postado em 19/05/2010 09:03
A União Europeia (UE) resolveu partir para um contra-ataque, depois de assistir inerte à erosão acentuada do valor da moeda única ; o euro ; nas últimas semanas. Reunidos em Bruxelas, os ministros das Finanças dos 27 países da UE chegaram a um acordo sobre a necessidade de impor restrições mais rígidas a fundos de hedge e a empresas de private equity, contou a ministra das Finanças da Espanha, Elena Salgado. Mas quem saiu na frente foi a Alemanha, que ontem mesmo anunciou planos de proibir vendas a descoberto de ações e de títulos públicos nas 10 principais instituições financeiras do país. É uma forma de limitar as apostas contra a desvalorização da moeda, já que agora, para vender no mercado financeiro, o investidor tem que possuir o papel, ao contrário do que acontecia até agora, quando era só vender e torcer para que o preço caísse de maneira a desestimular o comprador a levar o produto por um preço mais caro do que o encontrado no mercado.Na verdade, o ministro de Finanças Wolfgang Schaeuble planejava acabar com esse tipo de operações a partir da meia-noite de ontem. Outros diziam que a chanceler alemã, Angela Merkel, anunciaria a proibição nesta quarta-feira. O fato é que a notícia vazou, obrigando o governo alemão a uma confirmação por meio de um porta-voz do Ministério das Finanças. ;A proibição vale a partir da meia-noite;, afirmou o porta-voz. Ele disse ainda que a restrição de vendas a descoberto também valerá para transações com bônus de governos da Zona do Euro bem como para credit default swaps (CDS) sobre títulos dos países da Zona do Euro.
Desespero
;Isso (a proibição de vendas a descoberto) tende a sugerir desespero por parte das autoridades alemães que querem desencorajar o que consideram ataques especulativos na Zona do Euro, os mercados financeiros;, disse Michael Malpede, analista da Easy Forex, em Chicago. ;O humor dos investidores é muito ruim, mas eu ainda acho que estamos em um momento de correção, já que o mercado é muito exagerado.;
A pressa do governo alemão em conter o ataque especulativo contra o euro pode ter como pano de fundo a quebra da confiança de investidores e analistas, demonstrada em pesquisa divulgada ontem. O indicador do instituto econômico ZEW recuou para 45,8 em maio ante 53,0 em abril. Os economistas acreditavam que o índice cairia para 47,0. Desespero ou não, o fato é que a medida alemã teve reflexo imediato no mercado. O custo do seguro da dívida de governos europeus contra um potencial calote recuou depois do anúncio pela Alemanha de seu plano. Os credit default swaps (CDS) da dívida do governo alemão cediam 5 pontos básicos, para 44 pontos; os portugueses recuavam 9 pontos básicos, para 271 pontos; e os da Itália caíam 6 pontos básicos, atingindo 136 pontos.
Enquanto a Alemanha partia para o enfrentamento aos especuladores, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, e o primeiro-ministro espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, consideravam vital acelerar a implementação das medidas de estabilização da Zona do Euro, de acordo com uma fonte do governo espanhol. ;Eles concordaram que é importante acelerar a implementação das medidas tomadas há alguns dias para devolver a confiança aos mercados;, disse a fonte, em referência ao plano de 750 bilhões de euros.
Era um respaldo aos ministros das Finanças que estavam reunidos em Bruxelas trabalhando nos últimos detalhes do pacote de resgate da região. Mas rumores de que haveria ;diferenças; entre Alemanha e França sobre como usar o mecanismo de ajuda chegou a circular pelo mercado, forçando o ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schaeuble, a amenizar. ;São mais aspectos técnicos que diferenças (entre os países);, afirmou ele. Na sexta-feira, eles voltam a se reunir em Bruxelas para discutir políticas de longo prazo.
Grécia recebe socorro de R$ 44,5 bilhões
A Grécia recebeu ontem empréstimo de 14,5 bilhões de euros (R$ 32,4 bilhões) da União Europeia (UE), dinheiro que será usado para quitar dívidas em bônus de 10 anos que vencem hoje. A liberação do socorro provocou alívio entre os investidores, que temiam um calote imediato. Mas a preocupação com a economia grega permanece latente. Há muito por ser feito pelo país para sair da recessão na qual está mergulhado.
Segundo o Ministério das Finanças da Grécia, com esses recursos, mais os 5,5 bilhões (R$ 11,5 bilhões) recebidos do Fundo Monetário Internacional (FMI), o país reforçou seu caixa em US$ 20 bilhões (R$ 44,5 bilhões), um lote pequeno perto dos 110 bilhões de euros (R$ 245,6 bilhões) prometidos como ajuda. ;A Grécia não tem mais a ânsia por liquidez. Agora, não precisa ir aos mercados para tomar emprestado e pagar salários e aposentadorias;, disse Gikas Hardouveli, economista do EFG Eurobank, à agência Reuters.
Pelo acerto com a UE, a Grécia pagará juros de cerca de 5% ao ano, bem abaixo das taxas de mais de 7% cobradas pelo mercado em bônus gregos com vencimento em três anos. Ainda que menor, esse custo foi criticado pelo presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet. Para ele, os países europeus deveriam ter sido mais generosos, o que ajudaria a consolidar a confiança (1)de que estão todos unidos na operação de resgate do euro.
Contágio
Mas, mesmo que tenha ganhado algum tempo, a Grécia ainda precisa convencer os mercados de que pode controlar seus deficits públicos para, um dia, poder tomar recursos emprestados novamente. ;O programa de socorro foi criado para que a Grécia possa ficar longe dos mercados financeiros até o fim de 2011 e o primeiro trimestre de 2012. Contudo, não esperamos que esse seja o caso. Nós queremos voltar aos mercados muito antes disso;, disse o ministro das Finanças grego, George Papaconstantinou.
O objetivo maior dos dirigentes europeus ao estenderem as mãos à Grécia foi evitar o contágio por todos os países da Zona do Euro. Está certo, porém, que Portugal e Espanha necessitarão de ajuda do bloco, pois os investidores ainda estão observando Atenas para ver se seu plano de austeridade realmente excluirá a possibilidade de moratória.
1 - Meirelles na expectativa
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou que a grande volatilidade que está atingindo os mercados globais continuarão até que as medidas definidas pela Zona do Euro sejam implantadas. ;Estamos vivendo em um período de volatilidade;, afirmou. ;Isso é natural até que o plano seja claramente definido;, acrescentou, referindo-se às medidas de austeridade anunciadas pela Grécia, pela Espanha e por Portugal.
Mudança na Previdência
Apesar de os sindicatos de trabalhadores alertaram o governo francês sobre os riscos de aumentarem a idade mínima das aposentadoria, como parte de uma reforma do sistema previdenciário e do ajuste das contas públicas, uma pesquisa indicou que a maioria das pessoas vê a medida como necessária. O ministro do Trabalho, Eric Woerth, apresentou no último domingo, antes de encontros com sindicalistas, as linhas gerais da reforma. Entre as propostas estão a revisão da idade mínima de aposentadoria e o aumento de taxas sobre rendas mais elevadas.
Nenhuma das propostas foi detalhada. Sindicatos dizem que vão lutar contra o aumento da idade mínima, atualmente de 60 anos ; uma das mais baixas da União Europeia. ;Isso é uma injustiça;, disse François Chér;que, diretor do sindicato CFDT, que vem sendo cortejado pelo presidente Nicolas Sarkozy, na tentativa de evitar atritos muito grandes sobre a questão. ;O governo hoje não parece querer dar tempo (para chegar a um acordo). Em vez disso, parece que quer fechar a porta;, afirmou.
O sistema previdenciário francês deve fechar este ano com deficit de 25 bilhões de euros (RR 55,8 bilhões). Sem as reformas, o rombo deve alcançar 100 bilhões de euros (R$ 223,3 bilhões) até 2050, segundo o governo. Pela pesquisa de opinião divulgada ontem, 66% das pessoas acreditam que há risco real de falência do sistema previdenciário. O levantamento realizado pela empresa CSA mostra que 64% veem necessidade de algum aumento da idade mínima de aposentadoria, 54% acreditam que essa idade deve ser elevada para 65 anos nos próximos anos.
Desemprego
Em Portugal, com as contas públicas em frangalhos, o índice de desemprego deu um novo salto, atingindo, no primeiro trimestre, 10,6%, o que significou aumento de 1,7 ponto percentual frente ao mesmo período do ano passado. Ao todo, há, naquele país, 592,2 mil pessoas sem emprego, 19,4% a mais do que nos três primeiros meses de 2009. Entre janeiro e março, a economia portuguesa apresentou pequena recuperação, com alta de 1% no Produto Interno Bruto (PIB).