Economia

Alemanha já aplica medidas contra a especulação nos mercados

Agência France-Presse
postado em 19/05/2010 15:23
A Alemanha intensificou o combate à especulação, proibindo nesta quarta-feira (19/5) as apostas na baixa dos preços de papéis por meio de alguns produtos financeiros - uma iniciativa que Bruxelas apoia, mas que prefere seja coordenada em nível europeu.

A autoridade alemã dos mercados financeiros, a BaFin, anunciou na terça-feira (18) a proibição, "a partir da meia-noite", das operações de venda a descoberto, ou "naked short selling", que ocorrem quando um operador vende um título ou derivativo alugado, esperando que seu preço caia para, posteriormente, comprá-lo e lucrar com a operação. A proibição refere-se a títulos públicos de 16 Estados da zona do euro, até 31 de março de 2011.

A BaFin justificou a medida citando a "extraordinária volatilidade dos títulos de dívida dos Estados da zona do euro", que poderá "colocar em perigo a estabilidade do conjunto do setor financeiro". Segundo o presidente do órgão, Jochen Sanio, o risco era "concreto e imediato".

Além dos títulos da dívida soberana, a proibição do regulador alemão afeta a especulação feita com alguns tipos de Credit Default Swaps (CDS, seguros contra a inadimplência no caso de quebra de um país ou empresa) e com as ações de dez instituições financeiras (bancos e seguradoras).

A medida, que nesta quarta-feira derrubou as bolsas europeias e castigou também o euro e o petróleo, tem um alcance apenas simbólico, por ser um caso isolado.

"O grosso do mercado de especulações e de CDS na Europa está em Londres", afirmou à AFP o analista Konrad Becker, da Merck Finck.

A autoridade britânica dos mercados financeiros, a FSA, informou que a proibição aprovada pela BaFin não afeta as atividades das sucursais situadas fora da Alemanha.

A Comissão Europeia informou que apoia a decisão alemã, e convidou os reguladores europeus a estudar uma ação conjunta, segundo o presidente do executivo europeu, José Manuel Durão Barroso.

"Estamos de acordo com a Alemanha sobre a necessidade de frear o uso abusivo" das técnicas de especulação, declarou Barroso em Madri, onde participou, na terça-feira, da VI cúpula entre União Europeia e América Latina.

Contudo, pouco antes, o comissário europeu de Mercado Interior e Serviços Financeiros, Michel Barnier, chamou a atenção da Alemanha, afirmando que, para que essas medidas sejam eficazes, seria necessário uma coordenação europeia.

O comissário disse também que lhe parece "útil" abordar a questão na reunião de ministros das Finanças europeus na sexta-feira em Bruxelas.

A ministra das Finanças francesa, Christine Lagarde, expressou ter reservas sobre a medida alemã, e lamentou que os "Estados envolvidos" não tenham sido consultados.

Segundo a imprensa e diversos analistas, a decisão da BaFin foi ditada levando em conta a política interna.

O governo liberal-conservador de Merkel prometeu atuar para uma maior regulação do setor financeiro até a próxima cúpula do G20, no fim de junho, em Toronto (Canadá), como uma forma de recuperar seu prestígio diante da opinião pública, que viu com maus olhos a contribuição alemã ao plano de ajuda à Grécia.

A decisão foi anunciada nas vésperas do discurso de Merkel diante da Câmara Baixa do Parlamento, onde defendeu a contribuição alemã ao plano da UE e do Fundo Monetário Internacional (FMI) de 750 bilhões de euros para socorrer os países mais endividados da zona do euro. A Alemanha é a principal contribuinte, com 150 bilhões de euros.

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