Economia

Bolsas desabam no mundo

No Brasil, o Ibovespa cai 2,51%, o menor nível em oito meses, aumentando as perdas em maio para 13%. Dólar sobe mais 1%, a R$ 1,862

Vera Batista
postado em 21/05/2010 08:17
O debate entre Alemanha, França e as autoridades da Zona do Euro sobre a melhor forma de regular o mercado financeiro na região ; se em conjunto ou em separado ; provocou mais uma onda de desconfiança nos investidores quanto à melhora da crise fiscal na região e à vida útil do euro. A insegurança e a falta de notícias novas, demonstrando um real compromisso das autoridades no sentido de resgatar a moeda comum, deixaram um rastro de prejuízos ao redor do mundo. ;Estamos reféns desse cenário dúbio que se arvora no front europeu. A falta de notícias é o que desespera o mercado. Não se sabe se eles vão morrer abraçados ou se vai um para cada lado;, afirmou Jankiel Santos, economista-chefe do Banco BES Investimento.

No Brasil, o azedume do mercado não foi diferente. A Bolsa de Valores de São Paulo (BM) fechou em baixa pelo sexto pregão consecutivo. O Ibovespa, índice mais negociado no pregão paulista, encerrou as negociações com baixa de 2,51%, nos 59.192 pontos, o menor nível desde setembro de 2009. Neste mês, a bolsa já perdeu 13,83% de seu valor.

Na Europa, a bolsa da Alemanha ; onde se iniciou o movimento de proibição aos investimentos especulativos ; a queda foi de 2,02%. Na França, primeiro país a reagir contra a medida alemã, as perdas foram de 2,25%. E em Londres, de 2,25%.

Na Ásia, os mercados também não resistiram aos temores relativos ao esfacelamento da moeda única e à sinalização clara de redução do crescimento econômico da China. A bolsa de valores da China encerrou o dia com perdas de 1,23%. No Japão, a baixa foi de 1,54%. E em Hong Kong a queda foi de 0,17%. Diante desse quadro desastroso, o comissário de Concorrência da UE, Joaquín Almumia, não poupou críticas à Alemanha e disse que qualquer medida regulatória só teria sentido se fosse tomada em conjunto.

Ajudou a puxar o mercado para baixo o desempenho ruim da economia americana. Nos EUA, o índice de novos trabalhadores que entraram pela primeira vez com pedido de auxílio desemprego aumentou em 25 mil, para 471 mil, um susto para os analistas que esperavam uma queda de 4 mil. Resultado: o Índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, fechou em queda de 3,6%.

;O mercado está corrigindo o otimismo patrocinado pela injeção de capitais durante a crise das subprimes (2008). O mundo começa a pagar a conta. É o que os analistas chamam de movimento em W. Estamos no segundo mergulho do W;, explicou Mário Paiva, analista da Corretora Liquidez, ao explicar que a onda de aversão ao risco motivada pela instabilidade na Europa provocou a segunda alta consecutiva do dólar, que fechou a R$ 1,862, o maior patamar desde fevereiro, com valorização de mais de 1%. No mês de maio, a moeda americana já subiu 7,14%. E no ano, a alta alcança 6,77%.

Parceiros em paz

Depois de um puxão de orelhas do Fundo Monetário Internacional (FMI), Alemanha e França resolveram conversar para afinar o discurso e coordenar suas ações em defesa da moeda única europeia, o euro. No dia seguinte à decisão alemã de banir os especuladores de seu mercado financeiro, o diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, partiu em defesa da unidade e afirmou que a Europa precisa de uma coordenação de política econômica mais forte. ;A ideia de que você pode ter uma moeda comum e cada um poder fazer o que quiser é falsa;.

E continuou: ;você precisa de um instrumento para fazer as políticas consistentes. A França pode chamar isso de governança econômica e a Alemanha, de Pacto de Estabilidade. Não faz diferença como se chame;. Por fim, lembrou que o crescimento na Europa está ;muito baixo;, em parte devido à fraca produtividade. ;A Alemanha e outros países precisam urgentemente comprometer-se com algo para acelerar o crescimento;, concluiu Strauss-Kahn.

O pito do FMI, dado publicamente por meio dos jornais alemães, alcançou seu objetivo. A chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, Nicolas Sarkozy, conversaram e decidiram coordenar os esforços de suporte do euro tomadas por seus países. Eles acordaram ainda que trabalharão juntos nas próximas cúpulas. ;Eles concordaram que Alemanha e França coordenarão de perto uma com a outra, na reunião que começa em 21 de maio em Bruxelas;, disse o porta-voz de Merkel, Ulrich Wilhelm.

Falta de confiança
O entendimento foi feito no dia em que a Comissão Europeia divulgou uma estimativa da confiança do consumidor na Zona do Euro, que caiu com força em maio. O indicador caiu de -15 em abril para -17,5 em maio nos 16 países que usam o euro. Em toda a União Europeia, com 27 países, a confiança caiu de -12,3 em abril para -14,7 em maio.

Em meio ao ceticismo da população, a chanceler alemã voltou a defender ações com o objetivo de proteger o euro. Ela reiterou que restaurar a confiança no euro é sua ;prioridade; e exigiu uma regulação mais forte para proteger a moeda única e ação conjunta da União Europeia para retirar as medidas de estímulo à economia. Merkel afirmou que os problemas da Zona do Euro precisam ser cortados pela raiz, dizendo que as regras da região precisam ser endurecidas.

Mais uma vez, o FMI saiu em campo para aparar as arestas. Dominique Strauss-Kahn, em entrevista a um canal francês, disse que a Alemanha e a França não devem buscar reduzir rapidamente seus deficits orçamentários pois isso poderia debilitar o crescimento. E voltou a afirmar que a Zona do Euro precisa de uma governança econômica forte e de uma política de crescimento para superar a atual crise. Declarando não discordar da necessidade de Grécia, Portugal e Espanha diminuírem suas dívidas, Strauss-Kahn disse estar preocupado com os planos de austeridade de outros países da Zona do Euro.

Para Fundo, Europa não é Lehman
É improvável que os problemas de dívida na Europa se transformem em uma crise de crédito global similar à que seguiu o colapso do Lehman Brothers, em 2008, disse um diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI). Nicolas Eyzaguirre, presidente do Departamento para o Hemisfério Ocidental do Fundo, acrescentou que a América Latina sofrerá somente um ;leve; impacto da crise na Zona do Euro conforme a aversão ao risco cresce globalmente. ;Vamos enfrentar alguma instabilidade porque essa não é uma recuperação rápida, mas não é como um pós-Lehman porque a capacidade da comunidade mundial de acertar medidas para estabilizar os mercados ;está aí;, afirmou ele, ponderando ainda que a economia europeia vai sofrer os efeitos da crise de dívida por muitos anos, à medida que uma combinação de elevados níveis de endividamento, baixa competitividade e cortes de gastos pelos governos levarão a um crescimento débil.


China quer dar lição

A crise de dívida da Europa revelou a fragilidade das finanças globais e os Estados Unidos precisam controlar seu deficit fiscal, afirmou uma autoridade chinesa ontem.

Enfrentando críticas por parte dos EUA sobre sua moeda, o assistente do Ministério das Finanças, Zhu Guangyao, mudou a atenção para as preocupações chinesas sobre os problemas da Zona do Euro e a dívida norte-americana.

China e Estados Unidos realizam na próxima semana um Diálogo Econômico e Estratégico.

Mais controle
A prioridade da economia global deve ser as condições financeiras na Europa após a crise grega, acrescentou ele, dizendo que os Estados Unidos também precisam controlar sua situação fiscal.
;A crise de dívida soberana europeia é um desafio não apenas para os países que são parte dela, como a Grécia. De fato, é um desafio para a estabilidade de todo o mercado internacional.;

;Notamos que o presidente (dos EUA, Barack) Obama e o secretário do Tesouro (dos EUA, Timothy) Geithner enfatizaram que estão prestando atenção ao problema do excessivamente alto deficit dos Estados Unidos;, acrescentou Zhu, notando que o assunto também é de preocupação para a China.

Novo plano espanhol

O governo socialista espanhol aprovou na noite de ontem (hora de Madri) um decreto-lei com medidas adicionais de austeridade para economizar 15, 25 bilhões de euros em 2010 e 2011 e reduzir o alto deficit público, que inclui o corte salarial dos funcionários públicos, anunciou a vice-presidenta María Teresa Fernández de la Vega. O deficit em 2009 foi de 11,2% e deverá cair para 9,3% este ano e 6% em 2011.

O plano, que deve ser ratificado pelo Parlamento, inclui a redução do salário dos funcionários em uma média de 5% neste ano e seu congelamento em 2011, além do congelamento das pensões e aposentadorias em 2011 e a supressão do chamado ;cheque bebê;, de 2.500 euros por cada nascimento, entre outras iniciativas.

A Espanha registrou no ano passado um deficit público de 11,2% do PIB, após três anos seguidos de superavit crescente antes da crise econômica mundial, e comprometeu-se a colocá-lo abaixo dos 3%, limite fixado pela Zona do Euro em 2013.

As medidas tomadas ontem se somam ao plano de economia de 50 bilhões de euros em três anos anunciado pelo governo socialista em janeiro, mas os temores nos mercados de que ele não fosse suficiente para sair da crise, além da pressão da União Europeia (UE), levaram Madri a adotar medidas para este mesmo ano e para o próximo.

Os funcionários, que fizeram manifestações em várias cidades da Espanha, convocaram uma greve para 8 de junho.

Ontem também o governo espanhol revisou para baixo sua previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2011 de 1,8% para 1,3%, devido ao impacto do plano de austeridade(1) fiscal adotado para reduzir o rombo nas contas públicas, informou a Ministra da Economia, Elena Salgado.

Arrocho na Itália
O governo da Itália quer apresentar em 25 de maio um plano de dois anos para reduzir o deficit, afirmou uma fonte governamental. ;Queremos aprovar o plano no gabinete na terça-feira da semana que vem;, disse a fonte, acrescentando que as medidas seriam explicadas a centrais sindicais na segunda-feira. Nesta semana, o ministro da Economia, Giulio Tremonti, disse que o plano, que pretende reduzir o deficit em 13 bilhões de euros no ano que vem e em um montante similar em 2012, vai atacar a sonegação fiscal e a concessão indevida de benefícios.

1 - Agora é a vez da Inglaterra
A nova coalizão da Grã-Bretanha prometeu que fará da redução do deficit sua prioridade, dizendo que também vai implementar um imposto bancário e controlar os bônus no setor financeiro. Detalhando o programa elaborado rapidamente na semana passada após as eleições, a aliança dos partidos Conservador e Liberal Democrata afirmou que uma comissão independente buscará a separação do sistema bancário de varejo e de investimento.

O número
15,25 bilhões de euros
Volume das medidas adicionais de ajuste aprovadas ontem pelo gabinete espanhol

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