avançou 1,09% em abril, em comparação com março, resultado que ficou atrás somente da agricultura (2,63%). A construção civil também acumula saldo positivo: 1,61% no mês passado e 14,07%, em 12 meses. Entre todos os ramos industriais, o segmento de calçados merece destaque. No ano passado, os calçadistas (1) foram atingidos em cheio pela queda nas vendas e pela concorrência com produtos asiáticos. Em recuperação, tiveram a maior alta do quadrimestre (10,21%). Serviços O setor de serviços também colaborou positivamente para a geração de emprego no acumulado do no ano (0,72%). Essa fatia da economia foi responsável pelo maior volume de vagas por três meses consecutivos: 96.583 (abril), 106.395 (março) e 85.607 (fevereiro). ;Quando os trabalhadores passam a ganhar mais, seja porque o salário está melhor ou porque há emprego, passa a existir mais demanda, aquecendo a produção industrial e, por consequência, o consumo de serviços;, detalhou Lupi. Por motivos semelhantes, mas de forma mais tímida, o comércio mostra sinais de recuperação dos níveis pré-crise ao acumular altas entre janeiro e abril. Tanto o varejo quanto o atacado tiveram volumes recordes no último mês: 34.015 e 6.710, respectivamente. Lupi tratou com ressalvas as medidas adotadas pela equipe econômica para conter a inflação, como o aumento na taxa de juros e o corte de R$ 10 bilhões no Orçamento. ;A China tem índices de crescimento de dois dígitos e ninguém pede para que ela cresça menos. O nosso país tem que acabar com o complexo de inferioridade;, criticou. Para ele, não há risco de o país cair na armadilha do aumento de preços. ;O consumidor sabe valorizar seu salário porque sabe que o único que perde com a inflação é o assalariado;. Ainda assim, ele ponderou que não há razões para confrontar as definições do Banco Central e do Ministério da Fazenda. ;Garanto que não vão existir cortes nos investimentos já planejados. O que serão reduzidos são as contas de custeio e os novos investimentos;, disse. 1 - Recuperação do setor A indústria de calçados viu o volume de importações brasileiras de sapatos chineses chegar a US$ 153,3 milhões, entre setembro de 2008 e março de 2009. O volume de negócios atingiu negativamente a produção nacional. Com faturamento em baixa, as fábricas calçadistas reduziram consideravelmente a quantidade de funcionários. A reação do governo brasileiro foi taxar a importação do produto, o que resultou na queda das compras chinesas para US$ 81,7 milhões entre setembro de 2009 e março deste ano. Com isso, nos últimos seis meses, a indústria está recompondo seus quadros. Ouça trecho de entrevista com o ministro do Trabalho, Carlos Luppi